Cada página virada é um reflexo da nossa alma. Mergulhar nas profundezas de um livro, ou de dois livros, ou de cem, é, sem dúvida, uma janela para a alma.
Afinal, as escolhas literárias que fazemos são influenciadas pelos intrincados padrões de nossa personalidade. Uma pesquisa reveladora de quatro pesquisadores da Disney Research, que consiste em uma rede mundial de laboratórios de pesquisa ligada à The Walt Disney Company, confirma exatamente isso.
Para eles, nossos traços de personalidade não apenas revelam, mas também ditam nossos padrões de leitura. E como isso acontece?
De memórias à ficção afro-americana: a leitura dos extrovertidos
Em nossa sociedade, o dinamismo dos extrovertidos muitas vezes se manifesta em sua preferência por livros com temas sociais. Através das páginas, eles viajam e se aprofundam nas vidas dos outros, mostrando uma clara inclinação para memórias, autobiografias e biografias.
Uma descoberta particularmente interessante é a sua predileção pela ficção afro-americana. Essa tendência poderia ser explicada, pois estudos sugerem que os afro-americanos têm um grau de extroversão significativamente maior do que os americanos brancos.
Em contraste, os introvertidos, com seu mundo interno rico, gravitam em direção a temas de fantasia, ficção científica ou sobrenaturais, que estimulam e desafiam sua imaginação. Além disso, o fascínio pela cultura japonesa, em especial os mangás, também é associado a esses indivíduos introspectivos.
Entre o familiar e o dramático: a dualidade da amabilidade
A amabilidade é um traço de personalidade complexo e muitas vezes mal interpretado, mas que envolve graus mais altos do que a média de altruísmo, inteligência emocional e confiabilidade. Aqueles com altos níveis de amabilidade tendem a se perder em livros que promovem relações sociais positivas, seja através de temas familiares ou religiosos.
Em contraste, os menos amáveis revelam uma inclinação para dramas psicológicos e clássicos cult. Uma observação peculiar é a preferência destes últimos por literatura japonesa, italiana e russa, possivelmente refletindo os scores relativamente baixos de amabilidade observados nas populações destes países.
O apetite intelectual pelos livros dos abertos à experiência
Para aqueles que pontuam alto em abertura à experiência, a literatura é um campo de jogo para a mente.
Esses indivíduos costumam se envolver com livros intelectualmente desafiadores, aqueles que muitos abandonariam pela complexidade. É aqui que encontramos os amantes da literatura clássica.
Contudo, no extremo oposto, os menos abertos preferem materiais cognitivamente menos exigentes. Curiosamente, tais pessoas consomem muito conteúdos relacionados ao Cristianismo e à Índia. Esta última preferência pode ser atribuída ao fato de que muitos indianos e indivíduos profundamente religiosos tendem a pontuar mais baixo no traço de abertura à experiência.
Neuroticismo: uma viagem através da emoção
Os neuróticos – isto é, aqueles com alto grau de neuroticismo, que envolve maior tendência à depressão, ansiedade e irritabilidade, muitas vezes buscam livros que ressoem com seus estados emocionais intensos. A literatura distópica, com seus finais muitas vezes infelizes, ou os livros centrados em transtornos mentais, tem um apelo especial para eles.
Por outro lado, os menos neuróticos optam por títulos que se concentram no desenvolvimento pessoal e na não-ficção, refletindo talvez uma busca por estabilidade e crescimento.
Consciência e a busca pelo conhecimento através dos livros
Consciência, um traço frequentemente associado à organização e diligência, tem suas manifestações literárias. Aqueles com altos níveis desse traço são frequentemente vistos imersos em materiais informativos, buscando aprimorar tanto o seu desenvolvimento profissional como apenas saciar sua sede de conhecimento.
Contrapondo isso, aqueles com baixa consciência se deliciam com a simplicidade dos livros infanto-juvenis ou com obras que oferecem uma dose saudável de humor leve.
O capítulo final: a saga do autoconhecimento
Ao virar a última página deste artigo, fica claro que nossa relação com os livros é uma extensão de quem somos. Como um espelho literário, nossas escolhas refletem, revelam e, às vezes, até moldam nossos traços de personalidade.
Assim, da próxima vez que você escolher um livro, lembre-se: ele pode estar contando uma história sobre você tão profunda quanto a que está escrita em suas páginas.