Já ouviu falar sobre os Quatro Cavaleiros do Apocalipse? Trata-se de uma metáfora que descreve o fim dos tempos no Novo Testamento. Eles simbolizam, respectivamente, a conquista, a guerra, a fome e a morte. Podemos utilizar-nos de tal metáfora para descrever estilos de comunicação que, conforme nossa pesquisa indica, podem prever o término ou o insucesso de relacionamentos amorosos, de amizades ou de relações de cordialidade.
O primeiro estilo de comunicação falho é a crítica. Criticar seu parceiro é diferente de oferecer uma crítica construtiva ou expressar uma queixa. Estas últimas dizem respeito a questões específicas, enquanto a primeira é um ataque direto à essência do caráter de uma pessoa. De fato, ao criticar, você está desconstruindo o ser íntimo do seu parceiro.
O crucial é compreender a diferença entre expressar uma queixa e criticar dentro de relacionamentos:
Se perceber que você e seu parceiro estão constantemente criticando um ao outro, não acredite que seu relacionamento está fadado ao fracasso. O problema da crítica é que, quando se torna uma constante, abre caminho para os outros cavaleiros, ainda mais destrutivos, seguirem. Ela faz a vítima se sentir agredida, rejeitada e magoada, e frequentemente leva tanto o perpetrador quanto a vítima a uma espiral crescente de conflitos, culminando no desprezo.
O segundo cavaleiro é o desprezo. Quando nos comunicamos com desprezo, somos verdadeiramente cruéis – tratamos os outros com desrespeito, zombamos com sarcasmo, ridicularizamos, usamos nomes pejorativos e mimetizamos ou empregamos linguagem corporal desdenhosa, como revirar os olhos ou debochar. O alvo do desprezo é levado a se sentir menosprezado e insignificante.
O desprezo ultrapassa em muito a crítica. Enquanto a crítica ataca o caráter do seu parceiro, o desprezo assume uma posição de superioridade moral sobre ele:
“Você está ‘cansado(a)? Ah, vá. Eu estive com as crianças o dia todo, esforçando-me ao máximo para manter esta casa em ordem, e tudo que você faz quando chega do trabalho é se jogar no sofá como uma criança e jogar esses videogames tolos. Não tenho tempo para cuidar de mais uma criança. Você poderia ser mais patético(a)?”
Pesquisas até mostram que casais que usam do desprezo um com o outro têm maior probabilidade de sofrer de doenças infecciosas (resfriados, gripes, etc.) do que outros devido a sistemas imunológicos debilitados.
O desprezo é alimentado por pensamentos negativos sobre o parceiro que se acumulam ao longo do tempo e explodem quando o agressor ataca o acusado de uma posição de superioridade. E, mais importante ainda, é o maior indicador de relacionamentos fracassados e de divórcios. Portanto, precisa ser eliminado.
O terceiro cavaleiro é a defensividade, comumente uma reação à crítica. Todos nós já fomos defensivos, e este cavaleiro é quase onipresente quando os relacionamentos estão em crise. Quando nos sentimos injustamente acusados, buscamos desculpas e adotamos o papel de vítima inocente, esperando que nosso parceiro desista da acusação.
Lamentavelmente, esta estratégia raramente é bem-sucedida. Nossas desculpas apenas sinalizam ao parceiro que não levamos suas preocupações a sério e que não assumiremos responsabilidade por nossos erros:
Este parceiro não apenas responde de forma defensiva, mas também inverte a culpa, tentando fazer parecer que é culpa é do outro. Em contraste, uma resposta não defensiva pode expressar aceitação de responsabilidade, admissão de erro e compreensão da perspectiva do parceiro:
Embora seja perfeitamente compreensível defender-se quando se está sob pressão e se sentindo atacado, este enfoque não produzirá o efeito desejado. A defensividade apenas intensificará o conflito se o cônjuge crítico não recuar ou pedir desculpas. Isso porque a defensividade é, na realidade, uma forma de culpar o parceiro, e ela não permite uma gestão saudável do conflito.
O quarto cavaleiro é o tratamento do silêncio, frequentemente uma reação ao desprezo. O tratamento do silêncio ocorre quando alguém se retira da interação, se fecha e simplesmente para de responder ao parceiro. Ao invés de confrontar os problemas com o parceiro, aqueles que se afastam podem adotar manobras evasivas como se desligar, virar-se, parecer ocupado ou se envolver em comportamentos obsessivos ou distrativos.
Leva tempo para que a negatividade criada pelos três primeiros cavaleiros se torne avassaladora a ponto de o tratamento se tornar uma saída “compreensível”, mas, quando ocorre, muitas vezes se transforma em um péssimo hábito. E, infelizmente, o tratamento de silêncio não é fácil de ser interrompido. Ele é resultado de um sentimento de inundação fisiológica, e quando obstruímos, podemos nem estar em um estado fisiológico que nos permita discutir as coisas racionalmente.
Se sentir que está prestes a apelar a esse mecanismo durante um conflito, interrompa a discussão e peça um intervalo ao parceiro:
Em seguida, dedique 20 minutos a fazer algo sozinho que o(a) acalme — leia um livro ou revista, dê um passeio, corra um pouco, ou qualquer atividade que o(a) ajude a se desligar — e depois retorne à conversa quando se sentir pronto(a).
Esse texto foi publicado originalmente no site The Gottman Institute, e é de autoria de Ellie Lisitsa.
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