No último dia 2 de setembro o Senado aprovou um decreto legislativo que suspende a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, em 2011, proibiu a venda de inibidores de apetite. Alguns medicamentos tiveram sua comercialização impedida (como os à base de anfepramona, femproporex e mazindol) e houve restrições à venda e ao registro da sibutramina, um dos medicamentos mais vendidos atualmente para redução do apetite.
Para que o leitor possa entender esta questão tão polêmica, devo esclarecer que há apenas um mês era sim possível o uso de sibutramina por pacientes obesos, porém com grande controle de receituários e apenas com indicação médica. A medida, tomada pela Anvisa, tinha como objetivo extinguir o consumo destes medicamentos sem acompanhamento médico.
Agora, com o decreto legislativo aprovado, essas substâncias ficaram liberadas mais uma vez.
Não raro esses remédios, conhecidos como anfetamínicos, eram usados como “rebite” por caminhoneiros, ou em festas por seus efeitos “acelerador” e “estimulador”. Além do uso para emagrecimento rápido sem qualquer orientação.
Polêmica instalada, agora questiono a você, leitor do ELH: o que pensa da proibição ou liberação destes medicamentos?
Posso dizer que entendo a preocupação da Anvisa que, como um pai que coloca limite aos filhos, abre nossos olhos para a venda indevida de uma droga com efeitos bastante sérios. E como um pai que, quando proíbe é tido como “chato” e “careta”, lá foram os médicos questionar sobre o trabalho que agora seus pacientes teriam ao comprar esta medicação controlada.
Entendo que pessoas obesas correm risco de vida caso não consumam inibidores de apetite. Porém, como psicóloga, sei que tais “fomes” não são apenas orgânicas, por alimentos. A comida pode ser também uma dependência.
O obeso encontra, ao comer, prazer e conforto. É onde descarrega sua ansiedade e angústia e, muitas vezes, transforma a comida em seu maior companheiro e amigo. Nestes casos falamos de uma fome que não está apenas ligada ao apetite.
Será então seguro tirar bruscamente de um paciente seu ponto de apoio? Para onde ele direcionará sua ansiedade, uma vez que não mais sentirá fome? Será suficiente para controle desta voracidade o uso de um medicamento?
Poderia pensar então que muitos pacientes se beneficiarão com a venda destes medicamentos, quando aliado a uma psicoterapia. A droga inibirá o sintoma: a gula e consequentemente a obesidade. Enquanto isso a terapia buscará a causa: o verdadeiro sentido desta fome. Aí então a sibutramina terá um papel de “alavancar” uma busca pela saúde mental e corporal.
Porém, a liberação de anfetamínicos os deixa à disposição daqueles que farão uso indevido: mulheres e homens, vítimas das altas exigências pelo corpo perfeito e da dismorfia, que o utilizarão sem acompanhamento médico; jovens que, para aproveitar as inúmeras horas de festas, desejam ficar “pilhados” e “ligados”; caminhoneiros que, ignorando o cansaço natural de seus corpos, forçam-os a extremos nas estradas. E em todos estes casos as consequências podem ser mortíferas.
E então concluo: Proibir ou não proibir? Eis a questão.