Está provado que o futebol pode ir além do entretenimento

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O ato encabeçado pelo Corinthians, por toda sua significação, não teve a repercussão devida. A carta publicada pelo clube paulista contra a homofobia, com o pedido veemente para sua torcida não xingar jogadores rivais com o grito de “bicha”, foi uma atitude grandiosa. Pode ser comparado, a meu ver, com o que fez o Vasco em 1924.

Mais uma vez o futebol brasileiro serviu como porta-voz social.

Não sou ingênuo, mas espero que o ato corintiano tenha sido encabeçado mais pela vontade de brigar contra a discriminação de gênero ou opção sexual, do que propriamente pela tentativa de se resguardar de eventuais punições do STJD, assim como aconteceu com o Grêmio na Copa do Brasil.

De qualquer forma, é para se aplaudir a atitude, sobretudo por ter sido motivada por um clube conhecido por ter uma torcida preconceituosa contra gays.

O Corinthians poderia ir ainda mais além e fazer como o Bayern de Munique. O clube alemão pune os torcedores que descumprem recomendações com a proibição de adentrarem o estádio do time pelo resto da vida. A dura ação foi motivada por conta de um cartaz homofóbico contra a torcida do Arsenal, em jogo válido pela Liga dos Campeões no começo deste ano.

Assim como o Timão desta vez, há 90 anos o Vasco se manifestou, também por meio de uma carta, contra a discriminação. Mais precisamente contra o racismo.

Foi uma resposta enviada pelo clube à diretoria da extinta Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, a Amea. No documento o Vasco anunciou que entre a opção de ter de excluir 12 atletas negros e pobres sob pena de não ser aceito nessa liga, o clube preferia não participar da Amea.

Este ato ficou conhecido como “Resposta Histórica” e o material assinado pelo então presidente José Augusto Prestes é considerado como a Lei Áurea do Futebol Brasileiro.

Vale lembrar que o Brasil teve 350 anos de escravidão e foi o último país da América a romper com o modelo. Fato que faz com que preconceitos raciais e sociais estejam fortemente arraigados na sociedade brasileira até hoje.

Por tal, precisamos cada vez mais de manifestações contra preconceitos raciais e sexuais.

É por isso que a atitude de Vasco e Corinthians deram mostras que o futebol pode servir como instrumento de educação e reviravolta para a triste e cruel discriminação que existe em nossa sociedade e que não é exclusividade do mundo do futebol.

Por tudo isso, parabenizo o Corinthians pela iniciativa!

Felipe Piccoli

Felipe Piccoli é especializado em jornalismo esportivo desde 2008. Com passagens pela Rádio Bandeirantes e pelo jornal Marca Brasil, hoje ele é coordenador de reportagem da Band.

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