O texto abaixo, escrito por Maria Popova, foi publicado originalmente no The Marginalian. Ele contempla o conselho atemporal de David Ogilvy a seu sobrinho de dezoito anos, Harry.
“Ninguém pode construir a ponte na qual você, e somente você, deve atravessar o rio da vida”, escreveu Nietzsche em uma reflexão de 1873 sobre o verdadeiro valor da educação.
John Dewey, uma geração mais tarde, enfatizou que a missão da educação não é “ensinar toda informação possível, mas cultivar hábitos profundos e capazes de distinguir crenças testadas de meras afirmações, suposições e opiniões”.
No entanto, para colher os frutos do que chamamos de educação, precisamos optar ativamente pela aquisição desses hábitos mentais – pois, como Adrienne Rich argumentou em seu espetacular discurso de formatura de 1977, a educação é algo que reivindicamos, e não que recebemos.
Mas talvez o caso mais elegante e convincente do que ganhamos ao nos esforçarmos para reivindicar uma educação venha de um campeão improvável. E ele é nada menos do que o lendário empresário inglês e ícone da era Mad Men, David Ogilvy (1911 – 1999).
Quando Harry, sobrinho de 18 anos de Ogilvy, concluiu o ensino médio em 1984, dividiu-se entre dois caminhos. Por um lado, Harry ansiava prosseguir com a educação superior. Por outro, cogitava mergulhar imediatamente na corrida frenética pela autorrealização profissional.
Em dúvida, o rapaz recorreu ao tio em busca de conselho. A resposta de Ogilvy pode ser encontrada em The Unpublished David Ogilvy. Ela é uma obra-prima retórica e um testemunho perene das recompensas finais da educação para aqueles que a buscam com um espírito ávido e receptivo.
Querido Harry,
Você me pergunta se deve passar os próximos três anos na universidade ou conseguir um emprego. Darei três respostas diferentes. Escolha a que preferir.
Resposta A: Você é ambicioso. Seus objetivos estão voltados para o topo, seja nos negócios ou no governo. As grandes corporações de hoje não podem ser geridas por amadores. Nestes tempos de alta tecnologia, as mesmas precisam de líderes que possuam doutorados em química, física, engenharia, geologia, etc.
Até mesmo gerentes intermediários estão em desvantagem a menos que possuam um diploma universitário e um MBA. Nos Estados Unidos, 18% da população tem um diploma, na Grã-Bretanha, apenas 7%. Oito por cento dos americanos têm pós-graduação, comparado a 1% dos britânicos. Isso, mais do que qualquer outra coisa, é o motivo pelo qual a gestão americana supera a britânica.
O mesmo acontece no governo. Quando eu tinha a sua idade, tínhamos o melhor serviço civil do mundo. Já atualmente, os funcionários públicos franceses são melhores que os nossos porque são educados para o cargo na pós-graduação da École Nationale d’Administration, enquanto os nossos vão direto de Balliol para Whitehall. Os profissionais franceses superam os amadores britânicos.
De qualquer forma, você é jovem demais para decidir o que quer fazer pelo resto da vida. Se passar os próximos anos na universidade, conhecerá o mundo — e a si mesmo — antes de chegar a hora de escolher sua carreira.
Resposta B: Pare de desperdiçar seu tempo na academia. Pare de se submeter ao tédio dos livros didáticos e das salas de aula. Pare de estudar para os exames antes que adquira um ódio incurável pela leitura.
Escape das influências estéreis dos professores, que não são nada mais que graduandos em conserva.
A falta de um diploma universitário será apenas um leve obstáculo na sua carreira. Na Grã-Bretanha, ainda é possível chegar ao topo sem diploma. O que a indústria e o governo precisam no topo não são tecnocratas, mas líderes. As características que fazem as pessoas serem acadêmicas na juventude não são as mesmas que as fazem ser líderes na vida adulta.
Você aguentou a educação por 12 anos tediosos. Já chega.
Resposta C: Não julgue o valor da educação superior em termos de carreirismo. Julgue-a pelo que é — uma oportunidade inestimável de enriquecer sua mente e a qualidade de sua vida. O meu pai foi um fracasso nos negócios, mas leu Horácio no banheiro até morrer, pobre, mas feliz.
Se você gosta de ser um estudioso e da companhia de estudiosos, vá para a universidade. Quem sabe, você pode terminar seus dias como um Professor Regius. E lembre-se de que as universidades britânicas ainda são as melhores do mundo — no nível de graduação. Sortudo você. Ganhar um Prêmio Nobel é mais satisfatório do que ser eleito presidente de alguma grande corporação ou tornar-se um Subsecretário Permanente em Whitehall.
Você tem uma mente de primeira classe. Expanda-a. Se tiver a oportunidade de ir para a universidade, não a desperdice. Você nunca se perdoaria.
Toneladas de amor,
David
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.
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