No futebol, os cartões foram criados para a Copa de 1970, como uma maneira de disciplinar os jogadores. Ao longo do tempo, foram se estabelecendo critérios para a aplicação deles. Caso ocorra uma entrada violenta, o jogador tomará um cartão vermelho. Caso haja uma reclamação excessiva, amarelo. Outra situação possível é levar cartão amarelo por tirar a camisa numa celebração de gol. Mas será que essa última regra não deve ser revista?
Na 11ª rodada do campeonato espanhol da temporada 22/23, tivemos um jogo entre Villarreal e Almería. A partida teve uma grande repercussão não pelo seu resultado (2×1), mas pela ação do árbitro ao dar o segundo amarelo a um jogador que tirou a camisa. Mas para entendermos esse caso, precisamos voltar um pouco no tempo.
Na semana anterior ao jogo, o então vice-presidente do Villarreal, José Manuel Llaneza, faleceu em decorrência de uma leucemia. Llaneza era considerado um dos responsáveis por conduzir a equipe de uma pequena cidade espanhola até a elite do continente. Trabalhando por 25 anos no clube, a morte do dirigente foi um baque grande para a comunidade local e rendeu diversos tributos.
Durante a partida contra o Almería, o meia Alex Baena resolveu prestar sua homenagem a Llaneza. Após marcar o gol de empate, Alex levantou a sua camisa e exibiu a mensagem por baixo dela, que dizia: “obrigado por tudo, Llaneza”. Porém, o espanhol não se atentou que levantou a camisa acima do permitido, o que rendeu a ele um cartão amarelo. Como Baena estava amarelado antes do gol, acabou sendo expulso.
Essa situação levantou muita polêmica na Espanha. Alguns torcedores e jornalistas chegaram a acusar o juiz da partida, Ricardo de Burgos Bengoetxea, de não ser sensível o suficiente com o ocorrido. Mas o árbitro só estava cumprindo o que determina a regra.
Isso abre espaço para uma discussão: até onde é válida a regra do cartão amarelo por tirar a camisa? Claro, os jogadores precisam ser disciplinados quando infringem a regra. Mas devem-se criar exceções para casos como o de Baeza? Até onde é possível manter a mesma coerência caso a caso?
Ações anti desportivas devem continuar sendo punidas. Mas também é preciso criar métodos para que gestos como esse não sejam reprimidos.
Um exemplo desse meio termo são as comemorações de gols. Se o juiz interpreta que houve provocação ao adversário na celebração, cabe um cartão amarelo. Porém, se o jogador sempre comemora desse mesmo jeito, a punição pode ser relevada. Essa situação já aconteceu com Neymar, que foi advertido ao fazer uma careta para a torcida. Porém, o jogador brasileiro já é conhecido por comemorar fazendo caretas, então houve muita discussão se o cartão foi justo ou não.
No caso de tirar a camisa, um meio termo que é possível ser alcançado vem da comunicação entre jogador e árbitro. Caso o jogador avise previamente o árbitro sobre sua homenagem, como a de Baena, o juiz pode alertá-lo sobre como realizá-la sem ser punido. Isso não resolve o problema, mas já é um passo na direção certa.
A solução só virá depois de debates entre clubes, federações e patrocinadores. As regras não são imutáveis, e precisam ser reavaliadas quando surgem casos assim. E isso só acontecerá com o grau certo de sensibilidade de todas as partes.
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