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A seleção espanhola é a melhor de todos os tempos?

O texto “A seleção espanhola é a melhor de todos os tempos?” foi publicado originalmente em julho/2012; veja aqui mais artigos da série “Clássicos ELH”, uma coletânea de textos atemporais em comemoração ao aniversário de 10 anos do El Hombre.

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Não.

Bastaria uma frase para preencher este artigo.

Não.

Mas vamos em frente. Era inevitável que este tipo de especulação aparecesse depois da vitória da Espanha na Eurocopa. Sobretudo porque, antes, a Espanha levara a Eurocopa de 2008 e a Copa do Mundo de 2010. Hoje no site da BBC a pergunta que dá título a este artigo animava um debate intenso.

A Espanha não suporta comparações com dois Brasis: o de 1958 e o de 1970.

Não eram tempos de televisão ubíqua, e a internet estava bem longe no futuro, e portanto a repercussão era bem menor do que agora.

O time do Brasil de 58 tinha Pelé aos 17 e Garrincha com pouco mais de 20. Pronto.

Discussão encerrada.

Era um time tão bom que, envelhecido quatro anos, e sem Pelé (contundido), ganhou o bi no Chile em 1962.

A grande pergunta é Brasil de 58 ou de 70?

Os que viram os dois times jogarem – quase todos já mortos – apontavam quase que unanimemente a seleção de 58 como a melhor. Em 70, Pelé já estava bem mais velho, Garrincha já trocara o futebol pela bebida. Em compensação tinham surgido gênios como Rivelino, Gérson, Jairzinho e, numa escala ligeiramente menor, Tostão.

Para mim, empate entre as duas. Com muitos gols: 4 a 4 ou 5 a 5.

Vistas as coisas em retrospectiva, 70 foi o canto do cisne do futebol brasileiro tal como se imortalizou na nostalgia dos fanáticos pela arte com a bola.

Sem que houvesse razão nenhuma para isso, vistos os resultados da seleção (três copas em quatro, e a derrota na Inglaterra porque caçaram Pelé sob a complacência dos juízes), o Brasil passou a imitar os europeus.

A prioridade passou do ataque à defesa. Zagallo foi o grande mentor disso, em parte porque ele próprio foi um atacante limitado e mais apto a defender do que a causar estragos na zaga adversária. Zagallo só jogou na seleção em 58 e 62 por ser do Rio, que dominava a então CBD. Pepe, do Santos, era um ponta-esquerda muito melhor que Zagallo.

O que ele fez em 1974, como técnico, foi o começo do fim do futebol arte. A partir de então, o Brasil passou a defender em vez de atacar. Virou uma Itália, ou uma Inglaterra.

A exceção notável foram as seleções de Telê, em 82 principalmente. Por um incrível azar o Brasil não foi campeão na Espanha, e então a tentativa de devolver a arte ao futebol nacional foi abortada.

Alguns anos depois, os clubes brasileiros já tinham consagrado os famosos cabeças de área, bons para destruir mas incapazes de construir, como Chicão, ou Dunga, ou Alemão. Os técnicos colocavam três ou até quatro em campo, e como consequência jogadores talentosos iam para o banco.

Coube ao Barcelona – e esta é uma contribuição milionária – ressuscitar o futebol bonito, de gente que sabe jogar, incluído o goleiro.

A surra que o Barcelona ofensivo deu no Santos retrancado foi um bálsamo para o Brasil.

No meu time, por exemplo, serviu para desfazer a tese de que Danilo e Alex, dois jogadores hábeis e de armação, não poderiam jogar juntos.

Clap, clap, clap para os espanhóis do Barcelona.

Agora.

Dizer que que a seleção espanhola é a melhor de todos os tempos só pode ser entendido se o objetivo é elevar a auto-estima de um país que enfrenta uma brutal crise econômica.

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Paulo Nogueira
Paulo Nogueira
Paulo Nogueira (1956-2017) é o pai de Pedro Nogueira, editor-chefe do El Hombre. "Ele foi meu herói", diz Pedro. "E continua sendo." Ao longo da carreira, dirigiu várias revistas da Abril e da Globo. Também escreveu artigos para o El Hombre que, frequentemente, reeditamos e republicamos no site.