Dizem que o amor de mãe é o amor mais puro que exite. Se é ou não é eu nunca vou saber. Mas acredito.
Contudo, ao passo que isso eleva a figura materna a um patamar inalcançável aos outros seres humanos, também coloca um senhor peso nas costas das mães. O amor mais puro não deve sofrer deslizes, afinal.
Mas se mães são representações do sentimento sublimado, são também pessoas como eu e os senhores — falíveis.
Eu já disse, nunca vou saber, mas imagino que mãe, vez ou outra, também tem vontade de mandar o filho catar coquinho. E qual o problema nisso? Elas também têm sacos — e, sabemos, uma hora eles enchem.
As homenagens dos filhos às genitoras são cheias de referências aos carinhos e cuidado:
Obrigado por me amar.
Obrigado por me cuidar.
Obrigado por estar ao meu lado nos momentos difíceis.
Obrigado por me dar tudo o que eu quis na hora que eu quis.
Agora, me digam, qual o segredo em amar alguém nessas condições? O reconhecimento é válido, claro. Não, muito mais que isso: é necessário, é imprescindível. Mas amar a mãe perfeita é muito fácil.
Escrever um belo texto destacando as qualidades de quem lhe deu a vida é mamar na teta — mas, desculpem, está longe de ser gratidão. Ou melhor, é a gratidão em seu nível mais superficial.
São Tomás de Aquino fez um tratado sobre a gratidão em que a separa em três níveis:
Segundo o frade, o único idioma que expressa a gratidão em seu terceiro nível é o português com a palavra “obrigado”. Quando dizemos obrigado a alguém, estamos criando um vínculo com a pessoa, declarando que estamos “obrigados” a retribuir o auxílio que ela nos deu.
Agora, reflita: o seu “obrigado, mãe” expressa isso?
Convenhamos, senhores, uma publicação no Face ou uma flor no Dia das Mães não contam como retribuição. Beleza?
Ame a sua mãe em todas as suas imperfeições e demonstrará sua verdadeira gratidão pelos cuidados recebidos. No dia a dia, onde o bicho pega, é que o amor vale de verdade.
Tenha paciência, seja tolerante, auxilie-a em suas dificuldades e faça com que seu recado no segundo domingo de maio tenha coerência.
O verdadeiro amor filial não se manifesta na vida notória das redes sociais — mas na intimidade discreta do lar.
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