Me lembro de ter lido o post abaixo que viralizou – pelo menos na minha timeline – e dar risada. Mas o que parecia ser uma piada fazendo graça dos paulistanos se tornou uma epidemia global.
Com a legalização da maconha em diversos lugares, desde o Uruguai até mais de 20 estados nos Estados Unidos, a droga tem aberto um leque grande no mercado para os maconheiros de plantão.
Sério. O ramo da maconha é hoje considerado um dos mais quentes para startups no mundo todo. Já há pelo menos 10 empresas que conseguiram arrecadar mais de 1 milhão de dólares – isso sem contar a Privateer, que recebeu investimento de ninguém menos do que Peter Thiel, chegando a conseguir 75 milhões e se tornando a principal fonte para conseguir o bom e velho cigarrinho do capeta nos EUA.
Diversos tipos de serviço têm aparecido com a legalização – há startups que te ajudam a conseguir maconha, outras a descobrir qual seria a melhor para o seu gosto e onde está a loja mais próxima. Até faculdades para comercialização, medicamento e plantação de Cannabis já existem.
Cara, o Denver Post, principal e mais antigo jornal do Colorado, já até montou um editorial para os consumidores da erva, contratando críticos para cada tipo diferente (!).
CANNABIERS
Mas existe algo parecido com o que nosso amigo disse se espalhando pelo globo. Algo mais hype, cool e feito para todos os maconheiros esnobes do mundo todo: os cannabiers.
“O que seriam os cannabiers?”, você deve estar se perguntando, eu sei. A explicação vem através de uma simples conta matemática, destacada abaixo:
Cannabis + Sommeliers = Cannabiers.
Começou no Colorado, com os budtenders (um trocadilho de bartender com buds, o camarão da erva, caso você esteja se perguntando, amigo careta). O budtender basicamente serve para o cliente a erva que tem mais a ver com o que ele busca, seja em termos de efeito, duração, experiência do usuário, etc.
Mas o cannabier é algo maior, mais estudioso, meticuloso e, claro, não pode deixar de ser esnobe.
O termo foi cunhado pelo antropólogo Marcos Verissimo na sua tese sobre Cultura Canábica na Universidade Federal do Rio. O neologismo surgiu por conta da similaridade do processo de maturação da erva até estar pronta para o uso, além do interesse pelo auto-cultivo. Existe todo um método até a degustação, demandando sabedoria e paciência durante o processo.
Como cada tipo tem um cheiro, gosto e efeito, o uso exige um conhecimento parecido com o dos somelliers em relação aos vinhos mais consagrados.
Os cannabiers são verdadeiros especialista em Cannabis. Eles sabem absolutamente tudo da planta. São os mais capazes de indicar a erva certa para você porque irão considerar qual a sua intenção com o rolê: relaxar, refletir, agitar e etc.
Por exemplo, de acordo com essa matéria do Thought Catalog, a cannabis sativa dá um efeito animador, mentalmente estimulante. Já a cannabis indica vai dar um efeito mais sedativo, que influencia muito o corpo.
Para você ter uma ideia, os cannabiers chegam a falar em notas de manga, madeira, limão, como nos conta essa reportagem do Socialista Morena, que conversou com cannabiers brasileiros. Ou seja, é possível apreciar o aroma das ervas. E não somente isso, mas o aroma indica quais os componentes da planta e qual a qualidade dela. Chega de pelo, de amoníaco, hombre.
Continuando no exemplo acima, a sativa cheira a diesel ou a outros produtos químicos, enquanto a indica tem um aroma forte de terra ou chocolate.
E todo o processo de plantio é cuidadosamente gerenciado. Temperatura, iluminação, poda, tudo é controlado para alcançar o objetivo determinado.
Esse tipo de serviço – e estudo – já existe em alguns países da Europa, estados nos Estados Unidos e, agora, no Uruguai. No Brasil esses caras ainda vivem no submundo, devido à ilegalização do cultivo. Mas há um universo dos cannabiers, com encontros onde se experimentam a crias de cada um. Inclusive, no site Growroom você vai conhecer muito sobre o mundo da cannabis e seus especialistas.
O primeiro (autointitulado) Sommelier de Cannabis do mundo é o americano de Colorado Max Montrose. Nesse vídeo de apresentação ele nos mostra como realmente há muita coisa a aprender no universo da maconha.
Max chama o processo de especialização em maconha de “interpening”: “Meu nome é Max Montrose e eu sou um especialista em cannabis que está aqui para te ensinar sobre um processo chamado interpening.” Essa é uma neologia (mais uma) vinda de “terpene” (em português terpeno), que é o composto orgânico de plantas geralmente associado às fragrâncias.
Ou seja, essa especialização está associada ao aroma da planta, que leva todo o segredo (aparentemente, ao menos, não sou um cannabier).
Então, caso a maconha acabe sendo legalizada no Brasil, tudo o que tenho a dizer, no melhor estilo GoT, é: “Brace yourselves. Cannabiers are coming!”. Não demorará muito a vermos cenas como essa abaixo.
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