Estamos vivendo uma febre de empreendedorismo. Tudo é startup, canvas, pitch, funding, mentoring…
E me sinto bem confortável para falar sobre este assunto, afinal é a minha praia: estudo, ensino e trabalho com isso. Ajudar as pessoas a montar ou melhorar as suas empresas é a minha missão.
Mas precisamos de critério, método, estratégia, preparo, paixão, colaboração, determinação e por aí vai.
Então por que tantas empresas quebram? Acredito fortemente que uma grande parte quebra por total desalinhamento de estratégia, de propósito, de planejamento. É o que chamo de Síndrome do Eu Também.
Exemplos como as paleterias mexicanas, que sequer existem no México neste formato. Uma leva de pessoas despreparadas seguiram o rastro dos inovadores e com certeza perderam dinheiro. Copiar a estratégia que deu certo sem saber o timming é quase suicídio.
Mas este é apenas um exemplo: loja de bolo, brigaderia, creperia, pet shop e muitos mais, tiveram seus seguidores quebrando e ainda atrapalhando quem sem planejou.
Acredito que o erro faz parte do acerto, mas deve ser um erro em pequena escala, para aprender e corrigir rápido, antes de crescer e atacar o mercado com mais energia.
O Brasil vem passando por diversas transformações nos modelos de negócio, alguns surgidos localmente e outros absorvidos de outros mercados. Mudanças no padrão de consumo e na forma como nos relacionamos com marcas, produtos e empresas transformaram o mercado.
A mais recente são os foodtrucks e cervejarias artesanais, segmento onde posso falar com tranquilidade. Fui sócio da primeira importadora de cerveja gourmet do país e ajudei a construir o segmento na virada do século e sei bem o que é ser metralhado por seguidores sem estratégia.
Hoje podemos analisar a curva de evolução do segmento de Foodtrucks, incorporados por empreendedores que já possuíam conhecimento do mercado de alimentos e bebidas ou por outros com muitas ideias e pouca experiência. Experiências e resultados diferentes, com certeza.
Entendo que este segmento dos foodtrucks se encontra entre a terceira e a quarta onda, sabendo que:
1ª Onda (Inovadores): Empresários inovadores que entenderam e incorporaram o conceito norte-americano.
2ª Onda (Seguidores): Adoção em massa por diversos perfis de empreendedores, com e sem experiência no segmento.
3ª Onda (Depuração): Quebra de muitos seguidores, pela falta de planejamento ou de gestão.
4ª Onda (Evolução): Alinhamento de um modelo tropicalizado, com a consolidação do ecossistema de fornecedores e parceiros.
Na primeira onda os inovadores conseguem ganhar dinheiro pois vendem novidade, diferenciação, exclusividade e claro, uma boa experiência de consumo.
São os empreendedores que percebem que modelos de negócios lá de fora podem ser adaptados ou trazidos para o Brasil. São rápidos, efetivos, focados e eficientes.
Já na segunda onda, o volume de oferta mais que dobra, com muitas pessoas copiando o formato, mas sem entender bem a estratégia ou do segmento. Aqui se bagunça o segmento e atrapalha o seu amadurecimento.
Aqui tem muito empreendedor por falta de opção, que busca uma fonte de renda, não um negócio. Copia o que vê, sem se preparar, sem entender de onde vem o negócio ou mesmo como funciona.
No caso dos foodtucks, você sabia que eles sempre existiram nos Estados Unidos, mas que a última onda surgiu depois da crise imobiliária de 2008, quando os chefs de cozinha não conseguiram renovar seus aluguéis dos imóveis dos restaurantes e acabaram levando a solução do restaurante de forma compacta para dentro de um caminhão adaptado?
A terceira onda é o resultado da euforia da segunda, com muitos dos empreendedores perdendo dinheiro e encerrando suas atividades.
A dor da realidade é impiedosa: sem o tripé (i) pessoas, (ii) produtos e (iii) processos equilibrado, o negócio não para em pé. E sem perceber que está indo na direção errada, estes empreendedores aceleram, se afastando ainda mais do caminho do sucesso. Não sabem a hora de parar, então oferecem mais desconto, comendo toda a sua margem e impactando nas vendas de quem de fato se preparou para o desafio.
Por fim, na quarta onda, o mercado de fato amadurece, com menos players, mais competentes e estruturados, com visão, experiência e estratégia.
Aqui os sobreviventes podem traçar estratégias de prazo mais longo, com um mercado menor, mas bem mapeado.
Pense nisso antes de tirar a sua ideia do papel.
***
Artigo publicado originalmente na newsletter do autor Alessandro Saade no Linkedin
Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Saiba Mais