Você já ouviu falar sobre a comunicação não-violenta? Esse é um processo criado na década de 1960, pelo psicólogo e mediador Marshall Rosenberg, que procura tornar efetiva o ato (aparentemente simples) de se comunicar com as outras pessoas sem entrar em atritos desnecessários. Serve tanto para um cenário diplomático quanto para todos os nossos relacionamentos cotidianos. E é neste segundo caso que vamos focar o texto de hoje.
O raciocínio parte de um ponto: todos os seres humanos têm necessidades básicas. E essa lista é bem grande. Segurança, confiança, igualdade, consideração, espaço, harmonia, serenidade, autenticidade, aceitação, inclusão… A lista é grande mesmo.
Considerando isso, a teoria conclui que a maioria dos conflitos entre as pessoas surge a partir de uma comunicação equivocada de suas necessidades não atendidas.
Marshall diz que não liga muito para o que as pessoas falam. Mas, relaxa, isso não significa o que parece. Ele não liga muito para as palavras. Ele se preocupa mais pelas necessidades que estão por trás das palavras, que estão levando a pessoa a falar e agir daquela forma.
Segundo Marshall, “por trás de todo comportamento existe uma necessidade. Todo ato violento é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida”.
Por exemplo, quando sua mulher chega em casa e briga com você porque a pia está cheia de louça suja e você não fez absolutamente nada sobre isso, ela pode estar apenas comunicando que a sua necessidade de descanso não está sendo atendida, já que se você não lavou, ela terá que lavar, mesmo depois de um dia super cansativo.
Só que ela optou por comunicar isso de uma forma violenta, que pode fazer com que você se sinta agredido e, em vez de reconhecer a necessidade da sua mulher, você reage iniciando um conflito. Para solucionar essas situações, a comunicação não-violenta considera quatro passos essenciais:
O primeiro passo é não julgar. Vamos considerar o ponto de vista da mulher que citamos acima. Ao chegar em casa e se deparar com a situação da cozinha, ela logo fez um julgamento: “Filho da p#ta preguiçoso, que não tira a bunda do sofá.”
Observar sem julgamento é considerar a situação com um olhar neutro, sem envolver carga emocional. Ou seja, procurar entender o que aconteceu a partir da simples observação. Em vez de julgar, observe.
O segundo passo é identificar sentimentos. Nesse estágio você vai fazer uma imersão dentro de você mesmo para descobrir qual a necessidade que não foi suprida que acabou gerando o sentimento que te impulsionou a agir (ou a querer agir) de uma maneira violenta.
É encontrar o porquê de suas ações ou reações. No caso da sua mulher enfurecida pela louça, pode ser uma necessidade de descanso, uma necessidade de consideração, de atenção, de higiene, de cuidado… Quem pode fazer essa leitura é a própria pessoa.
Todo o processo de violência surge por conta da terceirização da responsabilidade. É a gente não querendo assumir a responsa pelos nossos próprios sentimentos e querendo jogar para outra pessoa.
Por isso, depois de ter identificado o sentimento e a origem dele, o terceiro passo é assumir a responsabilidade por isso. O responsável pelo sentimento da mulher não foi o seu marido, mas alguma necessidade dela mesma que não foi atendida.
O marido foi um gatilho para a situação. Essa é a parte mais difícil, porque envolve processos complexos do nosso psicológico. É, no fundo, um processo de autoconhecimento.
Depois de todos os passos, o último é fazer o pedido. Então a mulher entrou em casa, viu a casa uma bagunça e foi conversar com o marido, comunicando a ele o seu sentimento.
“Meu amor, quando isso acontece eu me sinto desconsiderada, porque o combinado é que você lave a louça e você não lava, e aí eu sinto que você não me considera, e isso me entristece… Por favor, gostaria muito que você pudesse cumprir com seus compromissos. Pode ser?”
Muitas vezes somente o processo autêntico de desabafo, de compartilhar sentimentos e emoções já é suficiente para nos libertar desses próprios sentimentos e emoções negativos, fazendo com que a gente não fique acumulando aquilo. Então se você necessitar, fale.
Tudo o que foi dito é considerando você como o agente da comunicação violenta. Mas a teoria é extremamente útil quando nós somos o ouvinte desse cenário. Quando isso te acontecer, considere que a pessoa está apenas expressando uma necessidade não atendida.
Procure, com suavidade, mostrar que você deseja compreendê-la, que ela perceba essa sua intenção. Isso certamente vai fazer com que a conversa seja mais efetiva.
Essa história do casal que contei é só um exemplo simples de comunicação violenta. Há infinitos outros que acontecem em nossas vidas e que você pode identificar no seu cotidiano. Que tal a partir de agora trocar essa atitude destrutiva pela comunicação não-violenta?
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