David Luiz, a cara da nova Seleção

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É possível um zagueiro ser craque?

É claro que houve na história do futebol defensores que marcaram época, de Domingos da Guia a Gamarra, passando por Baresi, Dario Pereyra e Figueroa, entre muitos outros. Depois da Copa da Alemanha em 2006, tivemos o italiano Fabio Cannavaro escolhido como melhor jogador do mundo – primeiro zagueiro a receber o prêmio da FIFA. Tudo bem que isso também aconteceu pela falta de craques no time pragmático italiano.

Mas um zagueiro que pode mudar o rumo de uma partida? Acho que isso não existe desde Beckenbauer – que era mais um líbero do que zagueiro próprio, tendo liberdade para sair jogando.

É engraçado que, depois de anos fabricando meias e atacantes craques como Zico, Romário, Rivaldo e Ronaldo, talvez os jogadores mais valiosos da seleção brasileira atualmente sejam os que compõem a dupla de zaga (acompanhados de um tal Neymar).

Thiago Silva, que aprendeu muito com Nesta e Maldini no Milan e hoje é cobiçado pelo Barcelona, é tido como o melhor da posição e capitão do time. Mas não é dele que estou aqui para falar.

E, sim, de David Luiz.

Talvez seja chover no molhado falar do camisa 4 do Chelsea depois da atuação incrível que teve na final da Copa das Confederações, contra a temida Espanha. Mas não é de hoje que o zagueiro é símbolo do time em que joga.

Demorou pouco para David Luiz se firmar no time londrino. Se já dava sinais de que teria um entrosamento bom com seu companheiro veterano John Terry, aliando experiência com juventude e vigor físico, David também se destacou nos jogos importantes.

Na primeira partida em que atuou como titular pelo time de Stamford Bridge, contra o Fulham, no clássico do sudoeste de Londres – poucos sabem, mas o Chelsea fica, na verdade, em Fulham – o zagueiro foi escolhido o melhor em campo. Seu primeiro gol saiu em uma vitória suada contra ninguém menos do que o Manchester United – e depois marcaria de novo, contra o City.

O zagueiro também foi um dos melhores em campo no jogo de volta das oitavas de final da Champions League 2011/2012 – que o time sairia campeão no fim –, quando os Blues passaram na prorrogação heroicamente pelo Napoli (tinham perdido por 3×1 na Itália e fizeram 4×1 em Londres). Na final do torneio, David Luiz jogou sem estar em plenas condições contra o Bayern de Munique, para substituir o lesionado John Terry. E foi um monstro. Esbanjou raça durante a partida e classe em sua cobrança na disputa de pênaltis.

Não demorou muito para o zagueiro ser cultuado pelos torcedores do Chelsea. Sua raça, aliada ao seu perfil único, com um cabelo à la Valderrama/Anderson Varejão, causando comparações com o personagem Sideshow Bob, dos Simpsons, misturado ao seu estilo espontâneo e autêntico fora de campo, tornaram David Luiz um xodó da torcida, que passou a usar perucas parecidas com seu penteado nas arquibancadas.

David Luiz tem um carisma tão natural quanto a gravidade – admito, roubei essa frase de um texto que li. Mas não vou falar de onde, procure no Google.

Até quando faz algo errado, é impossível ficar bravo por muito tempo com ele. Quando fez um “pequeno show” ao levar uma entrada do lateral brasileiro Rafael, do Manchester United, causando sua expulsão, a imagem do jogador sorrindo caído no campo virou até meme na internet.

Natural de Diadema, teve dificuldades, sendo dispensado da base do São Paulo até dar certo como zagueiro pelo Vitória na terceira divisão (originalmente, o jogador começou como volante). Precisou de seis meses no Benfica para ter seu contrato renovado por 5 anos. E, em seu segundo ano no clube lisboeta, foi escolhido o jogador da temporada.

Posteriormente foi vendido por 25 milhões de Euros ao Chelsea. Mesmo corintiano confesso, parecia um dos jogadores mais dedicados na final do Mundial de Clubes, em que foi escolhido o 2o melhor jogador. E, de volta às origens, jogando como volante com o técnico Rafa Benítez, foi um dos destaques, inclusive marcando gols, na campanha na UEFA Europa League, que o time ganhou em cima de sua ex-equipe, o Benfica.

David Luiz é moderno, aliando sua raça a uma técnica que poucos zagueiros têm, se destacando até mesmo na frente, com arrancadas ligando contra-ataques. Isso sem contar a bola que salvou na final contra a Espanha, que foi comemorada por nós tanto quanto os gols de Fred.

“Jogador bom é jogador com fome”, já dizia Felipão. Isso, David Luiz tem de sobra. Não à toa é a cara da seleção do técnico gaúcho.

Diego Marques

Diego Marques é formado em Rádio & TV pela FAAP; fez um curso de televisão na National Film and Television School, em Londres; e estudou cinema na New York Film Academy.

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