Você faria qualquer coisa para se livrar da depressão ou dos cigarros? E se a libertação viesse em forma de um capacete meio estranho, você usaria a tecnologia contra os males?
Abraham Zangen e Yiftach Roth são dois cientistas de Israel que terão seus nomes mundialmente conhecidos caso sua criação — no mínimo curiosa e no máximo importantíssima — dê certo: um capacete que emite ondas magnéticas para o cérebro. A diferença desse equipamento é que ele se utiliza de uma técnica (Estimulação Transcraniana Magnética Profunda, em inglês Deep TMS) não invasiva para alcançar regiões profundas do cérebro. Ele é capaz de enviar essas ondas magnéticas em alta frequência às partes mais profundas do nosso aparelho mental, que hoje só são acessadas por meio de cirurgias ou choques elétricos.
A técnica é estudada há muito tempo e a ideia do capacete surgiu há mais de uma década, mas só agora o desenvolvimento do equipamento está sendo concluído. Experiências já foram realizadas em mais de 3 mil pessoas pelo mundo. Os resultados mostraram efeitos positivos nos indivíduos depressivos e fumantes. Além disso, o tratamento ainda pode ser eficaz em problemas como Parkinson, Alzheimer, autismo, drogas, bipolaridade e distúrbio obsessivo-compulsivo, segundo um dos autores da engenhoca. O chefe do laboratório de Neurociência da Universidade de Ben Gurion, em Israel, Abraham Zanger, disse à BBC que “para cada problema é criado um capacete diferente, adaptado para transmitir as ondas magnéticas às áreas relevantes do cérebro”.
No Hospital de Shalvata, localizado no mesmo país, a tecnologia já está sendo utilizada. O psiquiatra Hilik Lewkovitz, que trabalha no local, revelou à BBC que “o número de pacientes que reagiram de maneira positiva a esse tratamento é significativo” e ainda acrescentou que a tecnologia é revolucionária, pois “não é invasiva, tem poucos efeitos colaterais e apresenta resultados positivos no tratamento de vários distúrbios psiquiátricos”.
Para aqueles que preferem os números, uma pesquisa realizada pelo hospital Beer Yakov revelou que 32,6% dos tratados se livraram totalmente da depressão e 38,4% tiveram uma melhora considerável. Quanto aos fumantes, a bióloga e diretora de uma pesquisa com o equipamento disse que 44% dos indivíduos que passaram pelo tratamento pararam de fumar. Além desse ótimo resultado, a moça ainda contou à BBC que não houve danos cognitivos e que “em alguns pacientes até observamos uma melhora cognitiva”. Para aqueles que não pararam com o vício, 80% diminuíram o hábito pela metade. São números impressionantes.
Ainda não há previsões para que o capacete chegue ao Brasil, mas a técnica de Estimulação Transcraniana Magnética Profunda tem núcleos de estudos em nosso país. No Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, médicos testam o método em pacientes que se mostram interessados conseguindo resultados animadores. Já na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) uma pesquisa realizada com dependentes de cocaína conseguiu reduzir o consumo da droga em 60% — mais do que se consegue com remédios. Esses tratamentos, no entanto, não utilizam o capacete dos cientistas israelitas, mas um outro equipamento.
Mas se você está pensando que vai ter que ir à balada com esse capacete estranho, não se preocupe, pois ele é apenas parte de uma máquina utilizada em tratamentos realizados por sessões. E aí, cowboy, você usaria?
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