O vídeo que faz parte deste artigo é emocionante por diversos motivos. Não somente ao se observar o médico segurando o choro quando conta do sucesso de sua técnica; também não só pela criança que faz parte do vídeo, mostrando sua luta por uma recuperação; mas sim, pela inacreditável possibilidade de utilizar um vírus, o HIV, que provocou e vem provocando tantas mortes no mundo desde a década de 80, ser utilizado para combater uma das doenças mais preocupantes da atualidade: o câncer.
Dr. Carl June, o homem por trás desta técnica, possui um currículo impressionante. Ele é diretor de pesquisa translacional do Abramson Cancer Center, na Universidade da Pensilvânia, investigador do instituto de pesquisa de câncer da Família Abramson, especialista em imunologia e pós-doutor em biologia de transplante. E, nos últimos vinte anos de sua carreira, vem desenvolvendo a pesquisa que culminou nesta técnica revolucionária.
A técnica foi testada em 5 crianças e 12 adultos; a garota mostrada, Emma, que ficou curada de sua doença, é um exemplo dos seus resultados promissores. Apenas aqueles com leucemia linfocítica crônica em estágio terminal e sem mais possibilidades de tratamento foram submetidos aos testes. Os cientistas pegaram uma de suas células de defesa – as células T, as mesmas que o HIV infecta com facilidade e destrói na AIDS – e permitiram que vírus da AIDS geneticamente modificados as invadissem. Uma vez lá, os vírus levaram um antígeno – um “código” expresso pelas células mutadas da leucemia – e “alertaram” as células de defesa para que pudessem atacar aquelas que tivessem este código.
Em seguida, as células modificadas foram introduzidas na corrente sanguínea dos pacientes. E, uma vez identificando seus alvos, elas não só se ligaram e mataram as células cancerígenas, como também começaram a se reproduzir em grande velocidade, formando um verdadeiro exército de defesa.
A técnica ainda está no começo. Falta saber qual a dosagem adequada de células, por quanto tempo se manterá a remissão da doença, se serão necessárias novas aplicações… Entretanto, após os primeiros achados, publicados em 2011, com o relato de 3 pacientes, grandes laboratórios como a Novartis estão investindo pesado, apesar de não terem prestado qualquer atenção à pesquisa até então. E o professor June está bastante otimista: espera que, com isso, se consiga o tratamento para cânceres terríveis, como de pulmão e ovário.
No futuro, olharemos para cirurgias, quimioterapia e radioterapia como técnica medievais para o tratamento do câncer, assim como olhamos para a trepanação para curar a loucura? É possível que sim.