David Bowie ressuscitou. Depois de um certo sumiço, que provocou uma avalanche de teorias conspiratórias (câncer, mudança de sexo, morte violenta), ele reapareceu com um novo single, um vídeo belíssimo e o anúncio de lançamento de um disco de inéditas.
A música se chama Where Are We Now e virou hit em poucas horas. É produzida pelo velho parceiro Tony Visconti, com quem DB fez alguns dos maiores discos de sua carreira brilhante, como Young Americans e a clássica trilogia de Berlim: Lodger, Low e Heroes. Where Are We Now é uma canção nostálgica, com ecos de sua passagem pela capital alemã: “Sitting in the Dschungel/ On Nürnberger Straße.” Dschungel é “selva” em alemão e ele se refere ao zoo da cidade ou a um clube. Ele cita uma loja de departamentos chamada KaDeWe e a Potsdamer Platz.
O video tem sua marca: estranho e impecável. Salas desarrumadas e seu rosto, ao lado do de uma mulher misteriosa que não abre a boca, numa montagem tosca em que os dois encarnam ursinhos de pelúcia. A arte do disco The Next Day traz o título num quadrado branco sobre a foto de capa da obra-prima Heroes. A do single é um retrato de ponta cabeça da fase Young Americans.
Ele completou 66 anos e pode olhar para trás. Estamos falando de um artista que esteve sempre à frente de seu tempo (com um timing comercialmente perfeito). Bowie antecipou o punk, inventou o glam rock, popularizou a música eletrônica. Produziu e apadrinhou (segundo a mitologia do rock, fez um pouco mais do que isso) nomes como Lou Reed e Iggy Pop. Foi o roqueiro mais importante dos anos 70. Influenciou seus contemporâneos e quem veio depois dele. Duran Duran simplesmente não existiria sem ele. Nem Morrissey ou Arcade Fire. A lista é longa.
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Absorvia uma vanguarda, criava uma tendência e, quando virava moda, ele já estava em outra. Não apenas musicalmente, mas no visual (em março, o museu Victoria & Albert, em Londres, abrigará uma exposição cujo tema é seu estilo). A androginia de Ziggy Stardust e Alladin Sane foi imitada loucamente (Rita Lee, nos dois primeiros discos com o Tutti Frutti, lembrava uma espécie de Bowie de calças). Mais tarde, seus ternos quadrados e o topete foram copiados por todo mundo. Todo mundo.
Ok. Nos anos 80, ele fez bobagens como Labirinto, uma ficção científica em que usava uma peruca à la Tina Turner. Mas lançou pelo menos um dos grandes discos de pop dançante da década, Let’s Dance.
Foram dez anos sem material inédito. Nesse período, Bowie passou por uma cirurgia cardíaca (além de um fã ter atirado o que parecia ser um pirulito em seu olho, durante um show). Aproveitou para pintar. E conseguiu manter em silêncio absoluto esse projeto.
Os motivos de seu “exílio” permanecerão um mistério. Talvez ele tenha refletido sobre o fato de não ser mais relevante como no passado. Ou tenha preferido, diante dos problemas de saúde, ficar em casa com a filha pequena, Alexandria Zahra, e a mulher Iman. Mas Bowie está de volta, viva, sem golpes de marketing espetaculares, apenas fazendo o que sabe fazer como ninguém: cantando.
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