Lembro-me do final dos anos 90, quando comecei a acompanhar futebol. Filho de palmeirense, logo me tornei um torcedor fanático. Peguei os últimos brilhos – e os mais intensos, é verdade – do último grande Verdão. E assim me apaixonei pelo esporte.
Cada partida era um evento marcante. A qualidade técnica era alta, já que havia jogadores de ótimo nível técnico em campo, e a raça se equiparava, quando não superava esse fator.
Um jogo de futebol era emocionante.
E então o tempo foi passando e o esporte permaneceu em minha vida. Mas a cada ano o futebol se mantinha mais pelo espaço que já havia conquistado do que pelo que estava conquistando. É como aquele namoro que não acrescenta mais nada, mas você não tem coragem de terminar por conta de tudo que já passou.
E eu sempre achei que a culpa nesse lance era minha. Talvez a empolgação da meninice, de coisa nova, era o que dava aquela emoção toda, que desenhava aquele cenário fantástico.
Mas começo a desconfiar que não. E quem vem me dar um toque é a Copa.
A Copa reacendeu minha fé no futebol. Ela veio provar que, sim, esse esporte é realmente emocionante, que todos os jogos podem ser incríveis, não apenas um em cada dez.
O Pedro Nogueira tem uma tese que eu era levado a concordar. Apaixonado por tênis e basquete, ele me disse algumas vezes que o problema do futebol é que ele não é um esporte muito dinâmico. São 90 minutos de jogo sendo que em, sei lá, 10, 15, 20 deles há um momento de explosão, que é quando acontecem os gols ou lances de mais expressão. O resto é tocar a bola para lá, para cá, perder tempo com bola fora de jogo e etc.
Isso fazia sentido. É assim que o esporte tem se apresentado para mim nos últimos tempos.
Eu acompanho o futebol brasileiro (não muito o europeu) e ele está muito chato. Lembro que antigamente 13 mil pessoas no estádio era um número minimamente aceitável. Hoje esse é um número interessante. Até as arquibancadas estão murchando (sim, por vários fatores).
O jogo dentro de campo está sem vida. O Corinthians, último brasileiro a conquistar o mundo com um dos times mais consistentes e regulares que eu já vi, jogava para fazer um gol e não tomar nenhum. Há coisa mais chata do que isso? Estão matando a graça do futebol em benefício dos resultados.
Outra coisa é o formato dos campeonatos, mais especificamente o do maior torneiro nacional. Nunca soube muito bem se defendia os pontos corridos ou o mata-mata, mas agora estou convicto: pontos corridos my ass.
Esse negócio de 38 rodadas para ver quem é o melhor no final é uma estratégia destruidora da emoção. O Campeonato Brasileiro era infinitamente mais interessante com a segunda fase.
Se é menos justo? Pode ser – mas é isso que faz do futebol um esporte espetacular, a imprevisibilidade (mas que a arbitragem esteja longe disso).
Muitos argumentam que é assim que funciona na Europa. E daí? Problema é deles. Quem disse que se não adotassem o formato com duas fases, a segunda mata-mata, as coisas não seriam bem mais interessantes.
O legal é ver time pequeno batendo de frente com time grande. Não é o que temos visto nessa Copa? Não é o que tem encantado todos nesse torneio? E os pontos corridos detonam essa possibilidade.
Para mim, a Copa do Mundo no Brasil é a prova de que a tese do Pedro pode ser invalidada. Mas para isso é preciso que o futebol seja menos burocrático, tenha mais vontade, intensidade, tesão. Estou nem aí para a justiça dos resultados – confio nos deuses do futebol. Queria apenas que o maior esporte de todos voltasse a ser emocionante por essas bandas.
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