Você já ouviu falar sobre a Comunicação Não-Defensiva?
Embora falemos bastante, e com razão, sobre sua irmã e complemento, a Comunicação Não-Agressiva, normalmente não lhe damos a devida atenção.
E, como você verá ao longo desse texto, estamos errados ao fazê-lo.
A autodefesa é muito mais do que um simples método universal: ela é parte do nosso instinto de sobrevivência.
Mas, embora possa ser utilizada para o bem, pode também exercer um efeito negativo e agir como a inimiga da escuta, de compreensão e da flexibilidade, coisas que devemos exercer de modo constante em nossos relacionamentos.
Quando estamos em nosso “modo defensivo”, praticamos a escuta de uma maneira bastante parcial: procuramos ativamente por inexatidões, exageros ou distorções nas falas dos nossos interlocutores, no intuito único e exclusivo de refutar todos os erros que nos são atribuídos, pontuar o quão errados estão em reclamar, defender os nossos pontos de vista e transferir – ou ao menos compartilhar – a culpa.
Um problema nesse modo de agir? (Ou melhor dizendo, vários?)
E os benefícios? Bom, são muitos. Um deles é que, ao usar as reações não defensivas, somos capazes de enfraquecer ataques e criar um clima muito menos explosivo que lança uma base adequada para futuras comunicações.
É frequente que digamos a nós mesmos que as coisas seriam excelentes caso a pessoa a quem amamos mudasse isso ou aquilo em sua atitude ou personalidade, mas temos controle apenas sobre nós mesmos e, para que um relacionamento mude para melhor, é preciso que tomemos a iniciativa de dar início a uma onda de mudanças.
Como disse a psicóloga americana Harriet Lerner em seu livro Why Won’t You Apologize?, “Se apenas desejássemos compreender com a mesma intensidade com a qual desejamos ser compreendidos!”.
Vamos implementar a Comunicação Não-Defensiva à sua vida? Perfeito.
Antes de falarmos sobre o que você deve fazer, comecemos com o que você deve evitar.
A psicóloga e escritora americana Susan Forward, autora dos livros Chantagem Emocional, Pais Tóxicos e Homens que Odeiam Suas Mulheres, entre outros, afirma que você não deve:
Essas atitudes servem somente para aumentar a intensidade emocional de uma dada situação, e são contra-produtivas. E você não terá que esconder seus sentimentos: no futuro, em uma ocasião mais calma, você poderá expô-los com clareza e sinceridade, conforme explicaremos mais adiante.
Quando tentamos nos proteger desesperadamente, fazemos o contrário do que desejamos e acabamos fornecendo o combustível que incendeia a situação. Por outro lado, como pontua Susan Forward, “ameaças, acusações e avaliações negativas perdem a sua potência quando caem na terra molhada”. E, embora a Comunicação Não-Defensiva possa parecer difícil, é a estratégia mais inteligente para promover a paz de espírito em um relacionamento.
Portanto, passemos a uma lista compacta e extremamente útil que contempla, uma a uma, as melhores atitudes a serem tomadas. Essa lista é uma combinação de estratégias apresentadas primariamente por Harriet Lerner, mas também por Susan Forward, e adaptada por mim:
Se a nossa intenção é ter um relacionamento melhor, precisamos mostrar a nossa face madura e sensata, e isso não é possível quando reagimos à reatividade da outra pessoa. É necessário, e desejável, que ouçamos antes de falar.
“Fui ensinada que ouvir é um processo passivo, mas não é verdade”, diz Lerner. “Ouvir, na realidade, é um processo intensamente ativo, e um que nos é muito menos natural que falar. Realmente, não há desafio maior do que ouvir sem nos defendermos, especialmente quando não temos vontade de ouvir o que está sendo dito”.
Ainda que seja difícil escutarmos a dor de uma outra pessoa quando estamos sendo acusados de provocá-la, procure fazer isso com o coração aberto. Esse é um exercício importante que, sem dúvida, será recompensador.
Como já dissemos na introdução desse texto, estamos programados para agir de uma maneira defensiva quando nos sentimos atacados ou criticados. Reconhecer esse fato é crucial.
Se, ao ouvir, você estiver buscando as coisas com as quais não concorda, é porque está sendo defensivo. Se estiver focado nas imprecisões, nas distorções e nos exageros presentes na fala de seu interlocutor, busque dar um passo para trás e se distanciar da defensividade.
Essa defensividade é tão automática que leva motivação e coragem para a deixarmos de lado. Mas, mais uma vez, esse é um passo imprescindível.
“A defensividade começa no corpo, tornando-nos tensos e em estado de alerta. Esse estado nos incapacita de absorver novas informações”, afirma Lerner.
Quando realizada apropriadamente, a respiração exerce um aspecto importante: produz uma sensação de bem-estar e, portanto, diminui os níveis de estresse e doenças psicossomáticas.
Vou dar um exemplo pessoal. Eu nunca fui uma pessoa ansiosa, mas, depois de desenvolver rinite alérgica e ter uma crise particularmente violenta no meio da qual não consegui respirar apropriadamente por cerca de dois dias, percebi que estava sendo tomada por uma ansiedade quase que insuportável. O mais curioso? Assim que o remédio para a respiração fez efeito, a ansiedade se evaporou.
Segundo o escritor e palestrante Renato Gomes, especializado em filosofia oriental e técnicas respiratórias, “uma respiração calma e profunda poderá resultar positivamente em inúmeros fatores do seu dia-a-dia, pois auxilia no aumento da calma interior, aumenta a percepção do momento presente, fortalece e estimula o foco pela concentração e auxilia em uma melhora da atenção dirigida”.
Respirar de uma maneira eficiente (ensinamos uma técnica nesse texto) irá fazer com que se sinta mais em posse de si e com que controle os seus nervos.
Ao ouvir uma pessoa, estamos lhe dando um presente precioso.
Portanto, não interrompa, discuta, refute, corrija fatos ou mencione suas próprias críticas ou reclamações. “Se os seus pontos são legítimos”, diz Lerner, “é um motivo a mais para guardá-los para uma própria ocasião, na qual eles poderão ser o foco da conversa e não apenas uma estratégia de defesa”.
O conselheiro matrimonial e palestrante americano Gary Chapman, autor de As 5 Linguagens do Amor, menciona em seu livro que, de acordo com pesquisas recentes, uma pessoa costuma ouvir somente dezessete segundos antes de interromper e apresentar suas próprias ideias.
“Se eu der a minha atenção total enquanto você fala”, diz Chapman, “refrearei a vontade de defender a mim mesmo, de lançar uma série de acusações ou de declarar dogmaticamente as minhas posições. Meu objetivo é descobrir seus pensamentos e sentimentos. Meu propósito não é me defender nem corrigir você, mas, sim, entendê-lo”.
Convença a outra pessoa que pode contar o motivo de sua zanga, e que vai ouvir sem retaliar. Usando tato e diplomacia, você mostrará ao seu parceiro que não explorará os pontos fracos dele nem atacá-lo com recriminações.
“Você pode concordar com somente 7% do que a outra pessoa está falando, e mesmo assim encontrar um ponto de comunalidade”, afirma Lerner.
Se você mantiver o seu coração e a sua mente abertos, provavelmente encontrará pelo menos algo com o que é capaz de concordar. Por exemplo, “Eu penso que você está certo e que eu não deveria ter evitado essa conversa na outra noite”.
Em casos nos quais é inteiramente incapaz de encontrar qualquer coisa com a qual concorde, agradeça a outra pessoa pela sua iniciativa e pela sua disposição em dividir com você as suas frustrações e diga que pensará sobre o que for dito.
Quando uma conversa chega a um impasse, uma estratégia útil é mudá-la de modo a envolver o seu interlocutor no processo de solucionar o problema.
“Pedir sugestões e ajuda pode abrir possibilidades que você não considerou, e é comum para os seres humanos sentir-se feliz em ajudar a execução de um plano quando podem participar ativamente dele”, diz Forward. “Se você demonstrar curiosidade e disposição para aprender, poderá mudar rapidamente o tom de um intercâmbio que começa a se deteriorar a partir de ataques e defesas”.
A psicóloga segue adiante para elencar algumas questões que podem ajudar a transpor muita da animosidade e da tensão:
Essas simples questões podem alterar totalmente um rumo da conversa e fazer com que você e seu interlocutor passem a agir como aliados, e não como combatentes em campos inimigos.
Pedir desculpas nem sempre é fácil, ainda que saibamos que é um passo de extrema relevância em qualquer relacionamento travado entre dois ou mais seres humanos.
Muitas vezes, estamos certos de que não há um meio de seguir em frente em uma relação se a outra pessoa não refletir sobre o próprio comportamento e se desculpar. Mas, na realidade, todos os envolvidos podem discordar sobre quem começou, qual foi a ofensa, o que é preciso para remediar a situação e quem precisa se desculpar ou ceder primeiro.
“Quando estão estressadas, é comum que as pessoas sejam mais ‘polarizadoras’, e a tendência é nos concentrarmos no que a pessoa está fazendo contra nós e no que está deixando de fazer por nós, esquecendo-nos de nossas opções criativas para dissipar a tensão”, diz Lerner. “Nós queremos mudanças, mas não queremos mudar primeiro, e essa é uma excelente receita para o fracasso”.
“Ninguém gosta de parecer ou sentir que está cedendo, e o desagrado por soluções unilaterais impede que muitas pessoas dêem o primeiro passo para a solução de uma disputa”, Forward explica.
Dê o primeiro passo.
Isso pode ser exasperante, mas ao mesmo tempo é recompensador (e será um progresso para a sua maturidade).
Quando você pede desculpas pela sua parte, indica àquele que o está criticando que possui a mais plena capacidade de se responsabilizar pelos seus erros. Guarde o que você pensa sobre a parte do outro para mais tarde.
Mesmo se nada for resolvido no momento, diga à pessoa que você a ouviu e que levará tudo o que foi dito em consideração. Lerner sugere o uso da seguinte frase: “Não foi fácil escutar as coisas que tinha a me dizer, mas gostaria que soubesse que vou refletir sobre elas”.
Ao assegurar uma pessoa da sua receptividade, você estará aumentando a confiança existente entre vocês e lançando as bases para uma comunicação mais colaborativa no futuro.
Um passo complementar que pode ser extremamente útil, por mais que não seja necessário, é agradecer a outra pessoa por dividir com você o seu ponto de vista.
Expressar gratidão em um momento no qual a outra pessoa está esperando por defensividade é uma estratégia excelente. Diga: “Aprecio que tenha me dito isso. Sei que não foi fácil fazer isso e se abrir dessa maneira”. É muito possível que ouça uma resposta igualmente positiva.
Uma conversa ser iniciada de modo bombástico pode ser tolerável, contanto que as atitudes excessivas sejam uma ocorrência incomum, e não um modus operandi em seu relacionamento, isto é, um padrão de comportamento que já se estabeleceu.
Caso haja insultos e grosserias por parte da outra pessoa, dê um fim à conversa, mantendo a porta aberta para futuras discussões. Uma dica é dizer: “Eu quero ouvir o que você tem a me dizer, mas preciso que me aborde com respeito”.
A Comunicação Não-Defensiva não implica em ouvirmos e aceitarmos passivamente críticas equivocadas, injustas e totalmente fora da realidade.
Ou, como colocou Lerner: “Um compromisso por ouvir não significa que é certo mantermos o silêncio enquanto a outra pessoa é rude ou agressiva. É importante estabelecermos limites no que se refere a tolerar grosserias”.
Ser um bom ouvinte, dizem os especialistas, significa que podemos falar à outra pessoa caso não tenhamos mais como ouvir, e que saibamos dizer “Não agora”, ou “Não desse jeito”.
Pronto, chegamos ao passo final.
E, agora, você vai entender o que há de mais encantador na Comunicação Não-Defensiva: a mesma não é um meio passivo de aceitar tudo o que nos é dito ou imposto. Ela é apenas um método que visa a respeitar e validar as opiniões e sentimentos alheios, ao mesmo tempo em que escolhemos expor as nossas opiniões e sentimentos em um momento em que também eles possam ser ouvidos.
Mesmo quando as outras pessoas são incapazes de nos compreender, sermos sinceros sobre o que sentimos é essencial.
É apenas uma questão de timing, e a regra de ouro é esperarmos por um momento um pouco mais propício. Lerner vai um passo além, dizendo: “De modo geral, você será bem-sucedido caso se aproxime da pessoa em uma ocasião na qual esteja se sentindo calmo – de preferência, um momento no qual você até gosta dessa pessoa”.
Forward afirma que, ao expressar o quanto nos sentimos incomodados com um determinado comportamento, é recomendável começarmos expressando a nossa apreciação e fazendo um elogio genuíno à pessoa.
Ela também sugere que, nesse momento, façamos uso de nosso senso de humor, levando-se em conta que “o humor é um elo que une duas pessoas e reviver experiências divertidas pode ser parte do tecido de relacionamentos sólidos”.
Quando usamos o humor para ressaltar alguma coisa, podemos relaxar a tensão e fazer com que as pessoas envolvidas – inclusive nós – lembrem do prazer que podem ter na companhia uma da outra, e como pode ser positiva a sensação de bem-estar quando estão juntas.
“Timing e tato, assim como gentileza, são exatamente o que fazem da honestidade algo que é possível até mesmo com os indivíduos mais difíceis e defensivos”, afirma Lerner.
Matérias do El Hombre relacionadas ao assunto que você pode gostar também:
➤ Inscreva-se no canal do El Hombre no YouTube para vídeos diários de estilo, lifestyle e desenvolvimento pessoal.
Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Saiba Mais