Nós vivemos estendidos entre o efêmero e o eterno, constantemente negociando os dois. Somos levados pelo vórtice da imediatidade — o agora do que estamos vivenciando com uma urgência tão insistente — e ansiamos por nos ancorar em algum sentido de estabilidade temporal. Anelamos pela imortalidade em um universo baseado na impermanência.
“Se nosso coração fosse grande o suficiente para amar a vida em todos os seus detalhes,” escreveu o grande filósofo francês Gaston Bachelard ao refletir sobre nossa relação paradoxal com o tempo, “veríamos que cada instante é simultaneamente um doador e um saqueador.”
A poetisa Mary Oliver expressou ainda mais perfeitamente: “Toda a eternidade está no momento.”
Nenhuma invenção humana retratou esse paradoxo de forma mais maleável que o cinema. Foi o que o grande cineasta russo Andrei Tarkovsky (4 de abril de 1932 – 29 de dezembro de 1986) examinou no último ano de sua vida, quando considerou a matéria-prima de sua arte em “Esculpir o Tempo: Reflexões sobre o Cinema“.
Tarkovsky escreve:
O tempo, impresso em suas formas e manifestações factuais: essa é a suprema ideia do cinema como uma arte, levando-nos a pensar sobre a riqueza de recursos não explorados no filme, sobre seu colossal futuro.
Um fervoroso defensor dos benefícios criativos e psicológicos do tédio como função de aprender a habitar plenamente o tempo, ele considera a infraestrutura psicológica subjacente que torna o apelo do cinema tão robusto:
Por que as pessoas vão ao cinema? O que as leva a uma sala escura onde, por duas horas, assistem ao jogo de sombras em uma tela? À procura de entretenimento? A necessidade de um tipo de droga? De fato, em todo o mundo, existem empresas e organizações de entretenimento que exploram o cinema, a televisão e espetáculos de muitos outros tipos. No entanto, nosso ponto de partida não deveria estar lá, mas nos princípios essenciais do cinema, que estão relacionados com a necessidade humana de dominar e conhecer o mundo. Eu acredito que o que uma pessoa normalmente busca no cinema é o tempo: tempo perdido, gasto ou ainda não vivido. Ela vai lá pela experiência viva; pois o cinema, como nenhuma outra arte, amplia, realça e concentra a experiência de uma pessoa — e não apenas a realça, mas a prolonga, significativamente. Esse é o poder do cinema: “estrelas”, enredos e entretenimento não têm nada a ver com isso.
Tarkovsky se volta para a tarefa do cineasta como um artesão do tempo:
Qual é a essência do trabalho do diretor? Poderíamos definir como esculpir no tempo. Assim como um escultor pega um pedaço de mármore e, conscientemente, pensando nas características de sua obra finalizada, remove tudo que não faz parte dela — assim o cineasta, de um “pedaço de tempo” composto por um enorme e sólido aglomerado de fatos vivos, corta e descarta tudo que ele não precisa, deixando apenas o que será um elemento do filme finalizado, o que se provará integral à imagem cinematográfica.