“Filho, eu não posso protegê-lo. Você precisa ficar mais forte, rápido e esperto se quiser sobreviver lá.”
Estas foram as palavras que o universitário Ryan Ferguson ouviu de seu pai em 2004, então aos 19 anos, quando foi preso injustamente por um assassinato que não cometeu.
Sua condenação (40 anos em segurança máxima) não teve evidências físicas nenhuma; baseou-se inteiramente no testemunho falso de duas pessoas, que anos depois, admitiram ter agido sob a intimidação de um promotor desonesto e ambicioso, em busca de fazer seu nome num caso grande.
Ryan foi inocentado em 2013 e, agora, lançou o livro de fitness “Stronger, Faster, Smarter: A Guide to Your Most Powerful Body”.
Malhar salvou sua vida e sanidade na prisão, ele diz.
“Eu estava lá por minha conta”, contou Ryan numa ótima entrevista à GQ americana.
“Não tinha amigos. Desde o começo, ficou evidente que era absolutamente necessário eu poder cuidar de mim mesmo. Meu objetivo não era ser um durão, mas que os outros presos pensassem assim: se eu mexer com ele, não será um tempo bem gasto.”
MALHANDO NA CELA
Nos 18 meses que passou numa prisão municipal, Ryan teve que adaptar seu treino às possibilidades, pois não havia academia lá.
“Eu andava de um lado para o outro da cela e fazia 25 flexões”, diz.
“Depois repetia o processo, durante 1 ou 2 horas. Nesse período eu fazia no mínimo 500 flexões — normais, elevadas, todo tipo. Para malhar o tríceps, eu usava uma parede pela metade.”
No dia seguinte, era a vez das barras.
O que ele usava? Uma escada feita de grades, tipo essa aqui. Para não machucar os dedos, Ryan precisava enrolar papel higiênico em volta das mãos.
Já o bíceps era realizado com galões de café, dentro de um cesto de lavandaria. “Era assim que fazíamos a rosca.”
RESPEITO NA PRISÃO DE SEGURANÇA MÁXIMA
Ryan foi enviado, após a condenação, para uma prisão de segurança máxima com academia. Era precária, mas oferecia mais ferramentas do que ele tinha antes.
“Quando você começa a entrar em forma, as pessoas te respeitam por isso”, diz.
“Eles viram a transformação, então começaram a me perguntar qual era o meu treino. Os caras que me enxergavam como uma presa, na época em que entrei, 2 ou 3 anos depois passaram a me admirar, querendo meus conselhos. Isso realmente me ajudou a sobreviver na prisão.”
Para maximizar o treino, Ryan lia todo tipo de informação que podia — e depois testava na academia, para ver o resultado.
“Um amigo e eu tomávamos chocolate com leite e comíamos sanduíche de mel e creme de amendoim depois do treino”, conta.
“Após três meses, começou a dar resultado e 2 ou 3 pessoas adotaram a mesma alimentação. Uns 6 meses depois, já era 20 ou 30 pessoas fazendo isso.”
BASQUETE PARA FAZER RELAÇÕES
O basquete também o ajudou a desenvolver relações no presídio.
“Os lugares onde você interage com os outros presos são a quadra de basquete e a mesa de baralho”, conta. “Mas das cartas eu passava longe, pois causava brigas.”
Em sua adolescência, Ryan fora aficionado em basquete. Então ele sabia um truque ou dois com a bola.
“Havia a quadra dos caras que não sabem jogar e a dos que sabem. Mas nas duas, o negócio era duro. Você não recebe falta a não ser que seja agredido, mesmo.”
Na quadra principal, a sensação entre os jogadores era sempre de que os novatos pertenciam à outra.
Mas Ryan conseguiu conquistar seu lugar na primeira divisão. “Foi bom, porque meu jogo os impressionou e ganhei respeito por isso.”
INOCÊNCIA E LIVRO
Ele virou uma referência fitness na presídio. “Muitas pessoas me perguntavam como entrar em forma”, diz.
Poucos meses antes de deixar a prisão, Ryan decidiu fazer um guia de 1 página para ajudar seus colegas a malharem.
Mas Ryan percebeu que uma página era muito pouco, então fez três. Ainda assim, havia mais coisa para dizer.
Conclusão? Escreveu o livro.
“Na prisão, você precisa se adaptar. Essa é a regra número 1 da musculação, alimentação e vida em geral ali. Sem desculpas. Se não dá para fazer agachamento na máquina, tudo bem, você faz 100 repetições usando o peso do seu corpo”, ele afirma.
“E, assim, eu conseguiu desenvolver um corpo que fez as pessoas mais violentas do país não quererem mexer comigo.”