Ladies & Gentlemen,
Pretendo ir a Paris, a cidade que mais detesto em todo mundo. A arrogância do parisiense me enoja. E é, para mim, um absurdo que eles sejam tão ignorantes a ponto de não saber falar o idioma universal, o inglês.
Vou vencer minha compreensível ojeriza a Paris porque quero ver pessoalmente a estátua de bronze de cinco metros que imortaliza um dos momentos mais dramáticos da história do futebol: a cabeçada que Zidane deu, na final da Copa de 2006, num italiano que mexera com sua irmã.
Tenho para mim que Zidane agiu como todo irmão que se preze deve agir. Talvez ele pudesse ter esperado o fim do jogo para justiçar o italiano, mas sempre haveria a possibilidade de que o provocador saísse do alcance de Zidane. Ele poderia levar a Copa, mas carregaria pelo resto da vida a culpa não haver defendido a honra de sua irmã.
Um artista argelino, conterrâneo de Zidane, parece concordar com isso. Por isso ele fez seu tributo brônzeo e gigantesco. Seu nome é Abdel Abdessemed. Aplaudo-o, modestamente, daqui.
Zidane foi, depois da Era Maradona, o maior jogador do mundo. Até minha mulher Chrissie, que discorda de mim em tudo, concorda nisso. O boss diz que um jogador brasileiro dos anos 1960 jogou tanto ou mais que ele: Ademir da Guia, do Palmeiras, aka Divino. Segundo o boss, Zidane é o Ademir careca. Não acredito.
Zidane levitava pelos gramados, cabeça erguida, passes precisos. Nem vocês, brasileiros, conseguiram detê-lo. Na final de 1998, Zidane foi Zidane.
Ri quando o boss alegou que o Brasil perdeu porque Ronaldo Fenômeno sofreu uma crise de pânico ou coisa parecida horas antes da decisão.
Come on, boss.
Não foi o Brasil que perdeu. Foi Zidane que ganhou.
O gesto de Zidane captado pela estátua é seu derradeiro ensinamento, depois de tantos que ele ofereceu nos gramados.
Ali ele estava dizendo: família é família, irmã é irmã. O futebol não é nada comparado a isso.
All the best,
Scott