10 filmes mexicanos que você precisa assistir

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Não há mais como ignorar o cinema mexicano. Ao longo da história, diversos mexicanos ficaram famosos no mundo do cinema, mas eles estão cada vez mais presentes e mais poderosos.

Se antigamente havia Anthony Quinn, Cantinflas e Buñuel, hoje não faltam, entre atores, Gael García Bernal, Salma Hayek e Demián Bichir; ou entre diretores, os três amigos Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Alejandro González Iñárritu; ou entre diretores de outras funções, o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, por exemplo, vencedor dos dois últimos Oscars.

Em particular, temos as temporadas de 2006, 2013 e 2014, como provas definitivas de que o México tem talento de sobra no cinema.

Em 2006, foram lançados Filhos da Esperança (Children of Men), O Labirinto do Fauno (El labirinto del fauno) e Babel, de Cuarón, del Toro e Iñárritu, respectivamente. Os três marcaram presença importante no Oscar do ano seguinte, conseguindo, juntos, 16 indicações, sendo 10 profissionais mexicanos indicados (incluindo Fernando Cámara pela mixagem de som de Apocalypto).

Em 2013, o Círculo de Fogo (Pacific Rim) de del Toro fez mais de 400 milhões de dólares em bilheterias pelo mundo, enquanto o Gravidade (Gravity) de Cuarón não só esteve entre as maiores arrecadações do ano – 716 milhões de dólares -, como ganhou 7 Oscars no ano seguinte, incluindo o de Melhor Diretor. Isso me fez chamar a atenção, ano passado, para o potencial do país na sétima arte.

E em 2014, o Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman Or (The Unexpected Virtue of Ignorance)) de Iñárritu começou seu caminho até ganhar 4 Oscars, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Portanto, selecionamos 10 filmes mexicanos para você ver e não ficar por fora do cinema do país que parece estar ganhando muito espaço em Hollywood.

Não Aceitamos Devoluções (No se aceptan devoluciones, 2013)

Essa comédia dramática não só quebrou o recorde de Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara (Nosotros los nobles, 2013) como maior bilheteria de um filme nacional no México, mas também tornou-se o longa falado em espanhol com a melhor bilheteria em solo estadunidense na história (a quarta melhor de qualquer filme não falado em inglês), com o título Instructions Not Included (“Instruções não inclusas”). Foram mais de 99 milhões de dólares arrecadados pelo mundo.

Eugenio Debrez escreveu, dirigiu e protagonizou a história de um homem que criou uma filha deixada em sua porta 6 anos atrás e agora vê sua família ameaçada quando a mãe biológica dela reaparece. A pequena Loreto Peralta, como a tal filha, ganhou um prêmio no Young Artist Awards.

Apesar do incrível sucesso de público, o longa não foi muito bem recebido pela crítica. Mas isso também não impede que você assista e até goste do exemplar mais popular do cinema mexicano.

O Crime do Padre Amaro (El crimen del padre Amaro, 2002)

Estrelado por Gael García Bernal, a adaptação da obra homônima do português Eça de Queirós, de 1875, tornou-se a maior bilheteria mexicana de uma produção nacional, com 16 milhões de dólares arrecadados, e assim ficou por 11 anos, até ser passado pela comédia Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara. O longa também é a quinta maior bilheteria de uma produção mexicana nos Estados Unidos.

A recepção da crítica foi morna, mas conseguiu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhou 9 prêmios Ariel, o prêmio da academia mexicana de filme. O diretor Carlos Carrera, depois, dirigiu também alguns episódios da série Capadocia.

Diversos grupos religiosos protestaram contra o filme, que fala sobre a política e a paixão sexual que ameaçam corromper um jovem e recém-ordenado padre em uma pequena cidade do México. O resultado foi inverso: ingressos esgotados no fim de semana de estreia.

El Topo (1970)

“Um pistoleiro misterioso vagueia por uma mística paisagem western encontrando vários personagens bizarros”, é a sinopse de El Topo, que realmente é um western bem bizarro.

El Topo, que é o personagem-título e quer dizer “A Toupeira”, é vivido pelo chileno Alejandro Jodorowsky, também roteirista, diretor e compositor do longa. A obra só ganhou distribuição internacional porque caiu no gosto de John Lennon, que convenceu um amigo a comprar seus direitos. O filme acabou sendo escolhido como o candidato mexicano a tentar uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em seu ano.

Uma produção muito fácil de desagradar o espectador, mas que virou um dos mais famosos e queridos filmes undergrounds do mundo e foi um dos primeiros grandes sucessos das sessões de meia-noite, com seus diversos personagens com diferentes deficiências físicas, além de uma história, proposta e estrutura bem diferentes do usual. O certo é que, de um jeito ou de outro, é um filme inesquecível.

Como Água Para Chocolate (Como agua para chocolate, 1992)

Um casal se apaixona, mas a mulher não pode se casar por conta de uma tradição local, que manda que ela cuide de sua mãe. Dirigido por Alfonso Arau, o drama romântico fez um incrível sucesso quando lançado.

Foi a maior bilheteria estadunidense de um filme falado em espanhol, à época; ganhou 10 prêmios Ariel; ganhou 3 Kikitos no Festival de Gramado – Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Filme pelo Júri Popular; e foi indicado a diversos prêmios internacionais, incluindo ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.

A obra ainda conta com a fotografia de Emmanuel Lubezki. Óbvio que ele ainda não tinha os recursos que Hollywood pôde lhe dar em Birdman ou Gravidade, mas vale a pena conferir o trabalho do “Chivo” em seu terceiro longa-metragem.

E Sua Mãe Também (Y tu mamá también, 2001)

Alfonso Cuarón já havia dirigido duas produções em Hollywood, A Princesinha (The Little Princess, 1995) – inclusive, indicado a 2 Oscars – e Grandes Esperanças (Great Expectations, 1998), quando voltou ao México para E Sua Mãe Também, filme que lhe deu respeito para que comandasse grandes produções como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 2004), Filhos da Esperança (2006) e Gravidade (2013), finalmente conquistando público, crítica e Oscars.

Seu segundo longa em terra natal – após Sólo com tu pareja (1991) – foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, ao Oscar de Melhor Roteiro Original e ganhou dois prêmios no Festival de Veneza – Melhor Roteiro e Melhor Ator, para Gael García Bernal, que divide o filme com Diego Luna e Maribel Verdú.

Escrito por Alfonso e seu irmão, Carlos Cuarón, a obra conta a história de dois adolescentes e uma atraente mulher mais velha que embarcam numa viagem e aprendem algumas coisas sobre a vida, como amizade e sexo.

Já em parceria com seu amigo e diretor de fotografia Emmanuel Lubezki e já contando com um de seus famosos planos longos, Cuarón fez um filme aclamado pela crítica e que está entre as 20 maiores bilheterias estadunidenses faladas em língua não-inglesa.

Quem diria que, apesar de ser famoso por fazer planos-sequências, seria seu colega Iñárritu que ganharia um Oscar por fazer um filme praticamente em um plano-sequência.

Amores Brutos (Amores perros, 2000)

Um acidente de carro conecta três histórias diferentes, envolvendo personagens que têm que lidar com perdas, arrependimentos e a dura realidade da vida, tudo em nome do amor.

Estrelado por Gael García Bernal, foi o primeiro e elogiado longa de Alejandro González Iñárritu, que depois também faria filmes como Biutiful (2010) e Birdman (2014), finalmente ganhando alguns Oscars. Às vezes traduzido como Love’s a Bitch (“O Amor é uma Cadela”, tanto no sentido animal quanto no sentido pejorativo), foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhou dois prêmios da crítica em Cannes.

Além de Iñárritu, a produção também conta com roteiro de Guillermo Arriaga, fotografia de Rodrigo Prieto e trilha sonora do oscarizado argentino Gustavo Santaolalla, mesma equipe que fez os dois capítulos seguintes da chamada Trilogia da Morte (o diretor prefere chamá-la de “trilogia da vida”), já com produção estadunidense – Babel (2006) e 21 Gramas (21 Grams, 2003). Esse último, estrelado por Sean Penn, que entregou o prêmio a Iñárritu, no Oscar.

Com tantos filmes falando sobre histórias que se cruzam pelo acaso, não deixa de ser interessante que tenham se reencontrando em um momento tão importante.

O Labirinto do Fauno (El laberinto del fauno, 2006)

Na falangista Espanha de 1944, a jovem enteada de um sádico oficial do exército escapa para um mundo de uma fantasia estranha, mas cativante.

Guillermo del Toro, famoso por dirigir filmes sempre com uma pegada mais sombria, como A Espinha do Diabo (El espinazo del diablo, 2001), Hellboy (2004) ou até Círculo de Fogo (2013), lutou muito para fazer essa fantasia dark de coprodução espanhola.

Foi oferecido a del Toro (roteirista, diretor e produtor) o dobro do orçamento para que o filme fosse falado em inglês, mas ele recusou, não querendo ter que se adequar a nenhuma exigência do mercado. Além disso, abriu mão de todo seu salário e emagreceu 20 quilos durante as filmagens.

No final, O Labirinto do Fauno foi aplaudido durante 22 minutos no Festival de Cannes, onde foi indicado à Palma de Ouro. No Oscar, ganhou 3 prêmios – Direção de Arte, Fotografia e Maquiagem – e foi indicado a mais 3 – Filme Estrangeiro, Roteiro Original e Trilha Sonora.

Nas bilheterias, é o quinto filme falado em língua não-inglesa mais visto nos Estados Unidos – quase 38 milhões de dólares arrecadados lá e 83 milhões, contando o mundo todo. Parece que valeu a pena o esforço.

LUIS BUÑUEL

O espanhol Luis Buñuel (que se tornou cidadão mexicano em 1948) teve uma carreira aclamadíssima como diretor e roteirista, iniciada com um dos curtas mais famosos da história do cinema, Um Cão Andaluz (Um Chien Andalou, 1929), em parceria com o pintor Salvador Dalí.

Depois, fez diversos longas na França, Itália, Espanha e México (incluindo coproduções) e, embora sua fase mais famosa e premiada seja a francesa – com A Bela da Tarde (Belle de jour, 1967), O Discreto Charme da Burguesia (Le charme discret de la bourgeoisie, 1972) e Esse Obscuro Objeto do Desejo (Cet obscur objet du désir, 1977), entre outros -, sua fase mexicana também envolve clássicos obrigatórios, como Os Esquecidos, Viridiana e O Anjo Exterminador.

Seria até injusto eleger um desses três como o melhor, mais importante, reconhecido ou influente.

Os Esquecidos (Los olvidados, 1950)

Esse filme, sobre um grupo de delinquentes juvenis, ganhou o prêmio de Melhor Diretor em Cannes, mas antes disso foi muito criticado em seu país de origem por um espanhol estar expondo os problemas da pobreza e do crime mexicanos.

Viridiana (1961)

Viridiana, coprodução espanhola sobre uma freira prestes a tomar seus votos finais, ganhou a Palma de Ouro no mesmo festival e foi criticado pelo Papa João XXIII por blasfêmia e indecência, além de ter sido banido na Espanha, por Francisco Franco – lá, só foi exibido em 1977, dois anos após a morte do ditador.

O Anjo Exterminador (El ángel exterminador, 1962)

Por fim, O Anjo Exterminador é uma obra surrealista sobre os convidados de uma festa da alta classe que encontram-se incapazes de deixar o lugar. O filme também foi indicado à Palma de Ouro, com seu retrato da aristocracia, desnudando-a enquanto os personagens perdem o controle por causa de uma barreira “imaginária”.

Qualquer uma dessas três obras-primas será uma bela representação do talento de Buñuel. Ele nunca ganhou um Oscar – foi indicado duas vezes, como roteirista -, mas isso não é problema dele, é problema do Oscar.

CD Vallada

Formado em cinema pela FAAP, o paulistano CD Vallada foi colunista do Portal Higi e hoje traz suas análises da indústria cinematográfica ao El Hombre.

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