Por décadas, a sociedade conhece uma divisão simplória do cérebro em direito e esquerdo. O direito seria o emocional, o criativo, o divertido; o esquerdo seria o lógico, planejador, quadrado. Artistas teriam um hemisfério direito dominante, e por isso muitos, como Leonardo da Vinci, seriam canhotos (by the way, ele era ambidestro, mas ninguém se lembra disso quando conta a teoria). Planejadores, talvez como Napoleão, ou cientistas, como Einstein, um hemisfério esquerdo maior.
Entretanto, apesar de esta divisão ter caído nas graças do povo, ela nunca foi comprovada, assim como a teoria absurda de que usamos apenas 10% da capacidade do nosso cérebro (e alguns ainda arriscam que Einstein e Newton usavam 100%!).
E eu realmente imaginava que iríamos caminhar para uma frenologia Hi-tech, utilizando técnicas elaboradas de Pet Scan, entre outras, para definir exatamente qual área do cérebro é mais ativa em cada pessoa, mas encontrei algo no intermediário: uma divisão entre o cérebro de cima e de baixo.
À primeira vista, o livro não parece mais do que de autoajuda: quais áreas do seu cérebro funcionam melhor? Entretanto, ao contrário do comum, este livro é endossado por dois autores de peso na área de psicologia: Stephen Kosslyn, um pesquisador tão premiado, que um resumo de seu currículo ocuparia todo este artigo, e G. Wayne Miller, jornalista e coautor.
Está bem, mas e daí? Em vez de direita e esquerda, agora temos em cima e embaixo. Mudou alguma coisa?
A primeira diferença é que, ao invés de dois tipos, agora existem quatro: o que usa mais a parte de cima, o que usa mais a parte de baixo, o que usa as duas igualmente, e o que não usa nenhuma (em atividade intensa, quer dizer). O que é uma coisa tão lógica, que assusta o fato de que ninguém nunca pensou em usar a teoria direita-esquerda desta forma.
Esses quatro tipos são divididos em dois padrões: “condutor”, com mais perfil de liderança, e “adaptador”, que seria um companheiro de equipe, bom para implementar planos. A esperança de Kosslyn, porém, é que estava divisão não acabe rebaixada a liderança e subserviência.
Entretanto, no que isto se diferencia de mais uma tentativa a estilo horóscopo de dividir a mente? Talvez, não muito – talvez, muito. O fato de ter um pesquisador de peso, que está investindo muito nesta pesquisa e que pretende levar a coisa seriamente a frente faz acreditar que, talvez, esta seja a nova visão da mente das próximas décadas.
Ao mesmo tempo, estas mesmas pesquisas poderão provar que ela está errada – ou, acima de tudo, chegar à conclusão de que o cérebro é extremamente complexo e plural, e que não é possível ficar dividindo-o em simples duas ou quatro partes, com comportamentos dominantes. Do mesmo modo que seus inúmeros giros e lobos, cada cérebro e cada pessoa tem a sua particularidade.
Os autores, porém, embora estejam muito otimistas com a publicação da tese (o livro se chama “Top Brain, Bottom Brain”), esperam que ele realmente não se torne uma espécie de “horóscopo cerebral”.
Não obstante, já tornaram disponível um teste para você descobrir qual é o seu tipo de cérebro. Mais do que um teste de revista adolescente, ele é o próprio teste utilizado na pesquisa, e alguns itens podem parecer a você bastante esquisitos de serem respondidos e que não levariam a lugar algum.
Eu não aguentei e fiz o teste, logicamente. Deu tendência a confiar em ambos.
O que isso muda na nossa vida? Não sei. Mas que até hoje eu não estava satisfeito em escolher apenas direita ou esquerda, ah, isso não estava. E talvez dê para nos ocupar até a frenologia hi-tech chegar.
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