Qual foi a última vez que você sentiu raiva na sua vida?
Provavelmente ontem, ou até hoje. Para as pessoas mais zen, talvez há uns cinco dias, ou no máximo há uma semana, eu imagino.
Agora vou te fazer mais duas perguntas:
- O que você fez com a sua raiva?
- O que você sentiu depois que ela passoui?
Se você expressou o que sentia, aposto que sentiu culpa e vergonha depois. E, se você não expressou, também aposto que sentiu esses mesmos sentimentos, ou experimentou o que geralmente sentimos quando reprimimos nossos sentimentos mais intensos: frustração e irritação contra nós mesmos.
Mas, bom, precisamos falar sobre a raiva.
Ela é um sentimento como qualquer outro – é neutra, não é positiva nem negativa, e o que importa é a maneira como lidamos com ela. Surtar com a pessoa mais próxima e despejar sobre ela as nossas frustrações? Ruim. Reprimir o que estamos sentindo, tentar fingir que não aconteceu nada e que estamos de boa? Ruim também, porque é a maneira mais rápida de nos intoxicarmos e de piorar nossos relacionamentos, em vez de melhorá-los.
O que, então, fazer?
Acho que a melhor resposta é transformar a raiva em algo positivo, através de uma ação ou de uma série de ações construtivas. Iso mesmo: a raiva, quando expressada de uma maneira negativa, pode nos prejudicar ou limitar, mas ela pode ser positiva e produtiva quando a exploramos ao nosso favor.
Vamos começar falando sobre o potencial da raiva. Isso mesmo: a raiva tem os seus potenciais. Ela pode nos dar, entre outras coisas, motivação, poder, impulso e força de vontade.
Você já leu O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, ou assistiu o filme com o mesmo nome?
Resumidamente, o herói, Edmond Dantès, é um jovem marinheiro de uma família pobre que está começando a subir na vida. Ele foi promovido a capitão da firma na qual trabalha, e está prestes a se casar com a mulher que ama. Esse sucesso todo inspira raiva em duas pessoas: o primo de sua noiva, que está apaixonado por ela, e um de seus colegas de trabalho, que é, em suma, um cretino ambicioso.
Conspiração aqui, conspiração ali, eles dois, juntamente com um figurão da aristocracia que quer esconder o passado bonapartista do pai (é importante lembrar que na época que o livro se passa Napoleão Bonaparte estava preso) acabam conseguindo trancafiar Dantès na prisão, sob acusação de traição à pátria.
Lá, Dantès faz amizade com um abade italiano. Seu novo amigo, que é um intelectual – como muitos dos homens da igreja daquele tempo -, lhe passa toda a sua sabedoria, todo o seu conhecimento e toda a sua argúcia. A partir daí, aquele jovem ingênuo se torna um grande gênio e estrategista.
Quando o abade morre, Dantès consegue fugir da prisão. O abade deixou um tesouro na Ilha de Monte Cristo, e conta a localização do mesmo a Dantès, que enriquece, assume um título de nobreza e vai para Paris a fim de se vingar de todo mundo que passou a perna nele quando era mais jovem.
Vingança é algo bom ou ruim? Aí fica aberto à discussão, mas o fato é que Edmond Dantès – agora, o “Conde de Monte Cristo” – usa a sua raiva de uma maneira “produtiva”, “ativa”, para se vingar das pessoas que arruinaram a sua vida e roubaram a sua juventude.
Bom, mas vamos voltar para a raiva. Todo mundo sente raiva, e algumas pessoas ainda mais do que as outras. Em uma pesquisa recente feita por estudiosos da Harvard, da Columbia e da Princeton, foi constatado que um a cada dez americanos têm problemas sérios com o controle da raiva, e não deve ser muito diferente no Brasil.
E, se a raiva é um fenômeno tão comum, então temos que aprender a lidar com ela e a usá-la para o sucesso, fazendo dela uma ferramenta criativa, porque é um sentimento que pode nos dar energia e nos tornar mais ousados.
Vamos facilitar as coisas para você e listar 5 passos para controlar a sua raiva e usá-la para crescer na vida. Confira:
1# COMPREENDA O QUE A SUA RAIVA ESTÁ TE COMUNICANDO
O primeiro passo é sempre compreender o que a sua raiva está dizendo para você.
Por exemplo, ela é um sinal de que alguém ultrapassou os seus limites? Que alguém foi escroto com você? Que te sacanearam?
É importante entender o que a sua raiva está dizendo, até porque é através disso que você poderá pensar em uma maneira de lidar com o que está despertando esse sentimento de raiva em você: um relacionamento tóxico com alguém da família? Com alguém do trabalho?
Ou talvez a culpa não seja de ninguém, e você que precisa colocar a sua cabeça no luar certo e dar um jeito, por exemplo quando está sentindo ciúmes sem qualquer motivo.
2# ENCONTRE A RAIZ DO PROBLEMA
Muitas vezes, a raiva é o que chamamos de emoção secundária – ou seja, ela é uma reação a uma outra emoção, que seria a primária. Isso acontece principalmente com os homens, porque a sociedade diz que a única emoção aceitável no sexo masculino é a raiva.
Por isso, muitos dos homens acabam internalizando a seguinte lógica: Você está com medo? Demonstre raiva. Está se sentindo culpado? Demonstre raiva. Seu orgulho foi ferido? Demonstre raiva. A raiva, em uma situação como essa, é o sentimento mais evidente, mas ela é só uma máscara, e não a emoção principal.
Nesses casos, como encontrar a raiz do problema?
Da próxima vez que sentir raiva, respire fundo e pergunte a si mesmo exatamente o quê você está sentindo, de onde isso vem e o porquê.
Pense: “Eu estou com raiva porque o meu amigo atrasou meia hora, ou magoado e ferido porque se estabeleceu um padrão de atrasos por parte dele nessa amizade, que mostra que ele não valoriza o meu tempo?”, e detecte as emoções que estão por trás dos seus sentimentos.
Na maior parte dos casos, você verá que a raiva não é a maior delas. Isso acontece muito com os ciúmes, quando por trás da raiva geralmente há a nossa insegurança e sensação de não ser bom o bastante.
3# EXPRESSE A SI MESMO DE MANEIRA CLARA E NÃO-DEFENSIVA
E o que fazer caso a sua raiva tenha um motivo consistente?
Bem, nesses casos o melhor é conversar com a pessoa que despertou esse sentimento em você. No exemplo que dei, do amigo, você teria que conversar com ele e explicar o porquê sente que o seu tempo não está sendo minimamente valorizado por ele.
Respire. Não surte, exploda, grite. Descreva os fatos, expresse as suas opiniões e os seus sentimentos, fale o que você pensa, mas faça tudo educadamente. Deixe claro o que você quer, tanto em termos gerais (mais respeito e mais consideração, por exemplo) quanto em termos mais específicos.
O mais importante de tudo é fazer o seguinte: mostrar como um consenso beneficiará a todos os envolvidos. Nos momentos em que precisar convencer uma pessoa, mostre que a sua solução terá benefícios não apenas para você, mas também para ela.
4# USE A SUA RAIVA COMO FONTE DE MOTIVAÇÃO
Vamos voltar ao Conde de Monte Cristo? Quando nós nos zangamos, é comum nos tornarmos meio vingativos.
… Mas a melhor vingança não é o sucesso?
Se você passou por algum momento difícil graças a alguém e fantasia se vingar, pense que na realidade o melhor que você pode fazer é ser o melhor para si mesmo, se esforçar para atingir a sua visão de sucesso, e então deixar os outros para lá.
Imagina uma criança que sofreu bullying na escola, e sempre fantasiou sobre o dia que se tornaria bem-sucedida, incrível e humilharia os coleguinhas. Quando ela se tornar bem-sucedida e incrível, por que não esquecer a ideia de humilhar os coleguinhas e simplesmente aproveitar a vida dela?
Use a energia da raiva para completar um projeto novo, para correr em busca de outro objetivo. Pegue a sua raiva e faça algo incrível com ela: mude a sua perspectiva, mude toda a sua vida.
5# ENTENDA OS SEUS PONTOS FRACOS E VULNERABILIDADES
Por último, entenda o seguinte: geralmente, sentimos raiva quando alguém atinge um de nossos pontos-fracos.
Você está com raiva porque está sentindo ciúmes? Provavelmente, é porque a sua autoestima e a segurança foram atingida, ou o seu medo de abandono. Está com raiva porque um amigo desmarcou com você em cima da hora, quando você já tinha chegado no restaurante? É porque isso despertou em você um sentimentozinho de que você é um cara desinteressante, que passar o tempo do seu lado deve ser chato.
Portanto, analise com cuidado o que está por trás da sua raiva, porque vai ser a oportunidade perfeita para entender as suas vulnerabilidades e pontos fracos. Quando compreender quais são estes, trabalhe neles: faça terapia, leia sobre o assunto, fortaleça as suas defesas pessoais.