Que morreu Eddie Van Halen, um dos maiores guitarristas da história, você já sabe. O que talvez você não saiba é por que ele foi o que foi e como ele influenciou uma geração inteira de guitarristas, músicos em geral e, mais importante, fãs de música.
Antes de tudo, é bom lembrar que Eddie não era apenas guitarrista – ele era pianista/tecladista e compositor. Não era, de acordo com Sammy Hagar, exatamente um letrista, mas quando você ouve com atenção, fica evidente que suas ideias melódicas e harmônicas são a força motriz das músicas.
Fácil para um dos maiores guitarristas do mundo, certo? Não. Primeiro, houve diversos outros guitarristas tão bons ou melhores que Eddie, tecnicamente falando. Podemos ir de, sei lá, Steve Vai a Paco de Lucia. Segundo, e talvez mais importante, é que dois dos maiores hits da banda não giram em torno da guitarra, mas do teclado, como é o caso de Jump, e do piano, como é o caso de Right Now.
Não parece grande coisa, mas é. Isso mostra que a criação está na cabeça e não nas mãos e que o senso de melodia e harmonia independe da sua qualidade como guitarrista. Em outras palavras, não houvesse a guitarra ou o piano, Eddie provavelmente tocaria banjo, sanfona ou corneta com destreza semelhante.
Fora isso, Eddie foi o primeiro a tocar com as duas mãos no braço, um dos primeiros entre os guitarristas super rápidos, super técnicos, super virtuosos e, mesmo assim, não deixou que suas músicas fossem chatas como a maioria de seus pares de estilo. Manteve-se radiofônico, divertido, interessante, acessível.
Sua carreira começou no fim dos anos 70 e estourou nos anos 80. O álbum de estréia, homônimo à banda, já continha Eruption, uma faixa em que ele, literalmente, sola. E por sola, eu quero dizer, sola. Toca sozinho. A faixa é a guitarra de Eddie, nem um instrumento mais.
Depois de entrar em turnê abrindo para o Kiss, a banda lança uma sequência de álbuns com sucesso, mas ainda muito pesado e um produto de nicho, para fãs de heavy metal – que não eram poucos no período.
As coisas começam a ficar realmente interessantes com o lançamento do álbum 1984, no ano que leva o nome do disco. Tenho para mim que a participação de EVH nas gravações do álbum Thriller, do Michael Jackson, e a convivência com Quincy Jones, fizeram muita diferença na visão de Eddie sobre a música de mainstream, e assim este álbum é pop e divertido, com Jump, Panama e Hot For Teacher como carros-chefe.
É importante reconhecer que a personalidade bufônica de David Lee Roth estava plenamente formada e fez muita diferença para que a banda assumisse uma certa capacidade de rir de si mesmo, de se admitir como “rock farofa” e atingir o estrelato. Só que a disputa pela liderança na banda – ali, ninguém poderia ser maior que Eddie – fez com que David saísse, lançando um bom trabalho solo que inclui o bom hit “Just a Gigolo”.
O álbum seguinte, 5150, já saiu com Sammy Hagar nos vocais e os hits “Why Can’t This Be Love” e “Dreams”. Neste momento, a banda se torna admitidamente pop-rock, com as letras de amor e auto-ajuda de Sammy sobrepondo-se às letras hedonistas e zoeiras de David.
Uma série de hits melosos como “When It’s Love” e “Right Now” nos álbuns subsequentes mantêm o Van Halen como uma das maiores bandas das décadas de 80 e 90.
Só que o raio caiu mais uma vez no mesmo lugar: no auge do sucesso da segunda formação, com o lançamento do smash hit “I Can’t Stop Loving You”, mais uma vez a guerra de egos tira o vocalista da banda. A partir de 1998, nem vale a pena registrar.
O Van Halen, centralizado na figura de seu guitarrista Eddie, foi uma banda a ser estudada, emulada, copiada. Uma quantidade enorme de hits, uma qualidade técnica monstruosa.
Quanto a mim, foi um dos músicos que, através de seu trabalho, mais me estimulou a me tornar músico. Reneguei EVH em algum momento, quando descobri a beleza da simplicidade de caras como BB King e Keith Richards. Uma década depois, talvez, voltei a ouvi-lo com prazer. Fica aqui, junto com as condolências à família, meu agradecimento por todas as músicas deixadas à posteridade.
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