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A Magia Literária do Deserto: 8 Narrativas do Velho Oeste

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O Velho Oeste sempre foi um cenário intrigante e atraente para escritores de todos os tempos. Paisagens áridas, duelos ao pôr do sol e desafios da fronteira têm algo místico que captura a imaginação de muitos. Cada um dos livros a seguir transporta o leitor para um tempo e lugar onde a bravura, a honra e o perigo se entrelaçam profundamente.

Vamos embarcar nesta viagem literária pelo Velho Oeste?

1# Bravura Indômita, de Charles Portis

“Bravura Indômita”, é mais do que uma simples história sobre o Velho Oeste; é uma reflexão profunda sobre a natureza da justiça, da determinação e do espírito humano diante da adversidade.

A trama segue a jovem Mattie Ross, de apenas 14 anos, que, após a morte violenta de seu pai nas mãos de um fora-da-lei chamado Tom Chaney, decide buscar vingança. Em sua missão, contrata o aguerrido e beberrão marechal Rooster Cogburn, esperando que sua bravura indômita e sua reputação de impiedade sejam a combinação perfeita para caçar Chaney nas terras perigosas do território indígena.

Ao longo de sua jornada, a dupla é acompanhada por LaBoeuf, um Texas Ranger que também está na trilha de Chaney por crimes cometidos em outro estado. Os três formam uma equipe improvável, e as dinâmicas entre eles – oscilando entre a tensão, o humor e o respeito relutante – adicionam uma rica camada de complexidade à história.

2# Meridiano de Sangue, Cormac McCarthy

Cormac McCarthy, conhecido por seu estilo distintivo e narrativas intensas, apresenta em “Meridiano de Sangue” uma visão do Velho Oeste que poucos se atreveriam a traçar. O romance não é apenas um retrato do Oeste, mas também um mergulho profundo na alma humana, explorando temas de brutalidade, desolação e a incessante busca pelo poder e domínio.

Ambientado na década de 1850, a história se desenrola em meio ao vasto e indomável território do sudoeste americano e norte do México. Ao invés de heróis de chapéu branco ou foras da lei carismáticos, McCarthy nos apresenta ao “Juiz”, uma figura quase mítica, gigantesca, calva e erudita que parece mais um demônio do que um homem. Ele é tanto filósofo quanto guerreiro, e sua presença ao longo do livro serve como um lembrete constante da natureza dual do homem, capaz de grande erudição e atos indescritíveis de violência.

Ao longo da narrativa, são frequentes os momentos de reflexão filosófica, muitas vezes entregues pelo próprio Juiz. Suas dissertações sobre guerra, natureza humana e o destino da humanidade são tanto perturbadoras quanto fascinantes. Ele argumenta que a guerra é o estado natural do homem e que aqueles que tentam resistir a ela estão simplesmente negando sua verdadeira natureza. Essas reflexões servem como um contraponto sombrio às cenas de violência e carnificina que permeiam o livro.

3# Uma Casa na Pradaria, Laura Ingalls Wilder

Ao ouvir as palavras “Velho Oeste”, a mente de muitos viaja imediatamente para jogos de azar e bandidos foragidos. No entanto, “Uma Casa na Pradaria”, da autora Laura Ingalls Wilder, nos oferece um olhar diferente sobre essa época. Ao invés das habituais narrativas carregadas de tensão e violência, somos convidados a entrar em um mundo de amor, de simplicidade e de descoberta.

Baseado nas memórias de infância de Wilder, o livro retrata a vida da família Ingalls enquanto se deslocam pelo Oeste americano, buscando estabelecer-se e construir um lar. As adversidades que encontram não são as de bandidos ou de duelos, mas sim as lutas diárias de enfrentar um ambiente muitas vezes inóspito, as dificuldades econômicas e os desafios de estabelecer raízes em uma terra nova e desconhecida.

Ao longo da narrativa, a pradaria não é apenas um cenário, mas quase um personagem por si só. Suas vastas extensões, flores silvestres e céus infinitos são descritos com um carinho e uma vivacidade que os tornam palpáveis. Em meio a essa paisagem, a jovem Laura e sua família experimentam alegrias simples: a construção de sua casa, a primeira colheita bem-sucedida, os momentos em família ao redor do fogo à noite.

4# Onde Os Velhos Não Têm Vez, Cormac McCarthy

“Onde Os Velhos Não Têm Vez”, escrito pelo renomado autor Cormac McCarthy, é uma obra que vai além da mera descrição de confrontos no Velho Oeste. O livro se aprofunda na análise do choque entre os valores tradicionais e a crescente modernização, ambientado no sul do Texas dos anos 1980. A narrativa entrelaça a brutalidade do Velho Oeste com os desafios do mundo contemporâneo, onde a fronteira entre bem e mal parece cada vez mais tênue.

O protagonista, Llewelyn Moss, após encontrar uma cena de massacre envolvendo um negócio de drogas mal-sucedido, decide pegar uma mala repleta de dinheiro. Essa decisão desencadeia uma série de eventos violentos e catastróficos, com o implacável assassino Anton Chigurh em seu encalço. Enquanto isso, o xerife Bell, um representante da “velha guarda”, tenta proteger Moss e entender a crescente onda de violência em sua cidade.

Em sua essência, a obra questiona se há espaço para a moralidade tradicional em uma era de cinismo e brutalidade crescentes. O título, por si só, sugere um mundo em que os valores e princípios da geração mais velha estão desaparecendo, dando lugar a uma nova ordem, mais complexa e ambígua. McCarthy habilmente tece uma tapeçaria onde o drama humano, a moralidade e a inevitabilidade da mudança coexistem em uma dança tensa e imprevisível.

5# O Regresso, Michael Punke

 A obra é ambientada nas impiedosas e inóspitas terras selvagens da América no início do século XIX e nos apresenta a impressionante história real de Hugh Glass, um experiente caçador e explorador.

Após ser brutalmente atacado por um urso e deixado para morrer por seus companheiros de equipe, Glass se encontra sozinho e gravemente ferido. Contra todas as probabilidades, se recusa a se entregar à morte. Com uma determinação feroz, Glass inicia uma árdua jornada, arrastando-se por centenas de milhas através de territórios inexplorados e hostis, enfrentando fome, exposição e predadores, tudo movido por dois sentimentos predominantes: a vontade de viver e o desejo de vingança contra aqueles que o abandonaram.

Em essência, Punke cria uma narrativa envolvente que celebra a tenacidade do espírito humano, mostrando que, mesmo nas circunstâncias mais desesperadoras, a vontade de viver e a busca por redenção podem nos levar a superar os mais insuperáveis desafios.

6# Um Caminho para a Liberdade, Jojo Moyes

Em “Um Caminho para a Liberdade”, Jojo Moyes oferece aos leitores uma perspectiva singular sobre o Velho Oeste, usando-o como pano de fundo para uma narrativa que explora temas de liberdade, autodescoberta e redenção. O Oeste, com sua vastidão e promessa de novos começos, serve como um refúgio para as protagonistas que buscam escapar das limitações da sociedade e dos papéis que lhes foram impostos.

A história segue duas mulheres, cada uma com seu próprio conjunto de adversidades. Ambas, sentindo-se aprisionadas por circunstâncias além de seu controle, veem no Oeste a chance de reescrever seus destinos. Enquanto viajam juntas, enfrentando os desafios da fronteira, desenvolvem um vínculo profundo, encontrando força e apoio mútuo.

Moyes habilmente utiliza o cenário desafiador do Oeste para ampliar os temas centrais do livro. A paisagem árida e selvagem reflete as batalhas internas das personagens enquanto elas buscam encontrar seu lugar no mundo. Cada montanha superada e cada adversidade enfrentada se torna um símbolo de sua jornada pessoal.

7# Relatos do Mundo, Paulette Jiles

Ambientada no pós-Guerra Civil do Texas, a narrativa segue o capitão Jefferson Kyle Kidd, um veterano de idade avançada que ganha a vida viajando de cidade em cidade, lendo notícias e compartilhando histórias com os habitantes locais.

Através de Kidd, Jiles demonstra o profundo anseio humano por conexão e entendimento em tempos de mudança e incerteza. Em uma época sem rádio, televisão ou internet, os relatos orais eram muito mais do que entretenimento: eram uma janela para o mundo, um meio de se manter informado e, acima de tudo, uma forma de lembrar que, apesar das adversidades, a humanidade compartilha experiências comuns.

No decorrer da trama, quando Kidd se depara com Johanna, uma jovem órfã que perdeu sua família e foi criada por nativos Kiowa, a história se aprofunda. A jornada conjunta de Kidd e Johanna torna-se uma representação palpável do poder curativo das histórias. Ao compartilharem suas próprias experiências e aprenderem sobre as respectivas culturas um do outro, eles descobrem a capacidade das histórias de curar feridas, superar diferenças e criar pontes de compreensão.

“Relatos do Mundo” não é apenas uma crônica de aventuras; é um testemunho da essência humana e da importância fundamental das histórias na construção de nossa identidade, compreensão e empatia coletivas.

8# Todos Os Belos Cavalos, Cormac McCarthy

Cormac McCarthy, em “Todos Os Belos Cavalos”, nos apresenta uma jornada emocionalmente carregada que explora temas de amor, perda e a incessante busca pelo sentido de pertencimento. A história, ambientada no pano de fundo das vastas paisagens do Texas e do México, segue o jovem John Grady Cole, que, após a morte de seus avós e a venda da fazenda da família, sente-se deslocado em sua própria terra natal.

Junto com seu amigo Lacey Rawlins, John decide cruzar a fronteira para o México em busca de aventura e, talvez, de um lugar onde possa realmente sentir-se em casa. No entanto, o que começa como uma jornada de autodescoberta rapidamente se transforma em uma odisséia repleta de desafios, amores e confrontos.

No coração da narrativa está o conceito de lar. Para John Grady, o lar não é apenas um lugar físico, mas também um estado emocional, um lugar onde o coração encontra paz e propósito. Através de suas experiências, McCarthy explora a ideia de que o lar não é necessariamente onde nascemos, mas onde encontramos amor, compreensão e, acima de tudo, aceitação.

“Todos Os Belos Cavalos” é mais do que uma história de aventura; é uma profunda reflexão sobre as complexidades do coração humano, a natureza efêmera da juventude e a eterna busca pelo lugar ao qual pertencemos.

E assim, cavalgamos juntos…

Ao explorar estes oito livros, mergulhamos profundamente na essência do Velho Oeste. Eles nos ensinam sobre bravura, amor, perda e redenção. Cada história é um testemunho do espírito humano e da busca incessante por significado em um mundo selvagem e inexplorado. Se você ainda não se aventurou por estas páginas, o convite está feito. Pegue sua montaria literária e vamos cavalgar juntos pelas vastidões do Oeste.

Camila Nogueira Nardelli

Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.

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