A tradição dos Estados Unidos nos esportes sempre foi respeitável. Com uma excelente estrutura para desenvolver atletas, vemos os norte-americanos como referência em muitas modalidades. Uma das raras exceções parece ser o futebol. Apesar do investimento ser alto, o país não consegue ter uma liga poderosa no futebol como tem no basquete, futebol americano, beisebol e hóquei. Mesmo com clubes saudáveis financeiramente, o que falta para a Major League Soccer (MLS) competir com as principais ligas europeias?
Após anunciar a venda do Orlando City, o empresário Flávio Augusto disse ao InfoMoney que com o atual crescimento da liga americana, a tendência é que ela ultrapasse a Europa daqui 10 ou 15 anos. E, de fato, a MLS tem se tornado maior a cada temporada. Em um estudo publicado em 2019 pelo CIES Football Observatory, a liga dos EUA foi o campeonato com o segundo maior crescimento na média de público desde 2003, perdendo somente para a Ekstraklasa (primeira divisão polonesa).
O aumento dos torcedores pode ser explicado pela contratação de grandes estrelas do futebol europeu nos últimos 15 anos. Nomes como Kaká, Gerrard, Lampard e Drogba decidiram passar a fase final de suas carreiras em clubes norte-americanos. Isso fez com que o interesse pelo campeonato aumentasse, trazendo mais e mais torcedores pros estádios. Apesar dos craques terem salários astronômicos, o retorno financeiro com marketing e bilheteria acaba compensando os investimentos.
Atualmente, a MLS opta por também investir em jovens talentos. Não são contratações tão aclamadas como as de clubes europeus, mas costumam render bem. Diego Rossi, atacante do Los Angeles FC, deixou o Penarol com apenas 20 anos para jogar nos EUA. Hoje, aos 23, o uruguaio já foi finalista da Concachampions (o torneio continental da América do Norte) e é um dos jogadores mais valiosos da liga. Por ainda ser um atleta jovem, Rossi possui um bom valor de mercado e pode ser vendido nos próximos anos, gerando um bom lucro para o time.
Dinheiro, público e desenvolvimento não parecem ser problemas para a MLS, que segue na direção certa apostando em jovens jogadores. Contudo, um dos fatores que ainda pesam na qualidade da liga é a falta de jogadores estadunidenses de alto nível. Nos últimos anos, algumas revelações até começaram a se destacar: Pulisic, McKennie e Reyna são alguns dos que já brilham em grandes clubes. Mesmo assim, se a MLS quer competir com a Europa, a maior parte dos atletas do país devem jogar no campeonato nacional.
As estrelas da seleção americana já seriam um bom passo para se estabelecer bem no cenário global do futebol. Mas só isso não deixaria a liga mais atrativa para o mundo todo. Outra solução é atrair mais jogadores de alto escalão para a MLS, que ainda têm nível técnico muito abaixo das grandes ligas europeias. Jovens promissores (como Rossi) podem ajudar a melhorar esse nível e, principalmente, irão apresentar retorno a longo prazo. Os clubes ainda podem explorar a qualidade de vida no país, mostrando as opções além do contrato que morar nos EUA pode oferecer.
Talvez a projeção de Flávio Augusto tenha sido um tanto otimista, buscando valorizar o projeto que ele investiu. Ainda faltam coisas importantes, que não estão no alcance da MLS para um salto grande em tão pouco tempo. Mesmo que não vire a NBA do futebol nos próximos anos, não é errado afirmar que a liga está ficando cada vez mais ambiciosa. Uma base sólida já começou a ser construída, virando assim uma alternativa fora do “velho continente” para alguns atletas.
Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Saiba Mais