Nos últimos dias, publicamos aqui no El Hombre um artigo sobre 3 hábitos dos finlandeses para adotar em nossas vidas. “Mas por que se inspirar nos finlandeses?”, você talvez esteja se perguntando. O motivo é que a Finlândia foi eleita pelo 6º ano consecutivo o país mais feliz do mundo.
O assunto gerou muito interesse em nossos leitores. Por isso, decidimos nos aprofundar no tema. A repórter Jillian Wilson, especializada em wellness, escreveu uma excelente matéria no Huff Post sobre “6 coisas que as pessoas fazem diferente na Finlândia”. Traduzimos abaixo o texto para o português, adaptando alguns trechos para o contexto brasileiro, já que a autora é americana e comparou a Finlândia com os Estados Unidos no artigo original.
Quando se trata de felicidade, é bem conhecido que os países nórdicos frequentemente obtêm altas pontuações em pesquisas de satisfação de vida. De fato, a Finlândia ocupou o primeiro lugar na lista de países mais felizes do Relatório Mundial da Felicidade por seis anos consecutivos, mesmo lidando com clima frio, invernos longos e falta de luz solar durante parte do ano em certas regiões do país. (Para referência, o Brasil ocupa a 49ª posição na lista do Relatório Mundial da Felicidade.)
Mesmo com essas condições aparentemente desfavoráveis, o povo finlandês prospera quando se trata de sua satisfação de vida, por uma miríade de razões, de acordo com especialistas em saúde mental.
Grande parte disso se deve ao fato de que a Finlândia possui sistemas que tornam certos aspectos da vida menos estressantes: a educação é amplamente gratuita, há bastante tempo livre no trabalho e a cobertura de saúde é garantida. Além disso, o país é muito, muito menor que o Brasil (a população é menor do que a população da cidade de São Paulo), o que também facilita algumas coisas.
Além desses sistemas, no entanto, existem hábitos e crenças que os finlandeses têm e que os ajudam a garantir regularmente o primeiro lugar na lista do Relatório Mundial da Felicidade. A seguir, especialistas finlandeses em saúde mental compartilham por que eles acham que as pessoas no país são mais felizes e como você pode utilizar algumas das ferramentas de felicidade do país também.
No Brasil (e em muitos outros países, na verdade), responder “bem” ou “tudo bem” quando perguntado “como você está?” é esperado. Detalhar demais suas dificuldades é mal visto por alguns e desconfortável para outros.
Na Finlândia, no entanto, há muito menos positividade compulsória. “Há mais tolerância em dizer ‘não está tudo bem’ ou ‘não estou me sentindo bem'”, disse Meri Larivaara, diretora de assuntos estratégicos da MIELI Mental Health Finland.
Larivaara acrescentou que essa é, em geral, uma observação baseada no tempo passado nos Estados Unidos e no tempo passado na Finlândia. Mas parte dessa honestidade emocional pode ser o que contribui para a felicidade geral da Finlândia.
No geral, sabemos que guardar suas emoções não faz bem. Você provavelmente se sentirá sobrecarregado, incompreendido e até um pouco preso. Alguns estudos afirmam que reprimir emoções também pode afetar a conexão social e está associado a morte prematura.
Embora as pessoas trabalhem muito na Finlândia, as horas de trabalho são geralmente razoáveis, o que significa que a maioria das pessoas tem um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
“Isso lhe dá tempo para relaxar em sua vida cotidiana e cuidar de si mesmo”, disse Larivaara.
No final das contas, há tempo para fazer atividades além do trabalho, observou Mirka Hintsanen, professora de psicologia na Universidade de Oulu.
Juho Saari, diretor da faculdade de ciências sociais da Universidade de Tampere, acrescentou que a maioria das pessoas não precisa se deslocar muito para chegar ao trabalho, o que também contribui para seus níveis de felicidade com o trabalho e a quantidade de tempo livre que têm em um dia.
Os três especialistas falaram sobre o papel importante da natureza na vida e felicidade de muitas pessoas na Finlândia.
Na verdade, o país tem regras conhecidas como “Everyman’s Right” (Direito de Todos), que permitem que as pessoas na Finlândia usem respeitosamente quase todas as florestas, lagos e áreas litorâneas gratuitamente, disse Saari. Isso significa que atividades como acampar, colher frutas silvestres, colher cogumelos, nadar, fazer caminhadas, andar a cavalo e esquiar são todas gratuitas nesses espaços públicos.
Hintsanen disse que você está sempre perto da natureza na Finlândia, esteja em uma das grandes cidades ou em pequenas cidades. “A natureza está em toda parte”, disse ela.
“Há estudos que mostram que a natureza realmente reduz o estresse, e isso também está relacionado à felicidade. Quando você tem menos estresse, é mais fácil ser feliz”, observou Hintsanen. Portanto, fazer uma caminhada em um parque próximo pode ajudá-lo a aproveitar essa dica de felicidade finlandesa.
“Nós realmente estamos ansiosos para nos desenvolver”, disse Larivaara, “e aprender coisas novas é bom para a sua saúde mental.” Ela disse que isso não significa necessariamente aprender um novo idioma ou uma tarefa relacionada ao trabalho. Pode ser tarefas mais simples, como experimentar uma nova receita ou fazer um curso sobre como velejar.
Saari acrescentou que a Finlândia tem um grande número de associações onde as pessoas podem fazer hobbies juntas — desde yoga até aulas de cerâmica. Ele disse que é barato se juntar a essas associações e isso também permite que as pessoas aprendam coisas novas.
Além disso, aprender coisas novas faz com que o tempo pareça mais abundante. Quando você sai da sua rotina diária e olha para trás em seu mês ou ano, o tempo vai parecer mais longo, e você sentirá que aproveitou ao máximo seus dias, como afirmou Adrian Bejan, professor de engenharia mecânica da Universidade Duke, ao HuffPost.
De acordo com Saari, os níveis de confiança entre os indivíduos na Finlândia são muito altos.
“É um país pequeno, as pessoas estabelecem redes entre diferentes pessoas e existe o que é chamado de ‘força dos laços'”, disse ele.
Como mencionado acima, o Brasil é muito maior que a Finlândia, o que torna a confiança generalizada mais difícil no Brasil, mas você ainda pode se cercar de um círculo de pessoas confiáveis.
Investir em suas relações sociais desempenha um papel importante na felicidade, disse Saari. “Há muitas pesquisas que dizem que se livrar da solidão é uma das coisas mais importantes” quando se trata de se sentir contente, observou ele. Na verdade, um estudo de 2021 afirmou que “a solidão é considerada um dos preditores negativos mais fortes da satisfação com a vida” — e relacionamentos próximos com os outros são necessários para uma vida plena.
Para aumentar sua sensação geral de contentamento, passe tempo com os amigos e familiares que preenchem sua vida. Valorize esses relacionamentos, mantenha contato com essas pessoas e continue construindo os laços que você tem.
“Se você vai em direção à experiência emocional da felicidade, suponho que culturalmente na Finlândia, felicidade não precisa significar uma emoção muito intensa de felicidade”, disse Larivaara. “Nosso conceito é mais como uma sensação constante de estar satisfeito com sua vida” e com o que você tem.
É mais uma sensação tranquila, explicou Larivaara. “Então, talvez seja mais fácil ser feliz dessa maneira do que se você buscar sentimentos intensos e experiências de felicidade o tempo todo”, acrescentou ela.
Saari concordou e disse que as pessoas na Finlândia têm um alto nível de satisfação com a vida. “No Relatório Mundial da Felicidade, eles não perguntam se as pessoas estão felizes, eles perguntam se estão satisfeitas com suas vidas”.
Em vez de buscar a euforia, você pode tentar encontrar as coisas em sua vida que o fazem se sentir satisfeito — como uma boa xícara de café ou seu carro confiável que nunca quebra — e tentar manter esses sentimentos (e buscar outras lembranças agradáveis) ao longo do seu dia.
“Acredito que, na cultura ocidental, falamos frequentemente sobre a felicidade, que é responsabilidade individual viver sua vida de forma que você possa ser feliz”, disse Hintsanen. “Temos a ilusão de que se fizermos tudo certo, então seremos felizes, e é nossa única responsabilidade”.
Há alguma verdade nisso, disse ela, mas a felicidade não depende apenas do indivíduo — também depende do ambiente, das circunstâncias da vida e das decisões na sociedade.
Ou seja, por exemplo, se você é professor e o seu distrito local cortou o salário de todos os professores, sua felicidade provavelmente será afetada. Mas a decisão de redução salarial estava fora do seu controle. Portanto, tão importante quanto tentar fazer coisas que impactem seu humor, isso não depende apenas de você.
“Não podemos tornar isso apenas responsabilidade do indivíduo, e acho que também é bom para todos lembrar disso. Existem outras coisas além do indivíduo”, acrescentou Hintsanen.
Ela explicou que existem fatores externos que influenciam a felicidade, como o ambiente social, as circunstâncias de vida e as decisões da sociedade. Portanto, é importante reconhecer que a felicidade não é apenas uma responsabilidade individual, mas também está relacionada ao contexto em que vivemos.
Em resumo, as pessoas na Finlândia adotam uma abordagem mais equilibrada em relação às emoções, priorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, desfrutam de acesso abundante à natureza, incentivam a aprendizagem contínua, constroem relações sociais baseadas na confiança e valorizam a sensação de contentamento em vez de buscar uma emoção avassaladora. No entanto, é importante lembrar que a felicidade também é influenciada por fatores externos, e não é apenas uma responsabilidade individual.
Essas são algumas das características e hábitos que contribuem para a alta posição da Finlândia no ranking de países mais felizes do mundo. Você pode aproveitar essas lições e incorporar alguns desses elementos em sua própria vida para buscar maior satisfação e bem-estar.
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