Vários são os fatores que atuam no campo da sedução ao primeiro contato, como cheiro, voz e olhar. O contato visual estabelece uma primeira impressão que passa a conduzir o grau de aproximação ou distanciamento. Claro que estatura, cabelos e roupas contam, com o relativo peso atribuido dependendo dos critérios formados por quem observa, mas os movimentos atuam como uma linguagem dinâmica com um incrível poder. E quando se fala em movimento… lembramos daquilo que o transforma em arte: a dança!
Calma! Você não precisa ser um dançarino profissional para lançar seu poder de sedução!
Segundo uma pesquisa dirigida pelo psicólogo Nick Neave, publicada pelo Royal Society Journal, os passos de dança que exercem atração sobre as mulheres são aqueles que denotam flexibilidade, vitalidade e força, ou seja, mover ampla e variadamente o pescoço e o tronco, significa estar no caminho certo.
Eu, como mulher, assim como outras que conheço, temos uma lista mais abrangente (até com alguns fatores subjetivos) daquilo que nos seduz ao ver um homem dançar e, é claro, há que se levar em conta também os signos internalizados pelas várias culturas.
Resolvi fazer um passeio por outra arte, a sétima, e pontuar alguns momentos cinematográficos em que a dança imprime ao sexo masculino a inevitável lei da atração, seja pela sensualidade abertamente decifrável, seja por algo mais sutil, mas que mesmo assim invade a alma feminina pelos caminhos da sedução. Inspire-se nestes homens de gingado, caro leitor!
Por mais que você discorde de mim, torça o nariz, e pense que não cabe neste contexto, eu não poderia deixar de citar uma cena repleta de encantamento, e acredite, há sim nela, uma certa sensualidade. Ingênua, confesso! Mas ainda assim é sensual.
Estou falando da antológica “dança dos pãezinhos”, ao som de Oceana Roll Dance, em que Carlitos (Charles Chaplin) rouba a cena com suas expressões e movimento de cabeça. O filme é Em Busa do Ouro (The Gold Rush, 1925), dirigido, roteirizado e estrelado pelo mesmo. Nesta cena, Carlitos convidara sua amada Georgia (Georgia Hale) e suas amigas, para um singelo jantar, na cabana. Preciso dizer que elas se encantam?
Temos ainda Fred Astaire, um homem que não atendia aos padrões convencionais de beleza masculina, mas cujo charme lendário arrancou suspiros da plateia feminina. Entre as inumeráveis coreografias que ele executou na telona, eu poderia ter escolhido uma em que o romantismo é explícito e, portanto, a sedução está claramente implícita. Mas quero que você entenda que, independente do contexto, as mulheres gostam dos movimentos masculinos inspirados pela música, por isso selecionei Puttin’ on the Ritz, de Irving Berlin, do filme Romance Inacabado (Blue Skies, 1946).
E na onda dos clássicos, ou daqueles que levavam multidões ao cinema, mais do que interessadas na trama em si, impulsionadas pelo desejo de vê-los dançar, é obrigatório falar de Gene Kelly, cujo brilhantismo como dançarino e coreógrafo produziu momentos memoráveis. Sim, Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952) é antológico.
Mas pensei também em Sinfonia de Paris (An American in Paris, 1951), no qual poderia até apontar a belissíma sequência final (que leva o nome do título), no entanto, prefiro o romantismo, sutileza e sensualidade, com que Kelly conduz Leslie Caron na tomada de Our Love Is Here to Stay.
Ainda que o feminismo já tenha iniciado a sua revolução há algum tempo, e que as mulheres ocupem, em algumas situações, comportamentos que antes eram monopólio masculino, certas coisas são inerentes ao gênero e, embora a elegância seduza aos dois, porque agrada aos sentidos (como uma música bem orquestrada, uma pintura harmônica, uma comida bem temperada…), o homem elegante transmite à mulher uma sensação de conforto, de delicadeza e generosidade no trato (e eu não me refiro apenas aos trajes, mas principalmente aos gestos).
A elegância! Ah, a sedutora elegância! Como não lembrar da elegância com que Al Pacino toma Gabrielle Anwar no braços, ao som de Por una Cabeza (Carlos Gardel), em Perfume de Mulher (Scent of a Woman, 1992)?
Permanecendo no ritmo do tango, tem a sensualissíma cena do Vem Dançar? (Take the Lead, 2006), onde o professor de dança Pierre Dulaine (Antonio Banderas), ao som de um remix de La Cumparsita, usa uma dançarina, para mostrar aos seus alunos rebeldes a beleza desta dança, e como um homem deve conduzi-la. Imagino que o público masculino se sinta hipnotizado bela belíssima loira, mas as mulheres, com certeza, seguiram todos os movimentos de Banderas.
Mas o tango e Banderas não param por aqui! Embalados por Tango in Love (embora, para mim, a coreografia seja mais a de um paso doble), Zorro e Elena (Catherine Zeta-Jones), disparam corações, no filme A Máscara do Zorro (The Mask of Zorro, 1998).
E a propósito dos “calientes” movimentos latinos, eu não poderia esquecer o sedutor flamenco, nem aquele que esquentou o sangue feminino com a sua postura: Antonio Gades. Ele não só arrebatava paixões no enredo do filme, como também à plateia que o assistia, e uma das cenas solo que mais me marcou, foi Caracoles, em Fortunata y Jacinta (1970).
E num tom mais divertido e irreverente, como deixar em branco o ritmo que esquentou esquentou tantas pistas, som uma acentuada expressão de flirt? Como esquecer a Salsa e as performances dançantes de Robby Rosa (líder do grupo Menudo) em Salsa: Ritmo Quente (1988)?
Saindo dos latinos, começo nada mais nada menos por aquele que contemplou a dança com um certo erotismo, através do seu revolucionário e ousado movimento de quadris, como por exemplo numa cena de Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, 1957), ao som da música título, coreografada pelo protagonista. Sim, estou falando de Elvis Presley!
Com certeza seu estilo inspirou muitos homens, entre eles próprio John Travolta. Em Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978), seu personagem, Danny, conquista a doce Sandy. Apesar de Grease Lightning ser uma cena só com rapazes, é em Summer Nights que os corações femininos aceleram, diante do quão são provocadores seus movimentos e expressões. E há também, claro, o dueto final de You Are The One That I Want.
No entanto foi um ano antes, com You Should be Dancing, dos Bee Gees, em Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Feever, 1977) que Tony Manero (John Travolta) lançou um “vírus”, e esta febre durou pelo resto dos anos 70 e início dos 80.
Temos ainda uma versão Travolta mais moderna, quando os personagens dele e de Uma Thurman coreografam You Never Can Tell (Chuck Berry), em Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994). A cena mostra mais “tempero” do que aquela que, acredito, tenha sido uma referência, no filme de Jean-Luc Godard, Band à Part (1964).
Outro momento, daqueles em que a mulher segue todos os movimentos, é protagonizada pela dança de Patrick Swayze (Johnny Castle), ao som de The Time of my Life. Johnny conduz Baby (Jennifer Grey) com extrema virilidade, e ela até dança certinho, mas com certeza ele é o dono da cena. O filme? Dirty Dancing: Ritmo Quente (1987).
Você pode achar alguns passos ultrapassados, outros, um tanto afeminados, e de algun ritmos você até talvez não goste. Não importa! Escolha seu gênero preferido (ou o dela), acompanhe a música com sincronismo, misture movimentos longos e curtos (segundo a pesquisa do Dr. Neave) e, acima de tudo demonstre autoconfiança.
Dançando separado ou mais colado, não se esqueça de que você é o sedutor, e de que ela precisa perceber a sua virilidade, portanto, conduza seus passos… ou seu olhar, e ela só terá uma direção a seguir: você!