É um tema recorrente que me vem à mente. Quando tenho a oportunidade, falo e vejo com simpatia pessoas usando uma bicicleta diariamente para se locomover. Não poupo os melhores elogios e comentários para defender o bicicleteiro.
Moro desde 1964 em Franca, que considero uma cidade de grande porte, mas que naquela época tinha a metade dos habitantes de hoje. Segundo dados da Associação Industrial, era o polo calçadista do Brasil, e tinha em torno de 700 fábricas de calçados. Na produção trabalhavam mais ou menos 13,000 funcionários, cujo principal meio de locomoção era constituído por bicicletas, as famosas “barra-circular”. Me lembro que nos horários de entrada e saída de funcionários as ruas as enchiam e se congestionavam de bicicletas.
Considero o uso deste transporte alternativo (ou não, visto que é mais original do que o motorizado) uma atitude benéfica sob os mais variados aspectos:
- Economia de combustíveis fósseis;
- Desafogamento do trânsito;
- Benefícios à saúde como um todo.
Não posso deixar de mencionar aqui o fato de que muitos destes funcionários, da Franca antiga, praticavam seu futebol de várzea nos fins de semana, e o pedal se constituía em uma preparação física bastante eficiente.
O DECLÍNIO (E A VOLTA) DOS BICICLETEIROS
Com o passar dos tempos, a economia da cidade diversificou: passou de industrial a serviços e comércio. Os bicicleteiros largaram suas magrelas beneficiados pelo volume de crédito disponível e passaram a usar motocicletas ou carros na mobilidade urbana. Considero que a alta carga de tributos incidentes (em torno de 72%), assim como a ausência de apoio das empresas, com locais de estacionamentos e instalações para os funcionários usarem após a pedalada, foram determinantes para que isso acontecesse.
Mas tenho o hábito de pedalar a partir das 6 horas da manhã e observo que a bicicleta ainda é utilizada por muitos trabalhadores vindos de suas residências e se dirigindo aos locais de trabalho. Creio que como temos em Franca um trânsito de automóveis relativamente civilizado, somado à descentralização do comércio e indústria nos diversos distritos da cidade, o uso da bicicleta para o transporte está voltando.
Mesmo com poucas atitudes por parte do poder público e das empresas, a modalidade vai se firmando como opção. Uma iniciativa que ajudou foi a criação de ciclo-faixas, que começaram a existir em várias cidades do país, nas quais os governantes são mais sensíveis à questão.
CICLISTAS, BIKERS & BICICLETEIROS
Me considero integrante da tribo de ciclistas e bikers, que utilizam a bicicleta para lazer, viagens de ciclo-turismo e/ou exercícios físicos. Sou um veterano na modalidade. Mais recentemente, quando a explosão de ciclistas aconteceu no Brasil, a exemplo do mundo todo, me associei a pequenos grupos, visando mais segurança e também para interagir socialmente.
Quando cruzamos com ciclistas que utilizam as bikes para se locomover, quer ir ao trabalho ou mesmo no deslocamento na cidade, sinto que são um pouco invisíveis para meus companheiros de pedal.
Ora, pedalar como turista é uma atitude saudável em vários aspectos, mas em minha opinião os bicicleteiros são a meta de todo o sistema. É ele que vai fazer nosso trânsito melhorar; o ar ser menos poluído; e ainda serão cidadãos mais saudáveis. Por estes motivos, respeito muito — e acho que todos deveriam respeitar — essa parcela de colaboração que eles dão à nossa comunidade.
Bicicleteiro, este é o cara.