Quando eu era menina não existiam redes sociais. A internet era ainda uma novidade fascinante (e mais ou menos recente, porque sou da década de noventa).
As pessoas se comunicavam olho no olho. Quando era preciso criticar, fazia-se com honradez, cara a cara, dando a chance de a outra pessoa se defender, deixando até as sutis nuances de emoções transparecerem e florearem o discurso.
O mundo me parecia menos cruel. Devia sê-lo bastante, certamente, mas não me parecia. As palavras eram medidas, os ímpetos humanos eram contidos.
Lembro que havia uma menina mal quista na minha turma de quinta série. É claro que todo mundo virava a cara para ela, mas eu nunca vi ninguém chamá-la e dizer “ei, você é uma ridícula, ninguém te quer por perto!”. O olho no olho dava conta de mensurar as palavras.
O que eu vejo hoje – especialmente nas redes sociais – é uma sede incompreensível por julgar a vida alheia. Uma necessidade constante de criticar com exagero, com crueldade desmedida.
São julgamentos sanguinários e, ao mesmo tempo, absolutamente covardes. Estamos, afinal, protegidos por detrás de telas de computador, seguros em nossos respectivos sofás e acabamos nos sentindo a vontade para machucar, agredir, ridicularizar o outro.
Me parece que a possibilidade de dizer qualquer coisa sobre qualquer pessoa sem ser atingido nos despertou uma amedrontadora vontade de barbarizar os defeitos alheios.
Uma monocelha, um vídeo íntimo, uma postagem com português ruim ou compartilhamentos inconvenientes… Tudo é motivo para destilarmos na rede o nosso desprezo pelo que nos é alheio.
As redes sociais trouxeram consigo muito mais do que egos inflados e relações descartáveis. Ela nos permitiu fazer o que sempre quisemos sem a possibilidade de sofrermos as consequências disto: apedrejar o outro.
Páginas em que milhares de pessoas em vários lugares do globo podem interagir foram, decerto, criadas para unir, para celebrar o amor. Mas, curiosamente, os seres humanos transformaram-nas em verdadeiras armas de guerra.
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