InícioAtitudeRelacionamentoComo a pornografia afeta o cérebro e prejudica o sexo real

Como a pornografia afeta o cérebro e prejudica o sexo real

Por Karol Vale, redatora no projeto “Lábios Livres”

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A pornografia compõe a maior parte da formação sexual dos adolescentes, em especial dos homens. Segundo dados da pesquisa realizada pelo Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado, 90% dos rapazes consomem pornografia. No levantamento, 22 milhões de brasileiros assumem consumir material pornô, sendo destes 76% homens, a maior parte jovens.

Terry Crews — ator conhecido pela sua atuação na série “Todo mundo odeia o Cris” — assumiu em 2014 durante uma transmissão ao vivo pelo facebook, o efeito que assistir pornô teve em sua vida sexual. “Bagunçou a minha vida”, afirmou Crews para cerca de três milhões de internautas.

Apesar do público consistir em sua maior parte de homens, a pornografia também afeta as mulheres. Billie Elish, cantora norte-americana de 20 anos, em recente entrevista desabafou sobre os efeitos a pornografia causou nela.

“Como mulher, acho a pornografia uma desgraça. Eu costumava assistir muitos filmes pornô, para ser honesta. Comecei a assistir pornografia quando tinha 11 anos”, relatou. Billie atribui a origem dessa exposição tão cedo, à necessidade de se sentir aceita pelos colegas de sua idade.

Eilish conta que a exposição durante a fase de puberdade afetou seu senso de limites durante o início de sua vida sexual. “Nas primeiras vezes em que eu, sabe, fiz sexo, eu não estava dizendo não para coisas que não eram boas. Isso porque eu pensava que essas eram as coisas pelas quais eu deveria estar atraída”, acrescentou Billie Eilish.

Recentemente a cantora lançou a faixa “Male Fantasy” (Fantasia Masculina, em tradução livre), parte do seu álbum “Happier Than Ever”. Na letra, ela canta:

Sozinha em casa
Tentando não comer
Me distraio com pornografia
Eu odeio o jeito que ela me olha
Eu não suporto o diálogo
Ela nunca ficaria, tão satisfeita
É uma fantasia masculina
Vou voltar para a terapia (…)

Nos comentários do clipe da canção, os internautas reagem. “Assistindo e reassistindo este vídeo, é tão surreal para mim. É como estar no exterior de uma caixa de vidro, olhando para o meu eu mais jovem combatendo a depressão. Cada mudança de frame e de cenário é quase idêntica à forma como as coisas eram antigamente, essencialmente apenas me faz reviver todos aqueles pensamentos e sentimentos auto-destrutivos, mas de construção de caráter. Faz-me apreciar tudo o que sou, construí para mim próprio, e foi-me dado ao longo dos anos a partir desse ponto. É um lembrete de que sou o que me puxou para fora daquele lugar, e que o fiz mais do que uma vez. Amor não descreve suficientemente o que sinto por esta canção e vídeo, mas por agora é suficiente”, comenta a fã Keira Dulaney.

Sequelas da pornografia no cérebro

A depressão está dentre os efeitos colaterais da exposição à pornografia. De acordo com Natalia Cuminale, repórter da Veja, especialista em saúde, o assunto já foi relacionado à depressão, ansiedade, estresse, assim como às alterações na satisfação sexual, amorosa e pior qualidade de vida.

Acontece que a medida em que o consumo se torna habitual, ele se torna compulsivo. O vício em pornô já é estudado por muitos especialistas que investigam seus sintomas. As cenas vistas nos sites liberam substâncias como dopamina e outros hiper estimulantes em doses altas, o que torna as cenas da vida real cada vez menos prazerosas. Segundo a obra “Sexo na cabeça: como a pornografia destrói o cérebro humano”, de Gary Wilson, os sintomas são:

  • Dificuldade em se relacionar com parceiras reais;
  • Problemas de atingir o clímax e o orgasmo durante as relações sexuais;
  • Disfunção erétil;
  • Consumo de materiais fetichistas e perturbadores em excesso;
  • Consumo de pornografia em ambiente públicos e/ou impróprios;
  • Considera menos prazerosas as atividades cotidianas;
  • Atraso para compromissos;
  • Menos interação social;
  • Níveis baixos de testosterona;
  • Suspeita de quadros como fobia social.

Em resposta ao aumento de pessoas com compulsão, surge na internet o movimento “porn-reboot”, ou Reinicialização Pornográfica, em tradução livre. O site Your Brain On Porn classifica ‘rebooting’, como termo para recuperar-se da dependência da pornografia e sintomas associados, incluindo disfunções sexuais. Os integrantes do grupo compartilham os benefícios sociais, físicos e sexuais da abstinência em pornô.

Cientistas ainda afirmam que o consumo de pornô reduz o cérebro a uma condução infantil. O que acontece é o efeito chamado desgaste do córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável pelo controle dos impulsos, moralidade e disposição de vontades. Quando essa parte do cérebro é afetada, a pessoa fica mais infantil. Um certo paradoxo quando o conteúdo de entretenimento adulto regride o corpo ao estágio infantil.

Apesar do consumo compulsivo ser mais masculino, as mulheres não saem ilesas do consumo. As buscas nos sites são diferentes. Normalmente os homens buscam vídeos em que os órgãos sexuais são colocados em foco, com close up, com movimentos mais teatrais e exagerados. Já as mulheres buscam vídeos contextuais, em que se remontam uma situação até que se chegue na relação sexual. Em maioria, os vídeos podem ser mais lentos e com atuação não muito exagerada.

Billie, na mesma entrevista mencionada, relata como as sequelas também atingiram seu cérebro. “Acho que realmente destruiu meu cérebro e me sinto incrivelmente devastada por ter sido exposta a tanta pornografia”, conta Eilish.

A autora que vos escreve entrou em contato com as sequelas do pornô quando se deparou com homens, que se dizem viris e másculos com baixo desempenho em decorrência do pornô. Muitos não assumem, mas horas e mais horas para chegar ao orgasmo, disfunção erétil e a necessidade de um canal vaginal cada vez mais apertado, são sinais latentes que seu parceiro pode estar viciado em pornô. Afinal, a velocidade e pressão que a mão faz durante a masturbação não condiz com as condições em sexo real.

O novo pornô

O novo pornô é feito de diretoras mulheres para mulheres, com foco no erótico ao invés do gráfico. Além disso, o Only Fans também concedeu a mulher mais controle sob sua própria imagem e conteúdos diversificados quando se trata de entretenimento adulto.

Charry Jin, famosa no site Only Fans concedeu uma entrevista à página Lábios Livres, no Instagram. Nela, a fotógrafa e modelo conta como começou e como a plataforma influi na sua autopercepção, além de dar dicas para quem deseja ingressar.

Durante a Live dos Lábios, em novembro de 2021, Charry tira dúvidas das seguidoras e reflete sobre a liberdade que a plataforma significa para muitas mulheres: “Para entrar no Only Fans você tem que estar muito consciente do que está por vir, tem que estar muito à vontade consigo mesma. Não fazer só porque está na moda ou pelo dinheiro. E sim tem que entender aquilo de certa forma pode vazar. Vão ter homens que vão querer algum conteúdo que você não se sente confortável em fazer. Então você tem que estar muito consciente. Uma vez que você joga na internet não tem como voltar atrás e é o seu corpo”.

O assunto ainda é tabu, principalmente entre os homens, afinal acredita-se que o pornô faz parte da masculinidade e não pode ser dissociado. Uma conversa aberta, não-violenta e informativa é canal de abertura para que melhor satisfação sexual ocorra, e para ambas as partes.

É importante salientar que existe diferença entre o erótico e o pornô – sendo o erótico o sexo com contexto, e o pornô o sexo por sexo. O projeto Lábios Livres fala e dialoga abertamente sobre educação e entretenimento sexual para mulheres, tendo como missão o empoderamento e entendimento das mulheres sob seu próprio corpo.

Redação El Hombre
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