Sempre que penso em fotografia, uma metáfora (esquisita, admito) me vem à cabeça. Sob o risco de virar motivo de piada, compartilho-a com os leitores do El Hombre: se a fotografia fosse um animal, seria uma sereia. Exato, sereia. Para ser sincero, não tenho certeza se elas enquadram na classificação de animal. Mas isso não vem ao caso. E explico a metáfora.
Já conheci muitas pessoas na minha vida que gostavam de tirar fotos como um hobbie e que — verdade seja dita — até saíam-se bem no papel de amadoras. Até que chegaram à seguinte conclusão: “Se eu gosto de fotografar e meus retratos são bonitos, por que não viver disso?” E atraídas por essa imagem utópica da carreira de fotógrafo, elas se lançam nessa ideia como um marinheiro no colo de uma sereia. Isso para descobrir, seis meses depois, que, como qualquer outro trabalho, a fotografia exige muito estudo, experiência — e um investimento considerável.
“Sem dúvida dá para fazer muito dinheiro nesta careira”, diz o fotógrafo paulista Bruno Namorato, 26 anos, sócio do estúdio SM2 Fotografia. “Só que a grande maioria ganha uma miséria. O problema, entretanto, não está no mercado e, sim, no próprio profissional, que não está bem preparado.”
E, caso você ache que a rotina é tranquila, pode esquecer. “Todo ano trabalho na véspera de Natal. Isso sem contar os eventos que preciso cobrir nos sábados, domingos e feriados. Se você quer viver de fotografia, além de estudar e praticar muito, precisa ter amor pelo trabalho. Senão, esquece.”
Pedimos para Bruno contar as maiores dificuldades — e vantagens — de viver da câmera, assim como dar algumas dicas aos aspirantes de fotografia.
Todo fotógrafo, imagino, deve começar a carreira sonhando em ser um JR Duran, que ganha dinheiro para fotografar as mulheres mais bonitas do país com pouca roupa. Foi o seu caso?
Bem, realmente imaginei algo parecido com isso! [rs]
Mas essa área deve ser bastante concorrida, não?
Sem dúvida. Fui percebendo, pouco a pouco, que fotografar lindas mulheres nuas não rendia um retorno financeiro tão bom como eu imaginava. A não ser que você esteja trabalhando para uma das grandes revistas masculinas do Brasil, como a Playboy ou a Vip, é claro. Então foi um processo natural eu ir me desenvolvendo em outras áreas.
Dá para fazer um bom dinheiro com fotografia?
Acredito que é possível ganhar muito bem em todas as áreas. Conheço desde fotógrafos de festa infantil que faturam R$ 20 mil por mês até ícones que faturam isso em uma única foto de publicidade. Estes ícones, para chegarem onde estão, se especializaram a fundo nas técnicas e principalmente nas necessidades e tendências do mercado. Agora, é claro que existem os que não ganham um décimo disso. E a verdade é que eles são a grade maioria. Mas o problema não está na área e sim no profissional.
E no seu caso específico? Você está ganhando bem?
Isso é quase como perguntar a idade de uma linda mulher que você sabe que beira os 30, né? [rs]
Juro que não espalho. Muito. Só para os leitores do El Hombre.
Ficar rico nunca foi meu foco, mas sim viver bem e trabalhar com o que gosto. Esse objetivo, sem dúvida, se realiza todos os dias. Mas posso dizer que o estúdio no qual tenho uma parte na sociedade já não se enquadra mais como Micro Empresa, e tem crescido ano a ano apesar das dificuldades do mercado.
Você não é mais autônomo, então?
Após três anos totalmente autônomo na profissão, conheci duas fotógrafas que viriam a ser minhas sócias. Trabalhamos juntos um tempo e logo firmamos sociedade no estúdio SM2 Fotografia. Ele já existia antes da minha chegada, mas hoje me sinto parte integral dele.
Me diz um negócio: como é a rotina de um fotógrafo?
Tem a questão da sazonalidade, sabe? Há algumas segundas, terças ou quartas que tenho meu dia light… Posso até ficar de bobeira e esticar para uma praia! [rs] Mas há noites de sexta e convenções durante sábados, domingos e feriados que tenho que cobrir. Isso sem contar as noites frente ao computador editando imagens. Muitas imagens.
Entendo. É um expediente duro porém flexível, então?
Exato. Essa quebra de rotina que inicialmente atrai muita gente, após algum tempo faz muitos desistirem. Todos os anos eu trabalho inclusive na véspera de Natal. Mas só até às 14h, claro, porque ninguém é de ferro! [rs] Alguns fotógrafos conseguem ser ainda mais radicais e trabalhar durante a virada de ano novo, durante todo o carnaval e por aí vai. Acho um exagero. Não acredito que você vá ficar rico por perder seus feriados trabalhando, sabe? Mas tenho certeza que, se você tentar conciliar sua rotina com a de seus amigos advogados ou bancários, vai faltar dinheiro no fim do mês.
E qual você diria que é a maior dificuldade na carreira de um fotógrafo?
Acredito que se manter atualizado sempre. A fotografia hoje é 100% ligada à tecnologia e vive numa constante mudança. Todo o estudo artístico, histórico e autoral da fotografia é imprescindível, certamente. Mas estar à frente das inovações, ou pelo menos colado nelas, é vital pra sobreviver no mercado. Como eu te disse, os fotógrafos melhor remunerados são aqueles que captam as necessidades e as tendências do mercado naquele determinado momento. Isso implica em investir em conhecimento e também em equipamentos nada baratos.
Quanto alguém que está começando precisa investir na compra de equipamentos?
Hum, difícil dizer um número exato… Uns R$ 7 mil, eu diria. Porque você precisa pelo menos de uma boa câmera, um par de lentes e um flash. Até hoje, calculo que eu tenha investido R$ 26 mil. Sem contar, obviamente, a estrutura do estúdio e vários gastos com a infra da empresa.
Ok. Para terminar, uma última pergunta: que curso você indicaria para fotógrafos iniciantes?
Ter uma base teórica é fundamental nesta área, eu diria. É preciso conhecer o que foi feito e como foi feito antes de sair por aí clicando. Recomendo os cursos teóricos da Simonetta Persichetti no MAM e os práticos oferecidos na grade da FULL FRAME, de acordo com o caminho que quer seguir. Eu diria que, para você ser um bom fotógrafo, precisa estudar, praticar e investir. E gostar disso, é claro. Se você não tem paixão por essa arte, então, é melhor procurar outro trabalho.