A volta por cima da poupança

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O brasileiro é cheio de apegos. De quarta a domingo sacia a abstinência de bola rolando; na cadência do choro demarcado por um bom tamborim, lava a alma; a cervejinha é água benta, só que gelada e com gosto; e a caderneta de poupança, uma extensão de sua própria casa — são 108 milhões os que investem nela, número recorde. Esta última é o que nos traz a este foro de sonhos ainda não consumados.

E como sofreu a poupança nos últimos anos. Foi um linchamento público, em rede nacional e tudo. Disseram até que ela estava incinerando seu dinheiro — ao melhor estilo Vargas e as 72 milhões de sacas de café queimadas entre 1931 a 1943. Tudo porque, na época, ela rendia menos que a inflação, aumento constante e generalizado dos preços na economia de um país.

Mas mais que café, futebol e samba, o homo brazilis simpatiza mesmo é com uma boa volta por cima, daquelas épicas, banhadas de sangue, suor e lágrimas. E como Ronaldo em 2002, a poupança deixou Raulzito no shuffle e tentou outra vez.

A apoteose veio na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, no final de agosto. A taxa básica de juros, a Selic, que vinha repousando na casa dos 7% ou 8%, subiu para 9%. Com a mudança, o rendimento estimado para a poupança supera a inflação — que segundo o Banco Central deve fechar 2013 em 5,75% — e volta a valer a pena.

O retorno da poupança está diretamente ligado à Selic, taxa base da nossa economia. Se os juros estão abaixo ou em 8,5% ao ano, a caderneta rende 70% da Selic mais a taxa referencial (TR, que atualmente beira 0,0%); já se os juros superam os 8,5%, como agora, o rendimento é fixo em 6,17% ao ano e também acrescido da TR.

Então borá lá, é simples: pra você calcular quanto vai render sua aplicação na poupança, calcule sua taxa de retorno e subtraia o valor da inflação. Com a Selic em 9%, subtraímos uma inflação de 5,75% de um retorno de 6,17% e chegamos a 0,42%. É baixo? É, mas é seguro. No patamar dos juros a 7,25%, por exemplo, o rendimento, cujo valor correspondia a 70% da Selic (5%), era menor que a inflação do período, que já estava acima dos 5%. Por isso diziam que a poupança era corrosiva.

Prós e contras

Para quem está começando a poupar uma grana e pavimentando a estrada que leva à independência financeira, não há investimento mais seguro que a poupança. O único risco que você corre é se o seu banco falir. Mesmo assim, nesse caso você consegue reaver até R$ 60 mil através do Fundo Garantidor de Crédito, criado pelo governo pra garantir a segurança desse investimento. Como é mais difícil o Obama estabelecer uma rede mundial de espionagem a Argentina ganhar cinco Copas do Mundo do que o seu banco falir, fique tranquilo.

A versatilidade é outro atrativo: você consegue aplicar e retirar seu dinheiro a hora que quiser, diferentemente de outros investimentos, que requerem um prazo mínimo para a retirada da aplicação. E pra quem está juntando uma quantia pequena, de até R$ 10 mil, por um período de tempo de até dois anos, a poupança é um bom negócio; já se você pretende investir mais num prazo maior, dando aquela pitada de emoção na sua vida financeira, não perde por esperar as próximas colunas. Por ora, a grande notícia é que a nossa tão adorada poupança respira a plenos pulmões.

André Rossi

Jornalista especializado em finanças, André Rossi passou pelo curso de jornalismo econômico do Estadão e atualmente é repórter da revista Capital Aberto. Toda noite, antes de dormir, ele acende uma vela para Jesus ajudar o seu Palmeiras a subir.

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