Assistiu ao Grammy no último domingo? Concordou com os grandes vencedores da noite?
Quem certamente não saiu de lá tão satisfeito assim foi Kanye West – quando Beck subiu ao palco para receber o prêmio de Álbum do Ano, Kanye ameaçou subir junto para protestar (como já havia feito em 2009 ao ver Taylor Swift recebendo um award no VMA). “Beck precisa respeitar o show business e deveria ter dado o prêmio para Beyoncé”, mandou o rapper durante o evento.
Concordar ou não é do jogo – seja sobre futebol, política ou música. Em qualquer lugar, entre amigos ou inimigos, a qualquer momento. Há, porém, alguns casos que beiram a unanimidade. Decisões tão contrastantes com a opinião alheia que imediatamente caem na categoria “injustiça”.
O Grammy, que acontece desde 1959, acredite, já cometeu muitas delas.
Maior e mais importante evento da música mundial o Grammy reconhece, ano após ano, os mais populares e prestigiados artistas, álbuns e músicas de cada temporada com suas cobiçadas estatuetas. Quer dizer, em teoria, é o que deveria acontecer.
Pois o Grammy é também notório por fazer escolhas controversas, polêmicas, no mínimo questionáveis. Dessas de fazer Kanye e o mundo instantaneamente contorcerem o nariz.
Relembre 8 das maiores injustiças já cometidas pela premiação norte-americana.
1967 – E os Beatles, cadê?
67 foi um ano sensacional para a música. Beatles e Beach Boys estavam em seus melhores momentos comercial e criativo, tendo recém lançado Sgt Peppers e Pet Sounds (discos que mudaram os rumos da música pop, simplesmente).
Os integrantes da academia até que reconheceram tal feito. Indicaram “Eleanor Rigby” e “Good Vibrations” para Melhor Gravação de Rock Contemporâneo. Uma das duas canções, certamente, levaria a estatueta.
Nada feito.
O prêmio acabou indo para “Winchester Cathedral”, música do engraçadinho e descartável grupo New Vaudeville Band.
Lembra deles? Pois é…
1970 – Led Zeppelin cai para o segundo escalão
Assim como os Beatles, o Led Zepellin é outro dos grandes injustiçados na história do Grammy. A única estatueta que a banda recebeu foi em 2005 – um chocho prêmio pelo conjunto da obra (Lifetime Achievement), que lembrava os 25 anos do fim do grupo.
A primeira grande injustiça veio em 1970.
O grupo de Robert Plant havia sido indicado na categoria Artista Revelação. Justo. Perfeito. Ok.
Quem levou o prêmio, porém, foi Crosby, Stills & Nash. Que merecem respeito, certamente. Mas alguém arriscaria dizer que eles mereciam mais um Grammy do que o Led, uma das maiores e mais influentes bandas de todos os tempos?
1979 – A Taste of Honey vs Elvis Costello
Interessante observar a quantidade de Artistas Revelação que não chegaram a lugar algum após o celebrado reconhecimento do Grammy, enquanto outros então ignorados escrevem o seu nome na história da música.
Foi o caso em 1979, quando o grupo disco (esquecido pelo tempo, aliás) A Taste of Honey conquistou a estatueta no lugar do lendário cantor e compositor britânico Elvis Costello.
1985 – O ano em que Lionel Richie afundou Prince e Bruce Springsteen
Não dá pra negar que Lionel Richie tem lá o seu talento. Mas aí pra dizer que o seu disco Can’t Slow Down poderia superar dois dos melhores, mais bem sucedidos e irônicos álbuns da década de 80 já seria exagerar na dose.
Foi o que aconteceu em 85.
Naquele ano, o júri do Grammy simplesmente achou que Richie merecia mais o prêmio de Álbum do Ano do que Prince e Bruce Springsteen – que, naquela temporada, haviam lançado Purple Rain e Born in the USA, respectivamente.
Vai entender…
1993 – Esqueceram do Nirvana
O mundo vivia uma revolução musical. A velha aristocracia musical sentia na pele os efeitos causados por um certo grupo de Seattle chamado Nirvana.
Quando o hino “Smells Like Teen Spirit” foi indicado para Melhor Canção de Rock, o sentimento era um só: já ganhou.
Surpresa, então, quando o prêmio acabou caindo nas mãos de Eric Clapton – que, verdade seja dita, já havia deixado para trás os seus tempos áureos. Tanto que a vitória veio através de uma regravação do hit setentista “Layla”, do seu Derek and the Dominoes.
Ou seja, a academia não só premiou uma canção acústica, um tanto quanto mela-cueca demais para ser considerada rock, como uma música que havia sido composta 22 anos atrás.
1997 – Celine Dion dá nocaute
Lembra do que aconteceu na música em 97? A gente te ajuda:
- O Beck lançou Odelay, considerado um dos melhores álbuns dos anos 90 por prestigiadas publicações como Q e Rolling Stone;
- O Smashing Pumpkins lançou Mellon Collie and the Infinite Sadness, discaço que trazia pérolas como “1979” e “Tonight Tonight”;
- O Fugees lançou The Score, tido como um dos grandes álbuns de hip hop de todos os tempos, que vendeu mais de 6 milhões de cópias e de hits como “Killing Me Softly” e “Ready or Not”.
Pois bem, nesse mesmo 1997 quem ganhou o Grammy de Álbum do Ano foi Celine Dion.
2001 – Steely Dan? Ah, para!
Nessa edição, o Grammy tinha uma bela e fortíssima lista de obras para escolher como Álbum do Ano.
O Radiohead, por exemplo, havia lançado Kid A, talvez o álbum mais avant-garde e influente gravado por uma grande banda nesse novo século. Também naquele ano, Beck lançou o elogiado Midnite Vultures, enquanto Eminem criou Marshall Mathers LP, disco marcante na história do rap.
Tudo isso, porém, não foi levado em conta quando o evento entregou o prêmio para Two Against Nature, um disco insosso que marcava o retorno dos light-rockers Steely Dan.
2008 – Tributo derruba Amy e Kanye
Esse foi o ano em que a categoria Melhor Álbum do Ano tinha dois grandes no páreo: Kanye West e o seu Graduation, e Amy Winehouse com Back to Black.
O Grammy, no entanto, optou por esquecê-los. Premiou Rivers – The Joni Letters, um disco tributo a Joni Mitchell assinado pelo veterano jazzista Herbie Hancock.
E não entenda mal: Herbie é, sem dúvida, um dos grandes da música. Mas dar a ele um prêmio por um álbum tributo é reconhecer: “Putz, esquecemos de você até então. Chegou a hora de recompensar as custas dos outros”.
Sem mais para o momento.