Enquanto me questionava sobre qual curiosidade escreveria esta semana, fui atormentada pela pergunta de uma colega massagista: “Patrícia, por que tantas pessoas com questões psicológicas procuram por mim em vez de você?”
Fiquei curiosa tanto quanto ela.
Mais tarde, ruminando esta questão cheguei à conclusão, que me é presente no cotidiano do consultório, de que muitos homens percorrem uma via sacra antes da chegada à sala de análise: vão ao cardiologista, ao endocrinologista, ao psiquiatra, alguns aos prostíbulos, outros muitos aos bares, os mais descolados à taróloga, uns desinibidos à massoterapia e assim em diante, até a então brava chegada ao divã.
Porque será que há tanta resistência em consultar um psicólogo? Mais um questionamento. Noto que vivemos uma cultura de hombres valentes, bem resolvidos e sucedidos. Homens em ternos, másculos, vaidosos, e confiantes. O famoso macho alfa.
Se a mulher ganhou visibilidade e destaque no mercado, na política, em casa e na cama, homens também se libertaram para cuidar do corpo, da mente e da alma.
Mas então por que o crescente uso de viagra, antidepressivos, e ansiolíticos?
Talvez porque não haja espaço para o medo, a falha, o cansaço, a tristeza, o luto e a dúvida. Vivemos em um frenético cotidiano de metas profissionais, culto ao corpo, performances dignas de Kama Sutra, relacionamentos instáveis e abertos. Praticamos a política do desapego (a pessoas), lutamos por liberdade de expressão. Mas a bem da verdade, pouco sabemos sobre o que é expressar-se.
O Whatsapp nos fornece emotions que substituem abraços, mensagens que dispensam o contato físico e humano. É a era do rápido e do instantâneo.
Porém algo escapa. Na vida então perfeita, um sintoma atormenta. Uma crise de estresse, um ataque de ansiedade, uma ereção que não acontece, uma alergia que erupciona, um sono que teima em não vir. E frente a esta questão, a praticidade se instaura.
Para que gastar uma hora ou duas de minha semana pensando sobre o que está acontecendo e qual a minha parcela de culpa na origem do meu sintoma, se tomar uma pílula mágica resolve tudo? Para que a psicoterapia, se há a medicalização desenfreada?
Um paciente chegou em minha sala e contou-me uma linda história – ao embalo de seus pés que insistiam em chacoalhar – sobre como sua vida era certa, bem resolvida e sucedida. Nada além de alguns remédios para se acalmar e dormir.
Curiosa, ao final da sessão, lancei a seguinte pergunta: “Então o que faz aqui?”
Ele, assustado, disse: “Porque após 32 anos escondendo algumas questões, elas insistem em se fazer presentes. Tenho medo dos monstros que podem aparecer. Como vou lidar com eles?”
“Juntos”, respondi.