Arrisco-me a dizer que, atualmente, há poucas coisas que não conseguimos fazer através do aparelho celular.
Pagamos conta, arrumamos namoradas (os), reservamos restaurantes, adiantamos o ingresso do cinema, descobrimos caminhos novos e sem trânsito em São Paulo, entre outras habilidades oferecidas por mais de 1.2 milhões de aplicativos – somente para o sistema Android.
Fazemos tudo – ou quase tudo – com o celular!
Mas a novidade a seguir tem causado bastante polêmica entre leigos e estudiosos.
Chico Felitti, para a revista Piaui, escreveu:
“Dra., estou mto aflito. Não sei se ela vai sair cmg de novo”, digitou o publicitário Mark Adam enquanto subia as escadas da estação da rua 14, em Nova York. Como seu celular não pega no metrô, assim que surgiram na tela as primeiras barras de sinal ele aproveitou para fazer uma consulta rápida.
Esta é a introdução para seu texto intitulado “Terapia por Torpedos”, que apresenta ao Brasil um aplicativo lançado em março, nos Estados Unidos, conhecido por Talkspace.
Mark Adam é um dos mais de 70 mil clientes deste programa, que pagam 49 dólares por semana para terem ao alcance de uma mensagem de celular um analista disponível 24 horas por dia.
Utilizando-se do Whatsapp criptografado, a ferramenta permite que o paciente e um dos terapeutas licenciados conversem via mensagens instantâneas. Basta baixar o aplicativo, escolher um nome de usuário, digitar a primeira pergunta e, pronto, começou a terapia.
Para profissionais da área de todo o Brasil, a nova plataforma é vista com olhos críticos. Numa situação de emergência a ferramenta pode até ser útil, mas não para um processo terapêutico.
Então, vamos para as ponderações! Vantagens e desvantagens da “textoterapia”:
Porque aderir
- O casal criador do aplicativo, Oren e Roni Frank, se defendem com a ideia da democratização do acesso ao tratamento que atende apenas a 1% da população americana.
- Os assinantes pagam 49 dólares para uma semana, 99 dólares por um mês, ou pouco mais de 620 dólares por um ano de terapia. Uma economia de, em média, 300 dólares por mês quando comparada a uma psicoterapia tradicional.
- Você terá ao alcance um terapeuta “disponível” a qualquer hora e dia da semana. O Talkspace oferece aos assinantes um número ilimitado de mensagens para seus psicólogos. Não há que se esperar pelo horário marcado de uma terapia convencional, mas a resposta pode demorar algumas horas.
Porque não aderir
- Apesar da tranquilidade alcançada pelos usuários do aplicativo após o envio de uma mensagem de texto para seus terapeutas, esta sensação é momentânea e dá lugar à ansiedade quando a bateria está no fim ou o sinal do celular está baixo.
- Será que esta forma de terapia alimentaria a nomofobia, tema já discutido aqui no El Hombre?
- Edward Nersessian, do Instituto Psicanalítico de Nova York, criticou os anúncios da empresa segundo os quais a troca de mensagens equivale a uma conversa “com um amigo próximo”. “Não pode ser essa a lógica”, protestou. “É preciso ter um horário marcado e saber o que você vai priorizar no diálogo com o psicanalista.”
- Sabemos sobre a praticidade das relações virtuais que envolvem, e muito, a economia de tempo e dinheiro. Mas e a importância do encontro humano? Na troca de mensagens de texto há a perda da comunicação não verbal entre paciente e terapeuta. “As letras podem ter menos nuances que a voz ou um encontro pessoal”, ressaltou o psicólogo Albert Mehrabian, que pesquisa o tema na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. “A entonação conta muito no diálogo. E a confiança também. É preciso estabelecer uma relação entre duas pessoas para que haja abertura, por mais que essa relação seja impessoal e não deva ser confundida com amizade. Tenho dúvidas se um sistema de mensagens consegue dar conta disso.”
Mas, enquanto a moda não pega aqui no Brasil, jogo a pergunta a você leitor: estaria disposto a encarar a versão online de nosso querido Freud?
Há cada vez mais pesquisas e interesse pela criação de aplicativos de saúde mental e programas online – uma ideia bem-vinda num mundo em que quase 19% dos adultos americanos sofrem com algum tipo de doença mental e os recursos tecnológicos apenas aumentam.
Porém os especialistas não recomendam a procura apenas por ajuda online quando a patologia é grave. Deve-se consultar um profissional especializado para garantir o êxito do combate à doença e, no caso, a ajuda online pode tornar-se um complemento à terapia tradicional.
Dê uma olhada em outros aplicativos que se interessam pelo bem estar de seus donos:
Com perguntas enviadas diariamente através de mensagens de texto, este aplicativo interessa-se por suas flutuações emocionais ao longo do dia. O programa, que usa tecnologia licenciada pela Universidade Johns Hopkins, dá até mesmo a opção de compartilhar seu progresso com família, amigos e médicos.
Se você preferir jogos, experimente essa ferramenta que utiliza-se de tarefas para mantê-lo afastado da ansiedade e depressão. O aplicativo foi desenvolvido depois de quase 10 anos de pesquisas.
Os jogadores têm de traçar o caminho de um personagem por um campo gramado. O objetivo é ajudar a aliviar a ansiedade.
Optimism é uma ferramenta desenhada para que o usuário identifique que elementos influenciam seu bem-estar mental e emocional. O aplicativo ajuda a detectar padrões de comportamentos de saúde e oferece recomendações com base nesses padrões. O objetivo é ajudar o usuário a identificar sozinho certos gatilhos de saúde mental.
Fundado por contribuintes do DoSomething.org, esse serviço de atendimento via mensagem de texto oferece apoio emocional 24 horas para jovens adultos. A ideia é ser uma maneira segura de procurar ajuda quando se sofre de algum problema mental, seja depressão, bullying ou ansiedade. O serviço é mantido por assistentes sociais e é completamente confidencial e gratuito.
O programa usa uma equipe de pesquisadores, tecnlógos e clínicos que transformam técnicas terapêuticas comportamentais em exercícios simples. Os planos são personalizados para cada usuário com base em uma autoavaliação inicial. A partir de fevereiro deste ano, o serviço também vai estender a plataforma para incluir um programa que lida com transtornos alimentares.