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10 livros incríveis para quem gosta de romances policiais e de suspense

Você é apaixonado por romances policiais? Se sim, bem-vindo ao clube.

E, se fizer parte do time que ainda não conhece muito bem o gênero, está tudo bem, porque essa é a sua chance de conhecê-lo e apaixonar-se por ele.

Antes de mais nada, o que são os romances policiais?

De acordo com a britânica P.D. James, uma das principais escritoras do gênero e verdadeira autoridade no assunto, “um romance policial é aquele que possui os seguintes elementos: um crime misterioso, em geral assassinato; um círculo fechado de suspeitos, cada um com meios, motivos e oportunidade de cometer um crime; um detetive amador ou profissional que entra em cena como uma divindade vingadora para resolver tudo; e, no final do livro, uma solução a que o leitor deveria ser capaz de chegar por dedução lógica das pistas inseridas no romance com astúcia enganosa, mas honestidade indispensável”.

Evidentemente, há branches dos romances policiais que alteraram algumas de suas lógicas, tais como os mistérios experimentais do argentino Jorge Luis Borges; mas, de uma maneira geral, a definição de P.D. James é uma das mais perfeitas que podemos encontrar.

A lista abaixo, que engloba 10 romances policiais incríveis, é adequada tanto aos leitores mais experientes quanto àqueles que acabam de ser apresentados ao gênero.

… E, naturalmente, embora o assassinato não seja mandatório para os romances policiais, devo dizer que a maioria dos livros aqui listados o contém. O motivo? Porque, segundo P.D. James – uma das grandes damas do romance policial britânico –, “é sempre certo que os leitores se interessarão muito mais em saber qual herdeiro batizou com arsênico o chocolate quente de tia Ellie do que em saber quem roubou o seu colar de diamantes enquanto ela estava, serena, de férias em Bournemouth”.

Pobre tia Ellie.

Nota: É importante esclarecer que esta lista não contempla necessariamente os melhores exemplos do gênero, e sim leituras agradáveis dentro do mesmo. Pretendemos fazer futuramente uma lista sobre os livros definitivos da ficção de mistério e suspense.

1# OBJETOS CORTANTES, GILLIAN FLYNN

romances policiais
Fonte: Pinterest

Em Garota Exemplar, o seu primeiro e mais impressionante sucesso, a célebre escritora Gillian Flynn expôs o retrato de um relacionamento em decomposição, fazendo uso de um ambiente ameno: o subúrbio americano. Escolha inteligente – pois, como diria o crítico literário David Schmid, “existiria um lugar melhor para apresentar o amargor, a raiva e o ódio mútuo do que em um espaço tradicionalmente ocupado por pessoas que conquistaram o tão falado ‘sonho americano’?”.

Semelhantemente, em Objetos Cortantes, que recentemente deu origem a uma série da HBO – motivo pelo qual escolhemos a ele, e não o possivelmente superior Garota Exemplar, para ser o representante da obra de Flynn nesta lista –, temos uma trama que revela os segredos mais íntimos de uma família de maneira aterradora e bastante sinistra.

No livro, a jovem jornalista Camille Preaker – que, jamais tendo conseguido superar a morte da irmã e a rejeição sofrida por parte da mãe, expressa seu profundo pesar mutilando-se com frequência (daí o título Objetos Cortantes) – volta para a pequena cidade na qual nasceu, e para a família que jamais a apreciou, para investigar os assassinatos recentes de jovens locais.

Essa jornada lhe dá a oportunidade não apenas de resolver os assassinatos em si, o que ocorre ao fim do romance, mas também de compreender diversas coisas, entre as quais o profundo ódio que sempre pareceu nutrir por si mesma e as suas tendências autodestrutivas – “Naquele momento, eu era somente eu, me sentindo grudenta e idiota. Não sabia se havia sido maltratada. Por Richard, por aqueles garotos que tiraram a minha virgindade, por alguém. Eu nunca tomei o meu próprio partido em uma discussão. Gosto da maldade da frase do Antigo Testamento: ‘Ela teve o que mereceu’.” –, as origens do ressentimento igualmente intenso que a mãe sente por ela, e mesmo os segredos sinistros que rondam a morte de sua falecida irmã.

Se você gosta de suspenses com um teor psicológico bastante forte, Objetos Cortantes é o ideal para você.

2# CONFISSÕES, KANAE MINATO

Fonte: Brandon Lee

Ainda que os japoneses sejam costumeiramente contidos e suaves, é fato que, quando optam por abordar as raízes da perversidade humana, poucos povos conseguem compreender com tamanha precisão o sadismo, a crueldade e as maquinações perversas.

Esse é o caso de Kanae Minato, uma das escritoras policiais mais promissoras da Ásia, e que narra em seu livro Confissões a vingança planejada e executada por uma professora, Moriguchi, contra dois de seus alunos, responsáveis pelo assassinato frio e calculado de sua filha.

Narrado em vozes alternadas e repleto de plot twists alucinantes, Confissões – que foi, em 2010, adaptado para o cinema japonês – explora os limites de conceitos como punição, desespero, sadismo e amor, com uma ênfase no amor maternal, ou na completa falta dele, como vemos na comparação entre a amorosa e dedicada Moriguchi e a mãe de Shuya, um dos assassinos, uma química brilhante que passou a encarar o próprio filho como um empecilho, um odiável obstáculo ao seu sucesso e desenvolvimento, e a tratá-lo brutalmente como tal, transmitindo-lhe seu egoísmo gigantesco.

E, por falar em Confissões, muitos dos insights do livro são interessantes na cultura na qual nós vivemos atualmente, especialista em cancelamentos. Até que ponto, podemos perguntar-nos, atormentar uma pessoa má é aceitável? Em certa medida, sentimo-nos vingados quando, no momento em que Moriguchi revela a identidade dos homicidas, eles passam a ser cruelmente tratados por seus colegas; mas, quando aqueles que se recusam a tomar parte nos maus tratos recebem um tratamento igualmente ignominioso, o que isso diz sobre aqueles que acreditam estar sendo justos? Em suas palavras:

A gente acaba se sentindo bem quando atormenta uma pessoa má às vezes, isso até alivia o nosso estresse. E depois da primeira vez, a gente pode ter vontade de sentir aquilo de novo, achar que precisa acusar alguém para sentir novamente aquele frisson. Na primeira vez, a gente realmente acusa algum canalha, mas, na segunda vez, a gente talvez comece a usar da criatividade para acusar quem não merece.

3# A MALDIÇÃO DO MAR, SHEA ERNSHAW

Fonte: Pinterest

Nos últimos anos, poucos livros foram capazes de me entreter, me manter em alerta e partir o meu coração com tanta potência quanto A Maldição do Mar, publicado em 2018 pela autora americana Shea Ernshaw – que, em seu perfil na rede social de leitura Goodreads, alega amar “florestas sombrias, histórias de terror e a meia-noite nos lagos”.

E isso não é de surpreender, visto os temas que se destacam em A Maldição do Mar – que, na realidade, é o único livro nesta lista inteira que conta com a presença de elementos fortemente sobrenaturais.

O seu encantador enredo gira em torno de uma pequena cidade turística no litoral, que sofre, como sugere o título, de uma maldição aterrorizante: a cada ano, à meia-noite do solstício de de verão, três jovens locais são possuídas pela alma de três belíssimas que séculos atrás foram condenadas à morte sob a falsa acusação de bruxaria. Durante três semanas, disfarçadas, elas seduzem um número aleatório de rapazes da cidade e os levam ao mar, onde executam a sua vingança, afogando-os e roubando as suas almas.

A história é narrada pela local Penny Talbot, habitante de uma ilha nas cercanias da cidade e principal responsável pelo bem-estar da mãe, uma mulher com habilidades psíquicas que foi levada à loucura pelo desaparecimento do marido no mar.

Com a chegada do forasteiro Bo Carter, que está também em busca de uma vingança especial na cidade, Penny se apaixona perdidamente e percebe o quão perigoso é o amor: ele faz com que tenhamos algo a perder. Ou a proteger.

Tendo um relacionamento de amor e ódio com o local amaldiçoado onde vive – “Às vezes eu acho que essa ilha é um ímã para coisas ruins, o centro de todas elas. Como se fosse um buraco negro que nos arrasta a um destino que não podemos controlar. Mas há também momentos nos quais penso nela como uma das únicas coisas que me mantém sã, e como a única coisa familiar que me restou” –, Penny busca proteger Bo das irmãs, ao mesmo tempo em que busca desesperadamente mantê-lo à parte do grande segredo que oculta dentro de si.

Provavelmente o meu favorito dessa lista, juntamente com À Beira da Loucura e O Assassinato de Roger Ackroyd, peço que leiam esse livro e que compartilhem comigo o que acharam de seu final eletrizante.

4# À BEIRA DA LOUCURA, B.A. PARIS

Fonte: The Book Castle

Fãs de suspenses psicológicos, À Beira da Loucura é o livro ideal para vocês. E eu, que devorei as suas 336 páginas em dois únicos dias, posso asseverar que se trata não só de um dos mais viciantes livros do gênero com os quais já me confrontei, mas também de um dos melhores.

Nele, temos uma narradora rica e recém-casada, Cass, que vive em uma região relativamente distante da cidade e prometeu ao marido jamais pegar um atalho para casa à noite – visto que o caminho, embora lindo durante o dia, possui curvas traiçoeiras e é extremamente perigoso depois de determinado horário, especialmente para uma mulher desacompanhada.

E o que Cass faz no capítulo inicial? Evidentemente, pega o tal atalho de madrugada, depois de uma reunião festiva com seus colegas de trabalho. Surpreendida por uma tempestade das mais fortes, quase se acidenta; e, ao recuperar o controle do carro, depara-se com uma mulher parada na chuva, os traços borrados pela chuva torrencial. Como a maioria de nós, Cass não tem coragem de parar para ver se pode ajudar a mulher. E, evidentemente, arrepende-se com intensidade dessa suposta covardia quando, no dia seguinte, os jornais noticiam que o corpo da desconhecida foi encontrado no bosque, tendo sido ela brutalmente assassinada.

A narradora, então, é tomada pelo terror e pelo remorso. Para piorar as coisas, ela se dá conta de que, na realidade, não se tratava de uma desconhecida, e sim de uma jovem e agradável mulher a quem conhecera brevemente em outra ocasião, Jane. E mais: em seu desatino, começa logo a formular as mais diversas hipóteses sobre o que pode ter acontecido naquela noite:

Tento me acalmar, dizendo a mim mesma que, se não estivesse chovendo tanto, ou se eu tivesse sido capaz de discernir seus traços, se soubesse que era Jane, eu teria saltado de meu carro e corrido até o dela sem hesitar nem mesmo por um segundo. E e se ela tivesse me reconhecido? Será que achou que eu fosse ajudá-la? A ideia era horrível, mas, se fosse verdade, ela com certeza teria piscado o farol e ido até a mim, não? Então, outro pensamento me ocorre, ainda pior do que o anterior: e se o assassino já estivesse lá, e ela tivesse tentado me proteger deixando-me ir embora?

A sensação de pânico decorrente da morte de Jane se intensifica no momento em que começa a ser stealkeada, recebendo telefonemas constantes de uma fonte desconhecida. Cass acredita que o assassino pode tê-la visto e memorizado a placa de seu carro, e que agora sabe que ela existe e que é uma ameaça. Para piorar, os telefonemas só acontecem quando ela está sozinha em casa – será que está sendo observada?

… Ou, assim como a falecida mãe, que sofreu precocemente de demência senil, está perdendo a memória e imaginando coisas?

5# A MULHER DE BRANCO, WILKIE COLLINS

Fonte: The Content Reader

Existe uma polêmica a respeito de quem criou a literatura policial. Uma parte dos críticos são favoráveis à ideia de que os romances góticos britânicos foram os precursores do gênero; um número maior atribui a Edgar Allan Poe, sobre quem falaremos mais tarde; e outros afirmam que o precursor foi o escritor vitoriano Wilkie Collins, devido ao fato de que apresentou, em 1868, um dos primeiros – se não o primeiro – detetive fictício, o Sargento Cuff, no romance A Pedra da Lua.

A sua vasta obra (que inclui Armadale, o meu livro favorito de todos os tempos, mas que não se adequa exatamente ao gênero) é dotada de uma série de elementos próprios de uma espécie de sub-gênero célebre na Inglaterra vitoriana: o Sensacionalismo. Romances sensacionalistas, popularizados por autores como o próprio Collins e Mary Elizabeth Braddon, exploravam a fascinação do público pela violência. A sua fórmula não consistia somente em soluções para mistérios; era formulada a partir de segredos de família; muitas vezes, do segredo de mulheres incapazes de se conformar com os papéis que deveriam exercer como filhas, esposas e mães.

Mas falemos do livro que incluímos aqui na lista, A Mulher de Branco. Tido como a obra-prima de Collins, ele não conta com a figura de um detetive per se, mas é um romance policial devido à presença de um mistério e de uma investigação amadorística relativa a ele, conduzida pelos dois personagens mais importantes da narrativa: Walter Hartright, professor de desenho que se apaixona pela aluna endinheirada, e Marian Halcombe, meia-irmã de sua amada, que é tida como uma das personagens femininas mais fortes da literatura do século XIX.

A história, narrada principalmente por Hartright mas também por outros personagens, inicia-se com o momento no qual, ao conquistar a posição de professor na casa de uma família rica da região, os Fairlie, encontra no caminho da casa uma figura feminina espectral, que consiste na “mulher de branco” do título:

Em um momento, toda gota de sangue de meu corpo congelou-se ao toque de uma mão, que pousou-se leve e repentinamente em meu ombro por alguém que estava logo atrás de mim. Segurando o cajado, eu me virei no mesmo instante. Lá, em meio à estrada larga e iluminada – lá,m como se tivesse, naquele momento, florescido da terra ou caído dos céus, estava uma mulher vestida dos pés à cabeça com ornamentos brancos.

A mulher, que lhe parece extremamente preocupada e fragilizada, ao ponto de Hartwright se perguntar se é “naturalmente desequilibrada” ou se “um choque recente a deixou perturbada momentaneamente”, lhe pergunta a direção para Londres. Ele lhe ensina o caminho, mas em seguida é informado por um policial que a jovem escapou de um manicômio.

O curioso? Ao chegar na casa dos Fairlie, nota que sua pupila, Laura Fairlie, por quem sente-se tremendamente atraído desde o início, se assemelha imensamente à mulher de branco em termos físicos.

O decorrer da história, que envolve o casamento arranjado de Laura Fairlie com um baronete corrupto, o desenvolver da amizade entre Walter Hartright e Marian Halcombe, e os esforços de ambos para preservar a vida e a sanidade de Laura. E, é claro, com um destaque para um dos vilões, o italiano Conde Fosco, considerado um dos canalhas mais encantadores de toda a literatura.

6# A LUA NA SARJETA, DAVID GOODIS

Capa do Filme

A Lua na Sarjeta, do escritor americano David Goodis – famoso principalmente por seu livro Atire no Pianista – foi magnificamente resumido em uma review no Goodreads: “Uma leitura melancólica, crul e intensa sobre a vida nas regiões mais empobrecidas da Filadélfia. Um bom livro, mas não um livro divertido”.

Escrito em 1953, e adaptado para os cinemas franceses pelo diretor Jean-Jacques Beineix em 1983, A Lua na Sarjeta é um livro no qual, segundo o crítico literário David Schmidt, “Goodis utiliza-se da violência como meio de comunicar, com uma vivacidade quase insuportável, as texturas emocionais de seu mundo literário”. E, vou dizer uma coisa: dos livros aqui contidos, esse é certamente o mais pessimista, contendo “uma visão bastante sombria, mas ainda assim lírica, da pobreza e do que Goodis vê como a solidão inerente à condição humana”;:

Tudo desapareceu, exceto o que havia diante de seus olhos, a rua, a sarjeta, as soleiras vacilantes da casa em ruína. Aquilo o atingiu com toda a força, o conhecimento inevitável de que estava viajando pela vida com um bilhete de quarta classe.

A história, cujos principais temas são a violência, a sordidez e a solidão, gira em torno de um jovem estivador chamado William Kerrigan, que vive em uma moradia esquálida na Vernon St. com seus familiares. Sete meses antes do início da narrativa, sua irmã mais nova suicidou-se em um beco após ter sido violentada. A partir de então, Kerrigan deseja desesperadamente encontrar o responsável por isso e puni-lo por seu crime. Nesse interim, conhece uma jovem socialite, Loretta Channing, que se apaixona por ele. Loretta representa um sonho impossível – a rota de escape de sua existência infernal, o distanciamento dos cortiços e dos becos. Mas, ao mesmo tempo, seria ela a chave para o que ocorrera com a sua irmã? E, se sim, seria para William possível deixar para trás Vernon St.?

7# A CARTA ROUBADA, EDGAR ALLAN POE

Fonte: Meka Books

Embora, como já dissemos, parte dos críticos literários atribua a criação dos romances policiais a Wilkie Collins, outros ainda afirmam que o mesmo nasceu com o escritor americano Edgar Allan Poe.

E, apesar de não termos como precisar com exatidão a sua origem, podemos dizer que, ainda que não tenha sido exatamente criado nesse momento, o gênero tal como o conhecemos foi formulado em abril de 1841, no momento em que, aos 31 anos, Poe publicou uma narrativa intitulada Os Assassinatos na Rue Morgue. E isso porque, em Rue Morgue e em seus outros contos de mistério e suspense, O Mistério de Marie Rogêt e A Carta Roubada, o autor deu origem a uma série de elementos clássicos do gênero.

O primeiro deles consiste no fato de que seu detetive, Auguste Dupin, é um amador bastante excêntrico que possui um amigo/admirador que não apenas o auxilia em suas investigações, mas também narra as suas aventuras. Dupin, como Holmes e Poirot depois dele, personifica a confiança de que eventos misteriosos podem e devem ser explicados através da lógica e da racionalidade.

… E, é claro, o mais intrigante: o mistério é apresentado como a competição entre o detetive e o criminoso.

Em nenhum dos livros de Poe isso é colocado de maneira mais clara do que no terceiro deles e também o último, A Carta Roubada. Nele, Dupin busca recuperar uma carta que foi roubada pelo Ministro D., um homem tão poderoso quanto inteligente a quem conhece de longa data, e com quem tem uma antiga inimizade. E, nas palavras do professor de literatura e prolífico crítico literário David Schmid,

Nesse livro, não somente temos um criminoso no mais pleno sentido da palavra, mas uma espécie de vilão que influenciaria todo o gênero em virtude das características que compartilha com o detetive. Boa parte da razão pela qual o Ministro D. é um oponente tão digno repousa no fato de que ele é, intelectualmente, um homem comparável ao próprio Dupin ambos são instruídos, analíticos e criativos em igual medida. E isso, é claro, sem contar que os dois têm um histórico de desentendimentos que acrescenta um frisson a mais a essa história. De fato, o par tem tantas características em comum que alguns dos leitores mais literais de Poe crêem que a inicial compartilhada de seus sobrenomes, “D”, indica que são literalmente irmãos.

Ademais – e isso é interessante –, A Carta Roubada é o único livro desta lista (e o único livro policial de Poe, na realidade) que não envolve um assassinato nem qualquer crime violento e se concentra mais em questões mentais.

8# A PRINCESA DE GELO, CAMILLA LÄCKBERG

Fonte: Dream By Day Book Club

Ah, os escandinavos. De Stieg Larsson a Camilla Läckberg, passando também por Jo Nesbo e por outros quinhentos…

Realmente: não seriam eles os principais mestres dos romances policiais recentes?

O fato é que a Escandinávia provou a sua maestria no gênero, e que um de seus nomes mais célebres é Camilla Läckberg, escritora sueca cuja obra já foi traduzida para 35 línguas, vendida em 50 países e com uma tiragem superior a 50 milhões de cópias, o que lhe rendeu o lisonjeiro título de Rainha Europeia do Crime.

Seus romances, ambientados em sua cidade natal – a pequena Fjällbacka, localidade turística conhecida por suas belas praias, mas que conta com menos de mil habitantes –, contam com o protagonismo do Inspetor Detetive Patrik Hedström e da escritora Erica Falck, amigos de infância que se reencontram em meio a uma investigação e dão início a um envolvimento de cunho amoroso.

Embora valha a pena conferir a obra inteira de Läckberg, optei por incluir na lista o primeiro livro publicado pela escritora, A Princesa de Gelo, de 2003.

Neste, Erica acaba de voltar a Fjällbacka após a morte dos pais. Em meio à preocupação em relação à irmã mais nova, que vive um relacionamento abusivo com um sociopata, se depara, quase que por coincidência, com uma cena aterrorizante: o corpo de Alexandra Wijkner, uma beldade fria e sua melhor amiga de infância, que afastou-se dela inexplicavelmente anos atrás, morta – e coberta de gelo – na banheira da casa de veraneio onde costumava encontrar, fora do alcance do marido, o amante.

Daí em diante, Erica põe-se a buscar não apenas pelo responsável pela morte da amiga, mas também por uma resposta à seguinte questão: o que aconteceu na vida de Alex, no fim de sua infância e começo da adolescência, que justifique o afastamento entre as duas?

9# A FILHA DO LOUCO, MEGAN SHEPHERD

Fonte: Torn Pages

Em 1896, o escritor britânico H.G. Wells publicou o livro A Ilha do Dr. Moreau, sendo o Dr. Moreau do título um cientista obcecado pela ideia de transformar animais em seres humanos através de experimentos bastante peculiares.

Foi esse um dos livros nos quais Megan Shepherd baseou-se para criar sua trilogia, cujo título inicial foi publicado em 2013 e leva o título de A Filha do Louco.

Esse livro, definido como sendo “insano e perturbador” por uma review no Goodreads, é um excelente suspense psicológico que conta com uma atmosfera tensa construída com maestria pela autora. Ademais, temos também uma dose de aventura, visto que a nossa heroína acaba parando em uma ilha selvagem e praticamente desabitada por outros seres humanos.

No início da narrativa, somos apresentados à protagonista e narradora, Juliet Moreau. Juliet, criada como uma dama, sofreu o que costuma-se chamar de fall from grace – isto é, uma queda em seu padrão de vida e em sua reputação. Essa queda foi propiciada por um escândalo que correu na alta-sociedade londrina a respeito de seu pai, um cirurgião até então respeitável que caiu em desgraça devido aos experimentos desumanos que conduzia secretamente.

Após o escândalo, abandonada pelo pai e presenciando a morte da mãe, Juliet é deixada para viver por conta própria e tem que arrumar um emprego como faxineira em uma universidade londrina. Posteriormente, a sua vida é virada de cabeça para baixo ao reencontrar o assistente de seu pai e seu amigo de infância, Montgomery, e segui-lo até a ilha onde o cientista ocultou-se do restante do mundo a fim de dedicar-se exclusivamente aos seus projetos. Na jornada à ilha, Juliet e Montgomery conhecem Edward, sobrevivente de um naufrágio, que se junta aos dois e é a terceira ponta do triângulo amoroso presente na narrativa.

A partir de então, a trama se desenrola tendo como base o mistério por trás dos experimentos do Dr. Moreau, a busca de Juliet por uma resposta – “Eu precisava saber que tipo de homem era o meu pai: o monstro, ou o gênio incompreendido” – e a resolução de uma série de cruéis homicídios que começam a ocorrer na ilha.

… E, acima de qualquer outra coisa, o medo de Juliet de assemelhar-se ao seu progenitor:

Eu apoiei a minha testa contra a parede e fechei os olhos. Não era questão de curiosidade, tampouco a minha fascinação com a anatomia; e nem mesmo o modo como eu era capaz de cortar a cabeça de um coelho diante de um grupo de rapazes paralisados. Tais coisas eram meros sintomas de uma mesma doença: a loucura herdada de meu pai. Era uma intensa pontada em minhas entranhas que me conduzia às possibilidades mais obscuras da ciência, às linhas tênues entre a vida e a morte, aos impulsos animalescos escondidos atrás de um espartilho ou de um sorriso.

10# O ASSASSINATO DE ROGER ACKROYD, AGATHA CHRISTIE

Fonte: Shutterstock

Para finalizarmos com chave de ouro, aqui estamos nós com a legítima Rainha do Crime – a inglesa Agatha Christie, cujas vendas de livros foram superadas meramente por Shakespeare e pela Bíblia.

Christie foi definida por P.D. James como a “arquiquebradora de regras”, no sentido de que, embora com outros escritores possamos ter a confiança de que o assassino não será “um dos jovens e atraentes enamorados, um policial ou uma criança”, com Christie “não há prediletos nem entre assassinos, nem entre vítimas”.

E em nenhum livro o leitor é mais audaciosamente enganado do que naquele que é visto por muitos como a sua obra prima: O Assassinato de Roger Ackroyd, publicado em 1926, o terceiro romance a ter como protagonista o excêntrico detetive belga Hercule Poirot.

Com um enredo que gira em torno do assassinato de um patriarca rico, Roger Ackroyd, cuja morte beneficiaria muitos de seus parentes e amigos, Christie volta a nos mostrar que, assim como na vida, a única certeza em sua obra é a morte.

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Camila Nogueira Nardelli
Camila Nogueira Nardelli
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.