Todos devem ter uma lembrança aborrecida da infância de estar correndo para o mar e ser brutalmente interrompido pela mãe para passar protetor solar. Não, certamente todos têm essa lembrança.
E a cena se repetiu tantas vezes na etapa da vida em que sua autonomia era zero, que quando você passou a ter poder de escolha nunca mais quis ver um protetor na frente, tamanho foi o trauma. Ou você simplesmente é preguiçoso.
Mas uma coisa é fato: poucas pessoas passam protetor solar no dia a dia. E isso é um problema. O protetor solar é um dos grandes aliados na proteção da pele contra os raios agressivos do sol, especialmente no verão.
Esse recurso, no entanto, não é para ser utilizado apenas em praias, clubes ou parques. Onde quer que haja sol é preciso se proteger. Se você, portanto, trabalha na rua e o sol está a pino, use protetor. Se você demora duas horas para chegar no trabalho e fica com o braço pendurado na janela do carro, use protetor. Se você anda de bicicleta para lá e para cá na rotina diária, use protetor. Se você, sei lá, fica exposto ao sol no ponto de ônibus porque ele não tem cobertura, use protetor.
Segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), 80% dos melanomas são causados pela exposição ao sol. Esse tipo de câncer de pele, que tem origem nas células produtoras de melanina, é o mais agressivo devido a sua alta possibilidade de metástase, apesar de ser o menos comum.
O outro tipo de câncer de pele é o não melanona, que tem menor taxa de mortalidade e pode ser de várias linhagens diferentes, já que a pele tem diferentes tipos de células.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de pele é o mais frequente no Brasil e corresponde a 25% de todos os tumores malignos no país.
As pessoas mais suscetíveis a essa doença são as que têm a pele clara e isso acontece por conta de sua alta sensibilidade aos raios solares. No entanto, existem outros fatores de risco. Histórico familiar, maturidade (o pico de incidência é por volta dos 40 anos) e algumas doenças congênitas estão na lista.
Ah, e a exposição cumulativa e excessiva ao sol nos primeiros 20 anos de vida aumenta o risco do desenvolvimento do câncer de pele. Principalmente quando essa exposição acontece na infância.
Além dos fatores de risco pessoais, há também o fator ambiental, que favorece ou desfavorece o desenvolvimento da doença. Existe uma medida desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde que revela o índice de raios ultravioleta dos lugares. Se esse índice aponta de 8 a 10, a exposição aos raios é muito alto e de 11 para cima a exposição é extrema.
Segundo dados da Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA), alguns pontos do território brasileiro apresentam índices moderados de radiação ultravioleta, outros pontos revelam índices extremos e a grande maioria das terras nacionais são donas de índices muito altos.
Não há uma divisão regional específica entre essas diferenças, mas esses resultados apontam que o nosso país não é um lugar muito amistoso para a saúde da pele. No final da década de 90, foi realizado um estudo que revelou São Paulo como a cidade com a maior incidência de melanoma do país, seguido por Porto Alegre e Goiânia.
Em 2013, foi lançado o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, primeiro documento oficial sobre o assunto desenvolvido para o nosso país pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, que visa conscientizar a população sobre os riscos à exposição solar.
O documento alerta que “não existe medida fotoprotetora que, isoladamente, garanta uma fotoproteção adequada”. Então se for possível usar outras medidas além do protetor solar (roupas, acessórios e etc), use.
Uma opção para se proteger do sol é uma camiseta uv masculina, que tem um ótimo bloqueio de raios ultravioletas. Muito usada por quem costuma ir pra praia, ela também é uma boa alternativa para o dia a dia.
Quanto ao Fator de Proteção Solar (FPS), o Consenso Brasileiro de Fotoproteção recomenda a utilização dos produtos que tenham um FPS mínimo de 30. Os que ultrapassam esse valor devem ser utilizados por pessoas que vivem situações específicas (maior sensibilidade ao sol, antecedentes familiares, exposição demasiada por conta do trabalho) e os que oferecem FPS abaixo de 30 podem ser a opção de indivíduos de “pele étnica”.
Passar o protetor solar apenas uma vez por dia pode não ser o suficiente para se manter protegido por longos períodos. Procure reaplica-lo a cada duas ou três horas, mesmo os que são à prova d’água.
Passe o produto no mínimo 15 minutos antes da exposição ao sol e siga a regra da colher de chá: para rosto, pescoço e cabeça 1 colher de chá; para cada braço e antebraço 1 colher de chá; para frente e atrás do torso 2 colheres de chá; para cada coxa e perna 2 colheres de chá.
O câncer de pele pode ser facilmente curável se detectado nos estágios iniciais de desenvolvimento. O problema é quando ele é diagnosticado tardiamente e a metástase já se deu. Nesse caso, quando o câncer é do tipo melanoma, é quase sempre incurável e o tratamento passa a visar o alívio dos sintomas e a qualidade de vida. Por isso, o reconhecimento precoce da doença pode fazer toda a diferença.
O INCA aconselha-nos a fazer o autoexame de pele regularmente para não sermos pegos de surpresa. Transcrevemos abaixo as informações do site da instituição:
O que procurar?
O ABCD para o reconhecimento da transformação de uma pinta em um melanoma:
Como fazer?
Caso encontre qualquer diferença ou alteração, procure orientação médica. Ainda seguindo informações do INCA, o tratamento mais comum para o câncer de pele é a cirurgia. Mas tudo depende do estágio de desenvolvimento da doença. A quimioterapia e a radioterapia também são consideradas.
Como você pode perceber, a atenção que o protetor solar costuma receber por parte dos jovens não atende a real necessidade que a situação apresenta, talvez por conta deles não se sentirem ameaçados pelo câncer de pele.
Mas é aí que mora o problema, uma vez que a doença pode ser consequência desse descuido. É claro que você não vai sentir o efeito antes da causa. Então, leitor, fica a dica: não cause.
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