Franklin, o maior profeta do autoaperfeiçoamento desde os dias em que o Estoicismo imperou, foi incansável em sua busca por sabedoria prática. Desde a lista de 13 virtudes que escreveu aos vinte anos até a sua impressionante rotina diária e a sua sabedoria em desarmar inimigos, Franklin desenvolveu e aplicou estruturas psicológicas únicas a fim de enfrentar os mais diversos problemas da existência. Já na meia-idade, sua reputação como sábio o colocou no epicentro de inúmeros pedidos por conselhos, aos quais atendia generosa e cuidadosamente.
Um episódio marcante ocorreu no final do verão de 1772. Nessa ocasião, recebeu um pedido de Joseph Priestley, jovem cientista, teólogo e teórico político, então ministro de uma igreja em Leeds. Por recomendação de Franklin, o Conde de Shelburne oferecera a Priestley um cargo lucrativo como seu assistente geral, responsável pela gestão de sua biblioteca e pela educação de seus filhos. Priestley se viu dividido. Aceitar significaria estabilidade financeira e mais tempo para se dedicar às suas investigações científicas. No entanto, exigiria abandonar o ministério e mudar para a propriedade do Conde, perto de Bath. Indeciso, Priestley buscou a orientação de Franklin.
Franklin, em vez de decidir por Priestley, ensinou-lhe como escolher. Na carta escrita a ele, Franklin delineou uma espécie de rascunho para a matemática moral da tomada de decisão. Este é o primeiro esquema de “prós e contras” registrado.
A carta de Franklin a Priestley:
O caso em relação ao qual pede meu conselho é muito relevante para a sua vida. Não posso tomar essa decisão por você, mas, se desejar, posso lhe dizer como sugiro que proceda.
Quando esses casos ocorrem, é difícil decidirmos porque, enquanto os consideramos, os argumentos a favor e contra raramente estão presentes em nossas mentes ao mesmo tempo. Há momentos em que pensamos no lado positivo, e momentos em que consideramos o negativo, mas eles excluem um ao outro. Assim, uma série de propósitos e inclinações diferentes se manifestam, e a incerteza nos deixa perplexos.
Para superar isso, divido uma folha de papel pela metade com uma linha, criando duas colunas, escrevendo “Prós” em uma, e “Contras” na outra. Durante três ou quatro dias de consideração, anoto sob os diferentes títulos breves indicações de diferentes motivos que me ocorrem a favor ou contra a medida. Quando tenho todos juntos em uma só visão, procuro estimar seus respectivos pesos; e onde encontro dois, um de cada lado, elimino a ambos.
Assim, encontro finalmente onde está o equilíbrio; e se após um ou dois dias de consideração adicional nada de importância surgir em qualquer lado, tomo uma decisão.
E, embora a vida nem sempre respeite os resultados precisos da álgebra, percebo que usar esse método me permite fazer julgamentos superiores e evitar a impulsividade. Chamei-o de Álgebra Moral, ou Álgebra da Prudência.
Priestley aceitou a posição, um marco na história da ciência. Menos de três anos depois, no laboratório que o Conde de Shelburne construiu para ele, Priestley realizou o famoso experimento em que concentrou os raios solares em uma amostra de óxido de mercúrio através de uma lente e descobriu o oxigênio, O2 – um novo tipo de ar que ele considerou “cinco ou seis vezes melhor que o ar comum para respiração, inflamação e, acredito, qualquer outro uso do ar atmosférico comum.”
O texto original, publicado no The Marginalian, encontra-se aqui.