Tudo começou quando fomos comprar um roteador na Sta. Efigenia, em São Paulo, uma rua famosa por suas lojas de aparelhos eletrônicos. Passamos por uma tabacaria e os olhos de nosso editor-chefe brilharam: “Porra, precisamos de um desses para nosso carteado de quarta-feira”, ele diz. Olhei para o Lex, nosso editor de Comportamento, e logo percebi que seria uma ótima ideia. Entramos na loja e como não conhecíamos nada sobre charutos, o vendedor nos ofereceu uma caixa de Guantanemera – um charuto barato, mas, segundo ele, de qualidade. E então voltamos para casa com um roteador, uma caixa de charutos e o jogo dos Cavaleiros do Zodíaco.Chegamos à redação com o sentimento de uma criança com brinquedo novo; e por incrível que pareça, o jogo não saiu da sacola – estávamos decidindo a melhor hora de acender o charuto. A discussão terminou com o Lex preparando uma dose de Grey Goose e eu acendendo um cubano, o primeiro da minha vida.
No dia seguinte pesquisando no Google encontramos a Tabacaria Nacional, a maior charutaria do Brasil, e entramos em contato com o dono, Aluísio Hungria, que topou uma conversa comigo.
Fomos à loja na data combinada e tive a impressão de que era pequena, mas vendo o umidificador e a quantidade de charutos que tinha, mudei de ideia. Isqueiros, cachimbos e cortadores enchiam as grandes prateleiras da loja. Logo começamos com as perguntas e o Aluísio logo se mostrou um grande conhecedor do assunto.
Tivemos uma aula de 30 minutos. Aprendemos que qualquer hora pode ser boa para fumar um charuto, que é um momento “seu” de relaxamento. A bebida faz parte do ritual, mas não existe uma especifica para essa prática, segundo Aluísio. Tudo depende do seu gosto. (Aqui no El
Aluísio nos contou algumas histórias. Em 1959, por exemplo, durante a revolução cubana, Fidel Castro decidiu estatizar as fábricas. Como os donos não queriam ser meros gerentes, decidiram se mudar para outros países do caribe, como Republica Dominicana, Honduras e Panamá que hoje, juntos com Cuba, os maiores produtores de charuto do mundo. Mas os cubanos continuam no topo da lista. Quanto aos brasileiros? Eles também têm qualidade, mas ficam bem atrás dos caribenhos.
Importante lembrar que os de qualidade são os de folha inteira e não o de picada. A lição mais importante que tirei dessa conversa foi que não importa o charuto, a bebida ou a hora, mas sim a companhia – fumar um puro com um amigo de longa data, que faz este momento especial. O Aluísio nos disse que os charutos que compramos na Sta. Efigenia eram de péssima qualidade. Então nada mais justo, já que estávamos em uma tabacaria, do que pedir para ele nos indicar dois de qualidade. Levamos para a redação um Romeo y Julieta e um Cuesta-Rey.
De volta à redação, nem precisei falar nada: o Lex logo sentou ao meu lado e tratamos de acender os charutos. E, bebendo uma dose de Gold Label, começamos a escrever este texto. Depois de experimentar os charutos indicados, percebemos quão ruim eram os Guantanemera. Eu nunca tinha fumado um cubano de qualidade antes; o Lex apenas algumas vezes. Logo de cara percebi a suavidade e o sabor distinto, e com uma conversa bacana, percebi que todo ritual – amigos, bebidas, bate-papo e charuto – é bastante especial. Agora não vejo a hora de repetir isso algumas vezes no meu dia a dia. Meu conselho para você? Arrume um camarada velho de guerra e faça o mesmo.Hombre somos regados a Jack Daniel’s, mas aprendemos que não se deve molhar o charuto no drink).