Praga tem o melhor e o pior que uma cidade pode ter. É de uma beleza capaz de fazer um homem frio ficar embargado. Você pode ouvir boa música clássica qualquer tarde numa das várias igrejas em torno da Ponte Carlos, andar enlevado pelo histórico bairro judeu e depois comer, por um terço do que se paga em Londres ou Paris, no modesto U Mecenase, um restaurante de 400 anos, um prato típico local – pequenos pedaços de carne recheada com bacon e flambada em brandy, acompanhados de croquetes de batata – que faz você agradecer a Deus por ter nascido com boca. De repente irrompe na rua um carro antigo alugado para turistas, e depois outro, e você dá passagem na calçada a jovens em patinetes motorizados, e um bonde avança silencioso — e Praga então compete em esplendor com Paris.
Mas ao mesmo tempo Praga surpreende pela grosseria tão frequente mesmo em pessoas que deveriam ter ao menos uma simpatia profissional: gente que lida com turistas. Guias e motoristas de excursão rudes, motoristas de táxi que sequer respondem a um bom dia e podem dar uma volta absurda para tirar mais dinheiro de você, balconistas que parecem estar fazendo um favor a você numa compra: tudo isso é bem mais comum do que deveria ser numa cidade belíssima como Praga.
Você pensa no início que deu azar em pegar alguém num mau dia, mas depois situações parecidas de grosseria vão se repetindo, e repetindo, e repetindo. É, provavelmente, uma herança da ocupação russa pós-Guerra. Foram mais de 40 anos sob as botas do stalinismo soviético, e quando pareceu que ia soprar uma brisa em 1968 os tanques russos trouxeram uma borrasca a Praga. Ainda hoje se vê o preço da longa temporada stalinista em Praga na rispidez quase que onipresente na cidade. Ainda assim, como escrevi no Twitter no saguão do bom aeroporto de Praga, com todos os defeitos, a cidade é tão linda que uma vez não basta. Você tem que voltar.
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