Estamos ansiosos pela 2ª temporada de “House of Cards”

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E então estamos a poucos dias do início da segunda temporada de House of Cards, o seriado da Netflix sobre o mundo político, econômico e jornalístico americano.

Dia 14 está no ar.

Ótima notícia. House of Cards não é apenas entretenimento. É uma aula sobre os Estados Unidos como eles são.

Você assiste e no final entende por que os Estados Unidos estão num declínio tão dramático.

Nada presta. Ninguém tem caráter ou causa que não seja a própria. É uma caricatura, talvez você pode dizer. Mas o mundo de HC se parece muito com a realidade conhecida dos Estados Unidos.

HC é a versão americana de uma brilhante série inglesa dos anos 90, claramente inspirada na era Thatcher. Se puder, veja a original também.

Frank Underwood, deputado vivido por Kevin Spacey, é um canalha fundamental. Passado para trás pelo presidente eleito, que lhe prometera o cargo de secretário de Estado, ele se revolta e decide sabotar a administração, a começar pelo homem que foi escolhido em seu lugar.

Para isso, ele escolhe uma jornalista jovem e já completamente corrompida antes de assinar sua primeira reportagem.

Ela faz sexo com Frank em troca de furos. É o tipo de jornalismo mais abominável: aquele em que você recebe uma informação claramente interessada, repleta de más intenções.

Pulitzer dizia que jornalista não tem amigo. Muito menos amante. Envolvimentos pessoais geram compromissos complicados. Os brasileiros viram há pouco tempo isso nas estreitas relações entre Cachoeira e Policarpo.

Frank está, simbolicamente, sodomizando o jornalismo na figura da repórter.

Para quem gosta de ver bastidor de redação, HC mostra o quanto são impotentes os diretores de redação diante dos proprietários.

Numa cena, a dona do jornal diz ao diretor que dê na primeira página um texto da repórter que tem um caso com Frank. Ele reluta, e diz que vai pensar. “Pense bastante e depois publique”, ela diz.

Noutra cena, o diretor tenta demitir a garota, que caíra na simpatia da dona por causa dos furos passados por Frank. Quem acaba demitido é ele.

Claire, a mulher de Frank, é tão amoral quanto ele. Comanda, paradoxalmente, uma empresa que vive de doações para projetos filantrópicos.

Um dia ela decide promover uma demissão coletiva. Sua adjunta, atormentada, tenta demovê-la uma, duas, várias vezes. Em vão. É ela, a adjunta, que é forçada a comunicar as demissões.

No dia seguinte, feito o trabalho sujo, Claire a manda embora sumariamente.

No ano passado, vi Borgen, um seriado político escandinavo muito bom. Os mesmos elementos, essencialmente – poder, dinheiro e jornalismo.

Mas havia dignidade em vários personagens.

Em HC, não há nenhum senso de moral. Você se pergunta: que estes caras estão fazendo no mundo?

E você entende, também, por que os Estados Unidos estão onde estão – num buraco sem volta.

Paulo Nogueira

Paulo Nogueira (1956-2017) é o pai de Pedro Nogueira, editor-chefe do El Hombre. "Ele foi meu herói", diz Pedro. "E continua sendo." Ao longo da carreira, dirigiu várias revistas da Abril e da Globo. Também escreveu artigos para o El Hombre que, frequentemente, reeditamos e republicamos no site.

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