Você talvez tenha ouvido o ditado: “Pessoas não mudam”. Na verdade, de acordo com a ciência psicológica, às vezes a nossa personalidade e os nossos gostos podem mudar, sim.
Christopher Soto, especialista na área de pesquisa de personalidade, deixou claro: “Estamos cientes que a mudança de personalidade pode ocorrer, que geralmente se dá gradualmente e que, na maioria das vezes, é para melhor. Mas ainda não entendemos completamente as causas dessas mudanças.”
Nós nos tornamos mais otimistas. Agora, uma nova análise de dados de 60.000 pessoas dos Estados Unidos, Holanda, Suécia, Escócia e Alemanha reforça relatórios anteriores de que a maioria de nós se torna menos neurótica após os 60 anos, crescendo em positividade até chegarmos à velhice.
A análise reuniu informações de 16 estudos e buscou conexões entre mudanças de personalidade, idade e gênero. Apesar das diferenças entre os estudos, padrões evidentes emergiram entre eles.
Todos os participantes responderam a questões projetadas para medir o que a teoria da psicologia chama de os Cinco Grandes Traços (The Big 5). O ponto chave é que os voluntários responderam às questões em pelo menos três ocasiões, revelando mudanças ao longo do tempo.
Quais são os Cinco Grandes Traços? Na teoria da personalidade dos Cinco Grandes, somos uma combinação de cinco traços essenciais: extroversão, amabilidade, abertura, consciência e neuroticismo. Cada traço é imaginado como uma escala, então você pode ser mais ou menos amável, por exemplo.
- Uma pessoa extrovertida possui os seguintes traços: emoções positivas mais frequentes, busca por excitação e por novidades, alto nível de energia, assertividade, sociabilidade e mais calor humano. Uma pessoa introvertida exibe as características contrárias;
- Uma pessoa amável tende a confiar nos demais, a ser honesta em suas relações, a demonstrar altruísmo, a buscar a cooperação em detrimento da competição, a ser modesta e a expressar simpatia e compaixão. Já as pessoas que são pouco amáveis não possuem tais traços, ou os exibe muito raramente;
- Uma pessoa consciente possui autoconfiança, alta capacidade de organização, é programada para cumprir os seus deveres, é ambiciosa, exibe autodisciplina e tende a ser alguém prudente. O desorganizado, ou pouco consciente, é o oposto disso;
- Uma pessoa com um alto grau de abertura tende a demonstrar interesses estéticos, a possuir imaginação e alta capacidade de fantasiar, um maior grau de intelectualidade, o gosto por experiências novas, a preocupar-se com a própria vida emocional e com a dos outros e a exibir tolerância diante da diversidade. A pessoa pouco aberta têm tais características em níveis reduzidos, ou sequer as possui;
- Uma pessoa neurótica exibe graus maiores de ansiedade, de irritabilidade, de falta de moderação, de tendência a sentir-se embaraçado ou envergonhado, de depressividade e de vulnerabilidade. Uma pessoa menos neurótica é, em geral, o oposto disso.
E o que podemos dizer com base nisso?
Pesquisas em anos anteriores mostraram aumentos em extroversão e em consciência dos 21 aos 60 anos, conforme nos expandimos em nossos papéis, construindo carreiras e famílias ou outros laços. No entanto, atualmente acredita-se que tanto a extroversão quanto a consciência diminuem consistentemente após os 60 anos, que é um momento no qual em geral nos sentimos mais livres para seguir nossos próprios caprichos e confortáveis sozinhos.
Mais alguns achados dessas novas pesquisas demonstram que a abertura se mantém estável até a meia-idade, mas tem a tendência a diminuir em nossos últimos anos de vida. Já o neuroticismo, muito presente em adolescentes, diminui na vida adulta, especialmente para as mulheres, antes de aumentar novamente conforme envelhecemos e as pessoas ao nosso redor começam a morrer.
Por que dizemos que “as pessoas não mudam”? A verdadeira mensagem do ditado é: não espere que as pessoas mudem da maneira que você deseja. Se elas mudarem, será de forma lenta e gradual.
Em uma análise recente, os pesquisadores afirmaram: “As pessoas mudam de maneira diferente em diferentes traços, a personalidade não é estável para todos ao longo da vida (mas é para algumas pessoas), e contabilizar ou explicar essas mudanças é difícil.”
A vida pode mudar você? Há evidências de que uma catástrofe pode alterar a personalidade, tornando uma pessoa extrovertida e menos neurótica retraída e ansiosa. Doenças graves, como demência, dependência ou algum transtorno mental, podem mudar a personalidade e o comportamento. Por exemplo, o alcoolismo ao longo do tempo desencadeia depressão e pode levar a comportamento abusivo.
Por outro lado, sentir-se feliz com sua vida pode reforçar certos traços de personalidade. Quando a vida está indo bem, você pode se tornar mais amável, consciente, emocionalmente estável e — talvez surpreendentemente — introvertido. Você pode se tornar mais autossuficiente e menos falador quando estiver contente.
Esse texto foi publicado originalmente na revista Psychology Today.