InícioEntretenimentoFilmes & SériesAfinal, o novo Robocop é bom? Acreditamos que sim

Afinal, o novo Robocop é bom? Acreditamos que sim

Remakes são sempre assuntos polêmicos, ainda mais quando se tratam de filmes com uma legião de fãs fervorosa como a do Robocop de Paul Verhoeven, cineasta holandês famoso por dirigir filmes personalistas e cheios de simbolismos, sátiras e críticas. Seu último filme refeito, O Vingador do Futuro, fracassou tanto na bilheteria quanto na crítica, deixando os fãs de Robocop ainda mais preocupados.

O filme de 1987 era uma ideia original de dois roteiristas recém-formados em Los Angeles, que conseguiram persuadir Verhoeven – depois de muito trabalho e da ajuda da esposa do cineasta. Situado em uma Detroit distópica, o filme satirizava e criticava a mídia, o consumismo, corrupção e corporativismo com uma violência gráfica e até gore, em alguns momentos.

Para o remake, foi escolhido o brasileiro José Padilha, responsável pelos dois Tropas de Elite – escolha ousada já que se trata de seu primeiro trabalho em Hollywood para um grande estúdio, mas empolgante.

Por mais difícil – e injusto – que seja comparar as duas obras, aqui vão alguns pontos que nos chamaram a atenção, fazendo praticamente uma mini-tese sobre os dois longas.

Concepção

A criação e intenção dos realizadores acabaram sendo bem diferentes nos dois projetos.

Por mais que já houvesse franquias cinematográficas nos anos 80 – como Tubarão, Guerra nas Estrelas, O Poderoso Chefão e até mesmo o próprio Robocop, posteriormente, sem o envolvimento de Verhoeven – a indústria do cinema era diferente na época.

Atualmente, o principal objetivo dos estúdios ao produzirem um blockbuster é o número de sequências que aquele longa pode trazer – algo que é nítido no novo filme de Padilha, que poderia ser até intitulado de Robocop Begins ou Robocop Origins.

Se o longa de Verhoeven era, nesse ponto, menos pretensioso que o seu remake, focando apenas na sátira da sociedade e no aspecto filosófico de seu personagem, o novo Robocop busca uma identificação e sentimentalismo com o arco de seu protagonista e deixa ganchos para possíveis sequências, gastando muito mais tempo apresentando Alex Murphy e sua família, dramatizando de uma forma intensa o seu destino.

Pode-se dizer que esse Robocop segue a fórmula dos filmes de super-herói que imperam na indústria americana, diferente do longa que fecha em si mesmo feito por Verhoeven.

Direção

Por incrível que pareça, Padilha alcançou algo louvável, conseguindo deixar sua assinatura num longa feito por um estúdio, que poderia ter buscado apenas um diretor de encomenda.

Assim como em Tropa de Elite 1 e 2, o diretor em diversos pontos de vista – o da família, o da polícia, o da corporação, o da mídia – além de utilizar sua câmera nervosa marcante de seus dois longas anteriores como linguagem.

A principal diferença é a falta da violência gráfica de Verhoeven, algo que deve ter sido discutido com o estúdio, que queria fazer um filme que pudesse ser assistido por um público maior.

História

Para abordar diversos pontos de vista, o remake de Robocop tem mais personagens que o original, expandindo o mundo de Alex Murphy – e, como foi dito anteriormente, dando bastante atenção ao lado familiar do policial.

No longa de Padilha, Murphy é humano desde o começo como Robocop, algo que prejudica sua qualidade como policial, fazendo com que a empresa que o “criou” tire cada vez mais sua humanidade, enquanto no filme Verhoeven, Murphy se torna um robô que aos poucos vai recuperando seu lado humano. De qualquer forma, a reflexão em relação à transformação de Murphy continua lá, por mais que por meios diferentes.

A crítica em relação à mídia, consumismo, corporativismo, ganância e corrupção continua lá – e a criação do Robocop ganha ainda mais relevância com a utilização de drones pelos EUA ultimamente. O problema é que, ao escolher diversos pontos de vista, Padilha acaba atirando para todos os lados, sem escolher o seu.

Conclusão

Os fãs do longa de Verhoeven, definitivamente, não gostarão do remake, algo que é natural. A necessidade de se criar uma franquia com um filme comercial vai contra aquilo que o original satirizava, afinal.

A verdade é que o termo remake não é adequado ao filme de Padilha. O que o diretor e o estúdio fizeram é mais parecido com os reboots de personagens conhecidos, com uma nova abordagem, história e reinterpretação do que um refazimento propriamente dito – algo muito mais honesto do que recontar uma história e, aí sim, tirar o que o original tinha de especial.

No fim, o novo Robocop está mais para um reboot de um filme de super-heróis – só que muito mais rico e reflexivo do que a maioria que é lançada atualmente.

Diego Marques
Diego Marques
Diego Marques é formado em Rádio & TV pela FAAP; fez um curso de televisão na National Film and Television School, em Londres; e estudou cinema na New York Film Academy.