Eis um exemplo oposto a quase tudo que conhecemos em relação a dirigentes esportivos no país (sobretudo no futebol): o rugby. O modelo de gestão desse esporte no Brasil capacitou a modalidade em um curto período de tempo – de 2010 até aqui – e a alavancou a patamares maiores do que outros esportes nacionais com alguma estrutura.
E este é só o começo da formação deste esporte como potência em terras tupiniquins.
Em cinco anos o orçamento do rugby subiu de R$ 30 mil anuais (estimados) para nada menos do que R$ 20 milhões – o mesmo valor, por exemplo, do handebol, que demorou mais de 20 anos para conseguir somar o montante. A inserção do rugby sevens (uma variante do esporte que joga-se com 7 atletas) nas Olimpíadas em 2009, fato que não ocorria desde 1924, ajudou este significativo crescimento.
Mas o principal fator foi o profissionalismo. Este foi o verdadeiro segredo.
A Confederação Brasileira de Rugby não tem um presidente, e sim um CEO – ou seja, um executivo responsável pela gestão da entidade e pelos resultados. Sua equipe é capacitada, remunerada e muito cobrada. E esse modelo empresarial tem surtido efeito representativo fora de campo.
São 23 empresas que apoiam atualmente a modalidade, provando que o mercado do marketing esportivo nacional já vê o rugby como uma alternativa sólida a esportes já consolidados no país. Este fato, sim, um grande diferencial entre a modalidade crescente e o handebol nacional, que recebe maior parte de seu orçamento do Comitê Olímpico Brasileiro.
Outro grande incentivador é a International Rugby Board (IRB), espécie de Fifa da modalidade, que enxerga o Brasil como peça-chave para o desenvolvimento do esporte fora dos territórios já consagrados.
Desde a confirmação da modalidade no programa olímpico, a entidade internacional aumentou o número de recursos repassados à Confederação Brasileira de Rugby. É uma estratégia similar a já aplicada pela IRB na Argentina, onde a evolução do rugby nas últimas décadas culminou com o terceiro lugar na Copa do Mundo de 2007, na França.
A inserção do Brasil como sede em torneios internacionais é prova do crescimento do rugby nacional com a ajuda da IRB. Foi o que aconteceu, por exemplo, neste último fim de semana em Barueri, na Grande São Paulo, onde foi realizado o Super Desafio BRA de Rugby Sevens Feminino, etapa brasileira da Serie Mundial de Rugby Sevens Feminino (é o segundo ano que o Brasil recebe o evento).
Nessa competição, a equipe brasileira feminina – que é dez vezes campeã sul-americana – repetiu seu maior feito no Circuito Mundial e conquistou a oitava colocação. O evento foi transmitido mundialmente com audiências representativas, o que é rotina para a modalidade, que alcança a marca de quatro bilhões de telespectadores no mundo com a Copa do Mundo, perdendo apenas para o Mundial de futebol da Fifa e os Jogos Olímpicos.
E não é só fora do Brasil que o Rugby atinge bons números de audiência. Aqui, apesar de a modalidade ainda ser pouco difundida, o Campeonato Brasileiro de XV é transmitido pela SporTV e alcança mais de um milhão de espectadores.
A ESPN, com transmissões de torneios europeus no país, igualmente acumula bons números. Tanto é verdade que apostará forte em eventos da modalidade este ano – o que também tem ajudado a aumentar o número de praticantes. Segundo um levantamento da IRB, o Brasil atualmente tem 30 mil praticantes e 230 clubes, em 23 estados.
Vale ressaltar também que o Rugby tem um centro de treinamento para a formação de novos atletas, preparação da seleção brasileira (masculina e feminina) e também das categorias de base – exemplo que deixa muitas modalidades canarinhas de maior expressão com inveja.
É por tudo isso e pelo apoio dos profissionais empenhados no crescimento da modalidade que o rugby caminha tranquilamente para atingir resultados tão representativos também dentro de campo. Vencer o amadorismo foi só o primeiro passo e deixará um grande legado para este esporte e para o esporte nacional de forma geral.
Parabéns àqueles que participaram do crescimento do rugby e nós torcemos para que a evolução continue.
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