Demência Pugilística, o mal que assombra os boxeadores

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Um adversário silencioso, que nenhum lutador consegue nocautear ou vencer.

Ele é a origem dos dramas vividos pelos ex-pugilistas Maguila, 56, e Eder Jofre, 78.

Os socos que sofreram na cabeça durante a rotina de suas gloriosas vidas na carreira do boxe hoje lhes trazem uma melancólica luta que ambos não têm como evitar.

Encelofopatia traumática crônica do boxeador, conhecida como demência pugilística, é uma doença que afeta atletas e praticantes de lutas que sofrem repetidas pancadas na cabeça.

É caracterizada por declínio cognitivo, problemas de memória e sinais de parkinsonianos.

Os sintomas podem se desenvolver progressivamente no tempo médio de cerca de 12 a 16 anos após o início carreira de um atleta. Não existe uma regra, já que alguns ex-atletas têm menos propensão a desenvolver o mal.

“O soco na cabeça, o trauma no crânio, afeta o cérebro seja mais cedo ou mais tarde”, explicou ao El Hombre a neurologista Renata Areza, autora de um estudo sobre o tema na Universidade de São Paulo. “Os estudos demonstram isso. A prática de trauma de crânio repetido não é uma coisa saudável.”

Boxeadores da seleção brasileira e profissionais são alertados do problema e, mesmo assim, encaram mais este duro desafiante, cientes que não terão uma vitória.

É o jeito de vencerem a dura vida por meio do esporte.

“Eu fui alertado pelo psicólogo da seleção”, diz Jorge Quintela, ex-atleta da seleção brasileira e atualmente técnico de boxe do São Paulo. “Ele viu em mim sintomas que davam mostras que eu estava desenvolvendo a doença. Eu esquecia muito das coisas. Ele me orientou a parar, mas quis continuar.”

“Vi depois que era melhor parar. Já tinha conquistado coisas na carreira e dali em diante conquistaria apenas uma doença no final”, explicou Jorge, que com os estudos (é mestrando) tenta driblar o problema do futuro.

“Sei que a luta pode ter antecipado uma doença do futuro, mas fui eu que plantei isto”, diz Jorge. “Não me arrependo. Tomara que os próximos lutadores não tenham esta doença, eu trabalho com os meus para que não tenham.”

Mas como é trabalhar para evitar?

Usar o capacete de boxe nos treinamentos e intercalar lutas com um maior espaço de tempo. Não pode se esquivar do problema como se o mesmo não existisse.

Como no Brasil o boxe ainda é quase amador, levanto a bandeira para que esta séria doença seja, ao menos, minimizada.

“A medicina estuda para tratar, pois não existe cura. A medicina e o esporte precisam andar juntos para que o problema seja minimizado”, concluiu a neurologista Areza.

Felipe Piccoli

Felipe Piccoli é especializado em jornalismo esportivo desde 2008. Com passagens pela Rádio Bandeirantes e pelo jornal Marca Brasil, hoje ele é coordenador de reportagem da Band.

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