O seguinte texto, que gira em torno da estratégia estoica desenvolvida pelo filósofo Epicteto para superar um coração partido, foi publicado originalmente no site The Marginalian, pela redatora Maria Popova. Caso seja fluente em inglês e deseje ler o texto original, ele se encontra aqui.
Do contrário, continue conosco e esperamos que aproveite o aprendizado.
“O amor futuro não existe”, escreveu Tolstói ao contemplar as demandas paradoxais do amor. “O amor é uma atividade apenas presente. O homem que não manifesta amor no presente não tem amor.” É um conceito difícil de aceitar – fomos socializados a acreditar e buscar o ‘felizes para sempre’ de cada relação significativa. Mas o que acontece quando o amor, independentemente de sua categoria e classificação, se dissolve sob as forças intermináveis do tempo e da mudança, seja pela morte ou por algum outro desfecho deliberado? Em meio ao que parece ser uma perda insuportável, como nos ancoramos ao fato de que mesmo as coisas mais belas e mais singularmente gratificantes da vida são apenas um empréstimo do universo, concedido a nós por enquanto?
Há dois milênios, o grande filósofo estoico Epicteto (55–135 d.C.) argumentou que o antídoto para esse sofrimento intenso não é nos protegermos artificialmente contra a perda futura, mas, quando a perda ocorre, orientarmo-nos para ela e para o que a precedeu de uma maneira diferente – treinando-nos não apenas a aceitar, mas a abraçar a temporalidade de todas as coisas, mesmo aquelas que mais estimamos e que mais desejamos que se estendam pela eternidade, para que, quando o amor se vai, sejamos deixados com a irrevogável alegria de que ele entrou em nossas vidas e as animou pelo tempo que durou.
Nos Discursos de Epicteto, sob o título Não devemos ser movidos por um desejo daquelas coisas que não estão em nosso poder, o sábio estoico escreve:
“Quem é bom se não sabe quem é? E quem sabe o que é, se esquece que as coisas que foram feitas são perecíveis e que não é possível para um ser humano estar com outro sempre?”
Epicteto – um proponente da maravilhosa prática da autoanálise aplicada com gentileza – prossegue oferecendo uma meditação sobre o alívio da angústia da dor ao se separarmos permanentemente de alguém que amamos:
“Quando você se deleita com algo, deleite-se como se fosse uma coisa que não está entre aquelas que não podem ser tiradas, mas como algo como um pote de barro ou um copo de vidro, que, quando quebrado, você pode lembrar o que era e não ser perturbado. O que você ama não é seu: foi dado a você pelo presente, mas pode ser tirado a qualquer momento. Ele não foi dado a você para sempre; é como um figo que lhe é dado, ou um cacho de uvas que se colhe em uma estação designada do ano. Mas se você deseja essas coisas no inverno, você é um tolo. Portanto, se você deseja seu filho ou amigo quando não é permitido, saiba que está desejando um figo no inverno.”
Num sentimento que aborda a mortalidade corpórea de nossos entes queridos, mas igualmente aplicável à perda de amor num sentido não físico, Epicteto acrescenta:
“Nas vezes em que você se deleita com algo, coloque diante de si as aparências contrárias. Qual é o mal, enquanto você beija seu filho, de dizer com uma voz trêmula, ‘Amanhã você morrerá’; e a um amigo também, ‘Amanhã você partirá ou eu partirei, e nunca mais nos veremos’?”
Quando conseguimos considerar o que amamos dessa maneira, argumenta Epicteto, sua perda inevitável nos deixaria, não com uma devastação paralisante, mas com o que Abraham Lincoln mais tarde chamaria de “um sentimento triste e doce no coração”. Manter a memória da doçura do amor sem deixar que a dor da separação e da perda o amargure talvez seja o maior desafio para o coração enlutado, mas também sua maior realização.
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