Ajudamos a construir um dos nossos complicados rivais em 2014. O futebol brasileiro, mesmo indiretamente, influenciou a sensação da Copa do Mundo brasileira — a Bélgica — a se classificar depois de ter ficado de fora dos últimos mundiais. Na verdade, o árbitro Peter Prendergast foi um dos mais influentes nesta história. Tudo começou em 2002, na Copa do Mundo do Japão e Coréia.
Aos 35 minutos do primeiro tempo, em jogo válido pelas oitavas de final daquele mundial, Marc Wilmots, após cruzamento na área, subiu de cabeça para fazer 1 a 0 para a Bélgica contra o Brasil. O juiz Prendergast anulou o tento, e o Brasil superou a pressão dos europeus e marcou dois gols para avançar rumo ao pentacampeonato mundial.
Este jogo e a eliminação na Copa mudou a vida do futebol belga. A Bélgica conta atualmente, em minha opinião, com um dos melhores times do futebol europeu. E olha que vi muitos jogos das Eliminatórias Europeias para a Copa de 2014. Essa revolução é fruto de um plano imposto pela Confederação de futebol do país.
O técnico Wilmots – aquele mesmo que em 2002 marcou o gol anulado contra o Brasil – conseguiu garantir uma vaga ao time belga para a Copa de 2014 na última sexta-feira, dia 11, após a vitória contra a Croácia. O segredo disso foi a iniciativa, lá no passado, de levar as eventuais promessas do futebol local para serem reveladas em outros países. A Confederação belga fez uma grande peneira e incentivou os jovens a atuarem por clubes de outros países.
São vários os casos dos atuais convocados que saíram cedo, inclusive os três principais nomes do país: Eden Hazard, que foi com 14 anos para o Lille, da França; Thomas Vermaelen, que aos 15 se aventurou no Ajax, da Holanda; e, por fim, o atacante Romeo Lukaku, que foi com 18 para o Chelsea, da Inglaterra. Outros casos são: Toby Alderweireld no Ajax (transferiu-se aos 15 anos), Jan Vertonghen também no Ajax (16), Mousa Dembele no Willem II (18), Nacer Chadli no MVV (15) e Kevin Mirallas no Lille (17).
Essa iniciativa deu certo. Os belgas agradecem ao Brasil e a Peter Prendergast pelo “empurrãozinho” de revolução no futebol do país. E vem mais gente por aí. Aos 17 anos, o atacante Zakaria Bakkali já é destaque do PSV Eindhoven. O meia Charles Musonda, 16, está no Chelsea. A promessa Yannick Ferreira Carrasco, 20, enfileira gols pelo bilionário Mônaco. E a revelação Adnan Januzaj, 18, brilha pelo Manchester United. Já vejo esta geração de ouro da Bélgica nos dando mais trabalho do que em 2002.