InícioAtitudeComo os nossos pais definem os nossos vínculos emocionais futuros: a teoria do apego de John Bowlby

Como os nossos pais definem os nossos vínculos emocionais futuros: a teoria do apego de John Bowlby

O texto abaixo, que foi publicado originalmente no site Very Well Mind, gira em torno do psicanalista inglês John Bowlby e de seu mais precioso achado para a Psicologia, a teoria do apego. Ele foi escrito por Kendra Cherry e, no caso do leitor ser fluente em inglês e desejar ler o artigo original, este se encontra aqui.

O QUE É A TEORIA DO APEGO?

Resumidamente, a teoria do apego se concentra em relacionamentos e em laços entre as pessoas, incluindo aqueles entre um pai/mãe e seu filho(a) e entre parceiros românticos. Trata-se de uma explicação psicológica para vínculos emocionais e relacionamentos entre as pessoas.

Esta teoria sugere que as pessoas nascem com a necessidade de estabelecer laços com os seus cuidadores, e que esses primeiros vínculos exercem influência contínua sobre os seus “apegos” ao longo da vida.

O psicólogo britânico John Bowlby foi o primeiro teórico do apego. Ele descreveu o apego como uma “conexão psicológica duradoura entre seres humanos.” Bowlby estava interessado em compreender a ansiedade e o sofrimento que as crianças experimentam quando separadas de seus cuidadores primários.

Pensadores como Freud sugeriram que os bebês se apegam à fonte de prazer. Os bebês, que se encontram na fase oral do desenvolvimento, apegam-se às suas mães porque ela satisfaz suas necessidades orais.

Algumas das primeiras teorias comportamentais propuseram que o apego era simplesmente um comportamento aprendido, o resultado da relação alimentar entre a criança e o cuidador. Como o cuidador alimenta o bebê e lhe fornece nutrição, a criança se apegava.

Bowlby, no entanto, observou (e comprovou, através de uma pesquisa meticulosa) que as alimentações não diminuíam a ansiedade de separação. Em vez disso, ele descobriu que o apego era caracterizado por padrões comportamentais e motivacionais claros. Quando as crianças estão assustadas, elas buscam proximidade de seu cuidador primário, a fim de receber mais do que o alívio de suas necessidades fisiológicas, mas cuidado, proteção e segurança.

COMPREENDENDO O APEGO

Bowlby acreditava que os primeiros vínculos formados pelas crianças com seus cuidadores (geralmente os pais) têm um impacto tremendo que persiste por toda a vida. Ele sugeriu que o apego também serve para manter o bebê próximo à mãe, melhorando assim as chances de sobrevivência da criança.

Bowlby via o apego como um produto dos processos evolutivos. Enquanto as teorias comportamentais do apego sugeriam que o apego era um processo aprendido, Bowlby e outros propuseram que os bebês já nascem com uma tendência inata para formar vínculos com os cuidadores.

Ao longo da história, as crianças que mantiveram proximidade com uma figura de apego tinham mais probabilidade de receber conforto e proteção, e, portanto, mais chances de sobreviver até a idade adulta. Por meio do processo de seleção natural, emergiu um sistema motivacional projetado para regular o apego.

O tema central da teoria do apego é que os cuidadores primários que estão disponíveis e são responsivos às necessidades do infante permitem que a criança desenvolva um sentido de segurança. O bebê aprende que o cuidador é confiável, o que cria uma base segura para que a criança, então, explore o mundo.

Então, o que determina um apego bem-sucedido? Os behavioristas sugerem que era o alimento que levava à formação deste comportamento de apego, mas Bowlby e outros demonstraram que o acolhimento e a responsividade eram os principais determinantes do apego.

A CONTRIBUIÇÃO DE MARY AINSWORTH PARA A TEORIA DO APEGO

Em suas pesquisas na década de 1970, a psicóloga Mary Ainsworth expandiu consideravelmente o trabalho original de Bowlby. Seu estudo pioneiro, denominado Situação Estranha, revelou os efeitos do apego sobre o comportamento.

No estudo, os pesquisadores observaram crianças entre as idades de 12 e 18 meses enquanto elas respondiam a uma situação na qual eram brevemente deixadas sozinhas e depois reencontravam as suas mães.

Com base nas respostas que os pesquisadores observaram, Ainsworth descreveu três principais estilos de apego: apego seguro, apego ambivalente-inseguro e apego evitativo-inseguro. Mais tarde, um par de pesquisadores, Main e Solomon (1986), acrescentou um quarto estilo de apego, chamado apego desorganizado, com base em suas próprias pesquisas.

Vários estudos desde então respaldaram os estilos de apego de Ainsworth e indicaram que os estilos de apego também têm impacto sobre os comportamentos em fases posteriores da vida.

AS CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE UMA MÃE

Os infames estudos de Harry Harlow sobre privação materna e isolamento social durante as décadas de 1950 e 1960 também exploraram os primeiros vínculos. Em uma série de experimentos bastante cruéis, Harlow demonstrou como tais vínculos emergem e o poderoso impacto que eles têm sobre o comportamento e o funcionamento dos indivíduos.

Em uma versão de seu experimento, macacos recém-nascidos da espécie rhesus foram separados de suas mães biológicas e criados por mães substitutas. Os macacos infantes foram colocados em gaiolas com duas “mães” feitas de arame. Uma das “mães” de arame segurava uma garrafa da qual o macaco infante poderia obter nutrição, enquanto a outra “mãe” de arame era coberta com um pano macio de algodão atoalhado.

Embora os macacos infantes fossem à “mãe” de arame para obter alimento, eles passavam a maior parte de seus dias com a “mãe” de pano macio. Quando assustados, os macacos bebês procuravam a “mãe” coberta de pano em busca de conforto e segurança.

O trabalho de Harlow também demonstrou que os primeiros vínculos eram resultado do recebimento de conforto e cuidado de um cuidador, em vez de serem simplesmente o resultado de serem alimentados.

OS ESTÁGIOS DA TEORIA DO APEGO

Os pesquisadores Rudolph Schaffer e Peggy Emerson analisaram o número de relações de apego que os recém-nascidos e bebês formam em um estudo que analisou 60 pequeninos. Os bebês foram observados a cada quatro semanas durante o primeiro ano de vida e, em seguida, novamente aos 18 meses.

Com base em suas observações, Schaffer e Emerson delinearam quatro fases distintas de apego, incluindo:

FASE PRÉ-APEGO

Do nascimento aos 3 meses, os bebês não demonstram qualquer apego particular a um cuidador específico. Os sinais do bebê, como chorar e mostrar agitação, naturalmente atraem a atenção do cuidador, e as respostas positivas do bebê encorajam o cuidador a permanecer por perto.

APEGO INDISCRIMINADO

Entre 6 semanas de idade a 7 meses, os bebês começam a mostrar preferências por cuidadores primários e secundários. Eles desenvolvem a confiança de que o cuidador responderá às suas necessidades. Embora ainda aceitem cuidados de outras pessoas, começam a distinguir entre pessoas familiares e desconhecidas, respondendo mais positivamente ao cuidador primário.

APEGO DISCRIMINADO

Neste ponto, de aproximadamente 7 a 11 meses de idade, os bebês mostram um forte apego e preferência por um indivíduo específico, geralmente o pai ou a mãe. Eles protestarão quando separados da figura de apego primária (ansiedade de separação) e começarão a demonstrar ansiedade em torno de estranhos (ansiedade do estranho).

MÚLTIPLOS APEGOS

Após aproximadamente 9 meses de idade, as crianças começam a formar vínculos emocionais fortes com outros cuidadores, além da figura de apego primária. Isso frequentemente inclui um segundo genitor, irmãos mais velhos e avós.

FATORES QUE INFLUENCIAM O APEGO

Há alguns fatores que podem influenciar como e quando os apegos se desenvolvem, incluindo:

Oportunidade para o apego: Crianças que não possuem uma figura de cuidado primário, como aquelas criadas em orfanatos, podem não desenvolver o senso de confiança necessário para formar um apego.

Qualidade do cuidado: Quando os cuidadores respondem de maneira rápida e consistente, as crianças aprendem que podem depender das pessoas responsáveis por seus cuidados, o que é a base essencial para o apego. Este é um fator vital.

OS ESTILOS DE APEGO

Existem quatro padrões de apego, incluindo:

APEGO ANSIOSO: Essas crianças ficam muito angustiadas quando um dos pais se ausenta e, quando retorna, ainda levam tempo para se recuperar por inteiro. O estilo de apego ansioso é considerado relativamente incomum, afetando uma estimativa de 7% a 15% das crianças nos EUA. Devido à fraca disponibilidade parental, essas crianças sentem que não podem contar com o cuidador primário para estar presente quando precisam dele.

APEGO EVITATIVO: Crianças com apego evitativo tendem a evitar os pais ou cuidadores, não mostrando qualquer preferência entre um cuidador e um completo estranho. Este estilo de apego pode ser resultado de cuidadores abusivos ou negligentes. Crianças que são punidas por depender de um cuidador aprendem a evitar buscar ajuda no futuro.

APEGO DESORGANIZADO: Essas crianças exibem uma mistura confusa de comportamentos, parecendo atônitas, confusas ou desorientadas. Elas podem evitar o pai ou à mãe, ou aparentar depender inteiramente deles. A falta de um padrão claro de apego está provavelmente ligada ao comportamento inconsistente do cuidador. Nesses casos, os pais podem servir tanto como uma fonte de conforto quanto de medo, levando a comportamentos desorganizados.

APEGO SEGURO: Crianças que podem depender de seus cuidadores mostram angústia quando separadas e alegria quando reunidas. Embora a criança possa ficar aborrecida, ela se sente segura de que o cuidador retornará. Quando assustadas, as crianças com apego seguro sentem-se confortáveis buscando o apoio de seus cuidadores. Este é o estilo de apego mais desejável.

O IMPACTO DURADOURO DO PRIMEIRO APEGO ESTABELECIDO

Crianças que têm um apego seguro na infância tendem a desenvolver uma autoestima e autoconfiança melhores com o passar dos anos. Essas crianças também tendem a ser mais independentes, têm um melhor desempenho na escola, mantêm relações sociais bem-sucedidas e experimentam menos depressão e ansiedade.

Pesquisas sugerem que a falta de formação de um vínculo de apego seguro no início da vida pode ter impacto negativo no comportamento na infância e ao longo da vida. Crianças diagnosticadas com transtorno desafiador de oposição (TDO), transtorno de conduta (TC) ou transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) frequentemente apresentam problemas de apego, possivelmente devido a abusos, negligências ou traumas precoces. Crianças adotadas após a idade de 6 meses podem ter um risco maior de problemas de apego.

Em alguns casos, as crianças também podem desenvolver transtornos de apego. Existem dois transtornos de apego que podem ocorrer: transtorno de apego reativo (TAR) e transtorno de relação social desinibida (TRSD).

O transtorno de apego reativo ocorre quando as crianças não formam laços saudáveis com os cuidadores. Isso é frequentemente resultado de negligência ou abuso na primeira infância e resulta em problemas com o gerenciamento emocional e padrões de retraimento em relação aos cuidadores.

O transtorno de relação social desinibida afeta a capacidade da criança de formar vínculos com outras pessoas e frequentemente resulta de traumas, abandono, abusos ou negligências. É caracterizado por uma falta de inibição frente a estranhos, levando frequentemente a comportamentos excessivamente familiares com pessoas que não conhecem e a uma falta de limites sociais.

Embora os estilos de apego manifestados na vida adulta não sejam necessariamente os mesmos observados na infância, os apegos precoces podem ter um impacto significativo nas relações posteriores. Adultos que tiveram um apego seguro na infância tendem a possuir boa autoestima, relações românticas sólidas e a capacidade de se abrir para outras pessoas.

Camila Nogueira Nardelli
Camila Nogueira Nardelli
Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.