Salley Vickers, a autora do texto publicado no Five Books, é uma psicoterapeuta e escritora de sucesso, cuja obra tende conter elementos suficientes para classificar seus livros como “psicológicos”. Os seus romances incluem The Cleaner of Shartres, Dancing BackWards, e A Bibliotecária, o último publicado no Brasil no ano de 2020.
1# GRANDES ESPERANÇAS, CHARLES DICKENS (1861)
Vamos começar com “Grandes Esperanças”, um bildungsroman [“romance de formação”] que retrata o processo de desenvolvimento pessoal de um órfão apelidado de Pip. Trata-se do crescimento gradual do personagem – o conflito entre natureza e educação, e assim por diante -, o que faz deste romance uma boa escolha para o seu tema.
Eu acredito que o aspecto mais envolvente para mim é como ele funciona como um romance psicanalítico. É escrito por um Pip já maduro olhando para trás em sua vida, então é, por assim dizer, uma espécie de versão estendida do que poderia acontecer em uma sessão de psicanálise muito longa e profunda. Então, você obtém esse processo que nunca pode ter na vida exceto na psicanálise. E uma das razões pelas quais estou tão interessado em psicanálise é que se trata de contar histórias, sobre esclarecer a história sobre si mesmo – todos nós temos uma história sobre nós mesmos e, com sorte, a psicanálise irá esclarecer e purificar isso de uma forma que é criativa e potencialmente curativa.
Mas o que é interessante em “Grandes Esperanças” é a estrutura dupla que é estabelecida pelo Pip maduro escrevendo, mas, à medida que ele escreve, você também tem o jovem Pip, ingênuo e ignorante, emergindo também. Então, essa é uma habilidade técnica real que Dickens realiza – essa perspectiva dupla é impossível de se ter na vida real, exceto na psicanálise, ou talvez, em certo grau, é possível no confessionário também. Mas é um exemplo primordial de uma boa análise, pois Pip chega a ver onde estava cego, onde seus valores morais se desviaram.
Ideias sobre culpa e responsabilidade lutam por atenção também, e acho que a grande lição psicológica que aprendi ao ler o romance é que, mesmo que você não escolha certos aspectos do seu destino pessoal, você ainda é responsável por eles. Pip encontra Magwitch, o condenado, completamente contra sua vontade; ele não o deseja, nem escolhe; ele é confrontado pelo Magwitch em fuga, e as consequências disso assombram e perseguem Pip pelo resto de sua vida. E o que ele aprende é que você não pode desfazer isso, você tem que jogar com as cartas lhe que são dadas. Essa é uma das grandes lições da vida. É algo que, quando eu estava trabalhando com pessoas, estaria me esforçando para ajudá-las a aceitar. Podemos não gostar das cartas que nos são dadas, mas são as cartas que recebemos: nos são dados esses pais, essas condições e assim por diante. Nesse sentido, “Grandes Esperanças” é um exemplo bem-sucedido de psicologia realista.
Há um sentido em que todo o livro é uma representação da mente individual, rasgada em direções e entendimentos conflitantes, entre possíveis eus. Dickens aprecia como cada pessoa luta entre diferentes eus, um real, um ideal e outro temido. Somos instigados a imaginar que é o jovem Pip e que está vendo seus erros ao mesmo tempo que está sendo ele enquanto os comete. Nos envolvemos em seu desejo de que sua fortuna tenha vindo de Miss Havisham, mas, claro, não veio, e você sente muito por ele e realmente quer que seja verdade também. Como leitores ingênuos, não sabemos de onde veio o dinheiro, quero dizer, podemos adivinhar que não é de Miss Havisham, mas ele dá muitos sinais de que veio dela, e ela mesma colabora com isso. Quando essa revelação acontece, aquele momento de descoberta de que Pip foi enganado e se enganou, definitivamente faz uma exigência ao leitor: você tem que renunciar às suas próprias expectativas e esperanças por ele.
2# VILLETTE, CHARLOTTE BRONTË (1853)
O próximo romance, publicado cerca de uma década antes de “Grandes Esperanças”, é “Villette” (1853), de Charlotte Brontë. Trata-se da história de uma jovem, Lucy Snowe, que, assim como Pip, não possui parentes vivos conhecidos e viaja de sua Inglaterra natal para a fictícia cidade de língua francesa de Villette, na Bélgica, para lecionar em uma escola para meninas. Parece que, atualmente, um número crescente de escritores e acadêmicos está seguindo os passos de George Eliot e citando este como o melhor de Charlotte — ou seja, melhor do que “Jane Eyre”.
Não quero desmerecer “Jane Eyre”, inclusive, mas acredito que seja basicamente um conto de fadas. Recentemente contribuí para um novo volume de histórias intitulado “Reader, I Married Him“, todas baseadas nessa icônica frase final. Eu, pessoalmente, nunca gostei dessa frase, acho que tem algo presunçoso e autossatisfeito sobre ela. Também acredito — e isso é uma análise que faço de Charlotte Brontë — que havia algo em Charlotte Brontë que precisava diminuir Rochester e colocar Jane finalmente no controle sobre ele, e suspeito que isso tem a ver com suas próprias desventuras românticas, as áreas nas quais ela experimentou rejeição e onde se sentiu sexualmente pouco atraente. E é um momento em que sinto que o ego da autora se sobrepõe à evolução orgânica do livro.
Em “Villette”, no entanto, ela se mostra uma escritora muito mais madura. Brontë não tenta tornar Lucy Snowe alguém atraente. Em “Jane Eyre”, a protagonista é supostamente pequena e comum, mas sabemos que deveríamos considerá-la interessante, como Rochester faz. Brontë não faz isso com Lucy. Ela a deixa como é — Lucy permanece comum e emocionalmente reprimida. E raivosa. Brontë mantém isso corajosamente, até o final, quando ela pode ou não alcançar o que deseja. Há uma espécie de retenção da personalidade de Lucy Snowe; ela não faz nada para seduzir o leitor. Brontë é muito corajosa nisso: ela não está disposta a tornar Lucy Snowe atraente para os outros personagens ou para o leitor.
Ao longo do romance, Lucy Snowe experimenta diferentes identidades. Ela se veste de homem quando é obrigada a desempenhar esse papel em uma peça da escola; e então se veste com um vestido rosa muito feminino quando vai ao teatro com o Dr. John e sua mãe. Há algo sobre ela experimentar esses eus alternativos que, novamente, acho muito interessante e bastante radical.
As demandas psicológicas feitas ao leitor são, sem dúvida, maiores aqui do que em “Grandes Expectativas”, e certamente do que em “Jane Eyre”. Especialmente por causa do final e por causa da a mais brilhante descrição de um colapso nervoso no centro do livro, quando ela é praticamente deixada sozinha por Mme. Beck na escola enquanto todos estão de férias. É uma escrita extraordinária. Há uma qualidade fragmentada na prosa, de forma que você, como leitor, encontra uma incoerência ao lê-la, e se identifica com ela. É muito doloroso e tenho certeza de que é por isso que “Villette” não foi tão popular. Embora “Jane Eyre” pareça um pouco doloroso, você meio que sabe que ela terá um final feliz. Brontë não dá a Lucy um final feliz. Não sabemos se Monsieur Paul vai voltar para ela no final, e na realidade tudo indica que não. Inclusive, Brontë descreveu o final como um “pequeno enigma”; parece ser o oposto da linha “Reader, I married him” [“Leitor, casei-me com ele”]. Ela escolhe não se consolar com os tipos de consolações que um autor pode oferecer.
Ademais, “Villette” é um romance famoso por suas reviravoltas e, em particular, por uma em que a narradora conscientemente nos esconde informações importantes. Gosto de pensar que Brontë está, de certa forma, fazendo algo muito moderno ao dar ao leitor a experiência que Lucy Snowe está vivendo. Não nos é permitido ter uma noção segura do que está realmente acontecendo e do que está acontecendo ao redor dela. Portanto, evoca em nós as mesmas inseguranças que Lucy está passando. Essa é uma técnica muito moderna — você não encontra isso em George Eliot, que é uma psicóloga suprema. Acredito que “Villette” seja o “O Morro dos Ventos Uivantes” de Charlotte. Há a mesma espécie de perturbação no conforto dos leitores, e esse brilhante senso de que pensamos que é uma coisa e acaba sendo outra.
Existem algumas áreas em que o livro se torna um pouco pesado; não sou um grande fã do elemento protestante-católico dele. Parte do efeito do livro se deve à sua multifacetada natureza, e há partes que provavelmente poderiam ser retiradas por um editor atento. No entanto, lembra um pouco “1984”, que tem uma parte incrivelmente monótona no meio, mas se a retirássemos, o livro não seria tão eficaz e é difícil dizer por quê. Com a edição moderna, há uma tendência de agradar ao leitor e simplificar, e entendo o porquê – eles precisam vender os livros e colocá-los nas livrarias e assim por diante –, mas às vezes acho que seria interessante deixar essas partes irregulares no texto.
A freira, o fato de haver um assombramento, atua definitivamente como uma espécie de correlato ao estado de espírito fragmentado e delírio de Lucy Snowe, mas também está ligado a esta obsessão de Charlotte sobre catolicismo e protestantismo. Não sei se teria sido um livro melhor sem isso. Suponho que eu realmente aprecie essa irregularidade nele.
3# RETRATO DE UMA SENHORA, HENRY JAMES (1881)
Obtemos um outro estudo sobre a psicologia feminina em “Retrato de Uma Senhora”, de Henry James, embora sua protagonista, Isabel Archer, seja muito mais vivaz do que Lucy. Enquanto Lucy passivamente anseia por um amor que não a encontra, Isabel, ao menos no início, recusa ativamente propostas, tão focada parece estar em sua liberdade pessoal.
Henry James, ao ser questionado sobre por que dava dinheiro a seus personagens, respondeu: “Dei-lhes dinheiro porque quero conceder-lhes o máximo de liberdade possível”. Se recordarmos, no início da narrativa, Isabel Archer não possui dinheiro algum, sendo agraciada com uma herança de seu tio. Isso lhe confere uma liberdade que ela não possuía antes. Contudo, a lição aqui é que, por mais liberdade que pense ter, não a possui verdadeiramente se seus instintos não são livres.
No entanto, sua fortuna a acorrenta de uma forma diferente.
Empoderada pelo dinheiro, ela busca exercer seu poder. Deseja fazê-lo de uma maneira que parece benéfica, casando-se com Osmond e conferindo-lhe uma liberdade que ele não tem devido à sua pobreza. Ela o desposa pelos motivos errados. É um excelente exemplo de quando as pessoas agem por princípios forçados. Ela possui uma imagem de si mesma; o romance se chama “Retrato de Uma Senhora”, e isso sempre me intrigou, pois sou fascinado pelas imagens que as pessoas têm de si mesmas. Todos temos imagens de nós mesmos e, geralmente, elas causam mais mal do que bem. A imagem que Isabel tem de si mesma é de uma dama de magnanimidade e generosidade, o que até certo ponto é verdade, mas ser magnânimo e generoso só vale a pena se você souber onde aplicar essa magnanimidade e generosidade. Ela é ofuscada por sua própria imagem de patrona, e não consegue perceber quem realmente são os personagens ao seu redor e como eles a manipulam. Ela é deslumbrada por sua própria percepção de si mesma como alguém que pode fazer o bem.
Nesse sentido, trata-se muito sobre poder – ter o poder de definir a si mesmo e aos outros.
Henry James é brilhante ao discorrer sobre relações de poder. Muitos dizem que seus livros tratam sobre dinheiro e classe social, mas na verdade, eles são sobre poder. Ele compreendeu como todos somos seduzidos pelo poder. E aqui temos Isabel, que acredita ter um desejo por liberdade, mas cujo desejo mais forte é, de fato, pelo poder, o poder de exercer sua própria liberdade sobre os outros. E é por isso que ela faz sua terrível escolha no final do livro – o que acho incrivelmente doloroso – quando ela retorna a seu casamento infeliz. Há um reconhecimento tecido nas últimas páginas da obra, uma espécie de penitência, se assim preferir, onde, novamente, assim como Pip, Isabel se reconcilia com as limitações de sua própria imagem.
Admiro profundamente Henry James. Seu interesse estava na consciência e, em sua visão, o propósito de estar vivo era desenvolver a consciência, absorvendo mais e mais em uma tentativa de perceber o mundo como ele é, de forma mais plena, mais verdadeira, mais honesta e se relacionar com ele de forma mais verdadeira e honesta. E isso é inevitavelmente doloroso, pois envolve elementos de auto reconhecimento que são difíceis de suportar. Mas em seus termos, a vida seria insuportável sem esse desenvolvimento. James utiliza imagens de restrição, de adentrar cavernas e estreitamentos. O que parecia para Isabel como uma expansão da vida provou ser um beco sem saída.
4# FAZENDA MALDITA, STELLA GIBBONS (1932)
“Fazenda Maldita” de Stella Gibbons, publicado em 1932. É muito engraçado e muito bom e, sem dúvida, é uma sátira.
No livro, todos na fazenda para onde nossa protagonista, Flora, uma londrina de 19 anos, se muda (novamente, após a morte de seus pais) parecem estar sofrendo algum tipo de desenvolvimento atrofiado ou desequilíbrio psicológico. E, como resultado, a fazenda é uma bagunça.
Ah sim, está tudo lá: histeria, paranoia, transtorno obsessivo-compulsivo, repressão sexual e seu oposto — não tenho certeza de como deveríamos chamar isso hoje em dia. E é muito, muito engraçado — é uma espécie de paródia. Há uma parte, que posso citar de cor porque sempre achei hilária, quando o personagem chamado Sr. Meyerburg, ou ‘Sr. Mybug’, um escritor em potencial que está atrás de Flora, diz: “Sou um tipo estranho, selvagem e temperamental, mas há algo lá se você se importar em escavar”. E a próxima linha é simplesmente: “Flora não quis escavar”. Isso, de certa forma, resume Stella Gibbons, que, por um lado, oferece uma paródia maldosamente engraçada de todas as possíveis queixas psicológicas das quais as pessoas poderiam estar sofrendo na época, e por outro, uma espécie de recusa brusca de Flora em se envolver nisso.
O ponto sobre Flora é que ela é a representante do bom senso e da mente racional; todos os membros da família na fazenda são representações dos aspectos indisciplinados do inconsciente. Se quiséssemos, poderíamos dizer que Flora é o ego racional e o resto deles é o id, e o algo desagradável no galpão é uma versão paródica do inconsciente de Freud. Mas o remédio aqui não é uma análise profunda; o remédio é bom senso brusco e ajustes racionais. Gibbons também está parodiando o desenvolvimento de uma espécie de autoenvolvimento que, acredito, continuou a se desenvolver em nossa própria sociedade, uma espécie de excesso de interesse em sua própria posição e personalidade. Então, seu romance é também um comentário social — você poderia dizer que é um romance político também, já que desmistifica a tendência ao excesso de individualismo.
5# A LIVRARIA, PENELOPE FITZGERALD (1978)
Em geral, o estudo de Fitzgerald sobre a psique humana é bastante notável. Seus personagens são tão reais! E no que ela é verdadeiramente brilhante é na descrição do fracasso cotidiano; ela é absolutamente anti-heroica em todos os sentidos da palavra. Ela foi descrita como tendo uma simpatia especial por aqueles que foram, em sua própria frase, “nascidos para serem derrotados”, e tem um senso muito aguçado do que ela chama de “as tribos de torturadores” — há um trecho em um de seus livros onde ela diz sobre uma mulher terrível, “Ela pertencia à tribo dos torturadores; por que fingir que eles não existem?”
A razão pela qual escolhi esse romance — porque não é o meu favorito: meu favorito provavelmente é “The Gate of Angels”, ou “The Beginning of Spring” — é por causa do Brexit. Ele nos dá uma visão da mesquinhez e da mentalidade limitada de certas comunidades que percebem em pessoas que são forasteiras ou estranhas um alvo para colocar sua própria insatisfação. E isso é o que acontece com Florence Green, uma viúva de meia-idade, que decide abrir uma livraria nesta pequena comunidade de East Anglian e é derrotada pelo sadismo e malícia de um dos personagens principais lá que conspira para espalhar má vontade entre o resto da comunidade.
Acho que isso aconteceu com o Brexit. Então, não estou apenas interessada na psicologia do indivíduo, estou interessada na psicologia da sociedade: as maneiras pelas quais a sociedade pode adotar um humor que não resiste a qualquer tipo de análise racional. Tudo o que essa mulher está tentando fazer é administrar uma livraria na aldeia. Ela enfrenta outra mulher, Sra. Gamart, que brinca com a ideia de administrar a loja como um centro de artes — embora nunca tenha feito nada a respeito até agora e realmente não parecia interessada até Florence se mudar. A Sra. Gamart é muito mais poderosa do que Florence; ela tem “contatos”, entre eles “contatos parlamentares”, e muito mais dinheiro — ela mora na “casa grande” — e, discretamente e espalhando rumores e fofocas e insinuando que quando os negócios de outros comerciantes estão se deteriorando, é de alguma forma culpa da livraria, mesmo que você não pudesse possivelmente fazer qualquer conexão racional entre as duas coisas, ela vira a comunidade inteira contra Florence. Esta mulher engendra um sentimento de hostilidade tão forte que Florence é expulsa. É um estudo sobre a mentalidade de rebanho que vê os humanos se agruparem para atacar os feridos e vulneráveis — ou simplesmente os diferentes — entre nós. Florence é uma forasteira e uma viúva.
A campanha da Sra. Gamart é apoiada não apenas por seu dinheiro e influência, mas também pela lei [ela finalmente apresenta um caso contra Florence por estocar “Lolita”]. Fitzgerald é uma grande romancista sobre pessoas comuns e a coragem de pessoas comuns, mas também sobre as maneiras que os poderosos podem exercer sua influência coletiva de maneiras que podem causar tanto mal. E é assim que eu o relaciono com a psicologia do Brexit: as pessoas foram alimentadas com mentiras que alimentaram seus próprios sentimentos de insatisfação. Não há nada como nossos próprios sentimentos de insatisfação para nos fazer buscar alvos para contabilizar isso que estão fora de nós — Carl Jung tinha um ótimo termo para isso, que ele chamou de “sombra”. Embora esta mulher não tenha feito nada a qualquer uma das outras pessoas da comunidade, como elas mesmas estão sofrendo, é muito fácil, porque ela é um pouco estranha e fazendo algo incomum, torná-la, como os estrangeiros entre nós, a fonte de suas próprias insatisfações.
Muito disso parece se resumir a simples falhas de comunicação e à ausência de um diálogo honesto entre os personagens. AN Wilson descreveu Fitzgerald como “a mestra do que foi deixado não dito” e suas ficções como “histórias de amor não dito, incompreendido, não correspondido, de casamentos insatisfatórios que nunca são — como poderiam ser em uma sessão moderna de terapia — discutidos, de ironias que dependem de seus efeitos em semi-silêncios”. Ela também tinha um senso do místico e de outra dimensão. Pouco antes de morrer, ela escreveu muito lindamente sobre meu romance “Miss Garnet’s Angel” — ela o descreveu como “estranho, inesperado e assustador”. Ela tinha um verdadeiro senso do intangível. E às vezes o intangível é um humor público, como é em “A Livraria”, mas às vezes é algo mais misterioso que irrompe ou invade a vida cotidiana trazendo uma dimensão diferente.